Um bife mal passado

11-09-2010
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África, Europa e China África, Europa e China 17:56 Sexta feira, 25 de Junho de 2010 África é um dos continentes emergentes deste século, por isso cada vez mais importante para empresas portuguesas e britânicas, e para os nossos governos também. Mas será que há ali espaço para nós e para os chineses também? Portugal e o Reino Unido são dois dos países europeus com mais ligações a África; um continente com enorme diversidade que tem sido fonte de riqueza, aventura e, às vezes, mesmo de conflito entre nós. Nunca esqueço que na letra do vosso hino nacional os canhões contra os quais vocês marcham eram nossos.

Mas, hoje em dia, no mundo pós-colonial as perspectivas são diferentes; o que os nossos dois países estão a tentar fazer é muito parecido - promover prosperidade e paz nos países africanos, sejam anglófonos, lusófonos ou outros. E fazêmo-lo muitas vezes em parceria, num contexto multilateral, quer da União Europeia quer das Nações Unidas.

Então, a era do conflito entre países colonialistas terminou, há muito tempo. E uma outra era de conflito, entre Ocidente e Bloco Soviético, que produziu resultados desastrosos (Mobutu) também já terminou. Mas será que África vai ser vítima dum novo conflito entre Ocidente e China, desta vez não ideológico, mas comercial sobre minerais?

Não há dúvidas da riqueza natural dum continente que tem 10% das reservas mundiais de petróleo, 30% das reservas minerais (incluindo de alguns metais cada vez mais procurados para produtos de alta tecnologia) e 40% das reservas de ouro. E, também, não há dúvida do facto que o potencial económico e humano de África está cada vez mais a tornar-se uma realidade. O continente cresceu cerca de 5% por ano durante a última década, e o investimento estrangeiro em África foi quase igual ao feito na China!

Uma das razões para África ter crescido tanto nos últimos anos é o comércio e o investimento chinês; que cresceu cerca de dez vezes em dez anos. No debate sobre África no qual participei esta semana no Porto, organizado pelo Clube Via Norte e pelo CHRIS , debatemos esta questão. Será que a Europa está a perder o comboio em África? Será que devemos ser mais "chineses" na nossa abordagem a África? Algumas respostas.

Primeiro, a Europa não é a China. Somos 27 democracias diferentes.

Segundo, será que a Europa pode ser a China? Duvido. Vamos continuar a ser estados diferentes, com tradições diferentes.

Terceiro, será que queremos ser a China? Não me cabe a mim responder pelos outros, mas gosto da nossa maneira de ser e de governar. E de como continuamos como país a aumentar a nossa ajuda ao desenvolvimento - até 0.7% do PIB - apesar de todas as reduções orçamentais no Reino Unido. Os nossos contribuintes vão continuar a considerar este dinheiro bem gasto.

Finalmente, será que temos que ser como a China para ter êxito em África? Também acho que não; há espaço, como sempre houve, para diversos estilos de lidar com África. São os africanos a decidir com quem querem trabalhar.

Nunca devemos esquecer o elemento humano das nossas relações com África; profundíssimos no caso português, desde há muito tempo. Onde há um africano, há um português perto. Recordo-me de uma vez estar no meio do nada no Darfur e ouvir uma voz gritar "bom dia" numa estação de distribuição de ajuda alimentar. E o fluxo faz-se nos dois sentidos. Dos jogadores das equipas africanas no Mundial, 77% jogam em ligas europeias.

Todos nos interessamos mais por África, por muitas razões. Mas, afinal, apesar de todo este interesse, os africanos são e devem ser donos dos seus próprios destinos. "African solutions for African problems"; podemos facilitar estas soluções - mas não podemos, nem devemos, tomá-las.

África, Europa e China África, Europa e China 17:56 Sexta feira, 25 de Junho de 2010 África é um dos continentes emergentes deste século, por isso cada vez mais importante para empresas portuguesas e britânicas, e para os nossos governos também. Mas será que há ali espaço para nós e para os chineses também? Portugal e o Reino Unido são dois dos países europeus com mais ligações a África; um continente com enorme diversidade que tem sido fonte de riqueza, aventura e, às vezes, mesmo de conflito entre nós. Nunca esqueço que na letra do vosso hino nacional os canhões contra os quais vocês marcham eram nossos.

Mas, hoje em dia, no mundo pós-colonial as perspectivas são diferentes; o que os nossos dois países estão a tentar fazer é muito parecido - promover prosperidade e paz nos países africanos, sejam anglófonos, lusófonos ou outros. E fazêmo-lo muitas vezes em parceria, num contexto multilateral, quer da União Europeia quer das Nações Unidas.

Então, a era do conflito entre países colonialistas terminou, há muito tempo. E uma outra era de conflito, entre Ocidente e Bloco Soviético, que produziu resultados desastrosos (Mobutu) também já terminou. Mas será que África vai ser vítima dum novo conflito entre Ocidente e China, desta vez não ideológico, mas comercial sobre minerais?

Não há dúvidas da riqueza natural dum continente que tem 10% das reservas mundiais de petróleo, 30% das reservas minerais (incluindo de alguns metais cada vez mais procurados para produtos de alta tecnologia) e 40% das reservas de ouro. E, também, não há dúvida do facto que o potencial económico e humano de África está cada vez mais a tornar-se uma realidade. O continente cresceu cerca de 5% por ano durante a última década, e o investimento estrangeiro em África foi quase igual ao feito na China!

Uma das razões para África ter crescido tanto nos últimos anos é o comércio e o investimento chinês; que cresceu cerca de dez vezes em dez anos. No debate sobre África no qual participei esta semana no Porto, organizado pelo Clube Via Norte e pelo CHRIS , debatemos esta questão. Será que a Europa está a perder o comboio em África? Será que devemos ser mais "chineses" na nossa abordagem a África? Algumas respostas.

Primeiro, a Europa não é a China. Somos 27 democracias diferentes.

Segundo, será que a Europa pode ser a China? Duvido. Vamos continuar a ser estados diferentes, com tradições diferentes.

Terceiro, será que queremos ser a China? Não me cabe a mim responder pelos outros, mas gosto da nossa maneira de ser e de governar. E de como continuamos como país a aumentar a nossa ajuda ao desenvolvimento - até 0.7% do PIB - apesar de todas as reduções orçamentais no Reino Unido. Os nossos contribuintes vão continuar a considerar este dinheiro bem gasto.

Finalmente, será que temos que ser como a China para ter êxito em África? Também acho que não; há espaço, como sempre houve, para diversos estilos de lidar com África. São os africanos a decidir com quem querem trabalhar.

Nunca devemos esquecer o elemento humano das nossas relações com África; profundíssimos no caso português, desde há muito tempo. Onde há um africano, há um português perto. Recordo-me de uma vez estar no meio do nada no Darfur e ouvir uma voz gritar "bom dia" numa estação de distribuição de ajuda alimentar. E o fluxo faz-se nos dois sentidos. Dos jogadores das equipas africanas no Mundial, 77% jogam em ligas europeias.

Todos nos interessamos mais por África, por muitas razões. Mas, afinal, apesar de todo este interesse, os africanos são e devem ser donos dos seus próprios destinos. "African solutions for African problems"; podemos facilitar estas soluções - mas não podemos, nem devemos, tomá-las.

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