Pó dos Livros: Mau prenúncio

28-05-2010
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É mau prenúncio quando percebemos o fim de um livro logo no seu começo. Principalmente quando não nos referimos ao seu epílogo.Pais e Mães, aonde ides? Para onde levais os Vossos Filhos? Por que Caminhos?São estas as perguntas com que abre o livro editado pela Fronteira do Caos e de título “sugestivo” Pais e Mães, a Educação dos Pequenos Homens e Mulheres. Dos seus autores, Cidália Laranjo e Francisco de Almeida Garrett, nada sabemos, porque nada no livro está escrito sobre eles. Como se esta lacuna fosse a demonstração plena da vergonha que sentem pelo que escrevem, ou, por outro lado, e não querendo parecer parcial, por ser este apenas um gesto da mais exemplar humildade. O livro abre em forma de carta, anunciando-nos uma palestra dividida em 350 pontos.Não é papel do livreiro fazer considerações sobre o conteúdo de um livro, embora, enquanto cidadão, tenha o direito de o fazer. Mas, infelizmente ou felizmente, não me ocorrem neste preciso momento os adjectivos necessários para o qualificar. Deixo-vos com alguns dos pontos desta palestra. Cada um que julgue por si.74. Os rapazes devem ser habituados desde a meninice a cultivar o cavalheirismo e é importante que tenham sempre na ponta da língua palavras como bom dia, por favor, com prazer, obrigado, desculpe.76. Já as raparigas – emancipadas, sim, mas não da virtude – devem ser ensinadas a comportar-se de acordo com a sua dignidade, exigindo as honras que são devidas à sua delicadeza feminina, em vez de se aproveitarem, ou de se tornarem injustas por presunção, quando são alvo da deferência que a sua nobre condição impõe, acrescida, ou não, de circunstâncias particulares de afecto.164. Hoje, todos os meninos vão à escola, por força de uma imposição legal que não tomou em conta que muita ciência em muita miudagem não compensa a ausência de virtude, ao passo que pouca ciência em pouca miudagem basta para formar corações rectos. É bem preferível a ignorância do que pseudo-conhecimentos que tornam os jovens interiormente piores.196. Não os deixeis ler, em vez dos clássicos, as desgraças disseminadas por todo o lado, num tempo em que a própria literatura infantil, que outrora apelava à responsabilidade e ao bom sentimento, está agora repleta de criaturas ociosas, mulheres quase nuas, homens que voam e de todo um cortejo patético de inverosimilhanças.199. A ignorância escandalosa dos estudantes modernos deriva muito do facto de só terem psicologia “pop” para meditar. São cada vez mais iguais entre si, não porque o desejem, mas pelo facto de não conseguirem ser de outro modo, e por isso procuram diferenciar-se uns dos outros pintando o cabelo de cores garridas, furando as orelhas, vestindo os paramentos mais ousados, embelezando o corpo de todas as formas e, enfim, investindo somente em factores de ordem externa. 206. Por entre tatuagens, brincos, roupas ousadas e comportamentos que nem os cães costumam ter na via pública, dificilmente o pensamento dos jovens se fixa em alguma coisa, sendo notória a incapacidade que revelam de raciocinar e de estruturar discursos com sentido.edição: Fronteira do Caos (Março 2010)Jaime Bulhosa


É mau prenúncio quando percebemos o fim de um livro logo no seu começo. Principalmente quando não nos referimos ao seu epílogo.Pais e Mães, aonde ides? Para onde levais os Vossos Filhos? Por que Caminhos?São estas as perguntas com que abre o livro editado pela Fronteira do Caos e de título “sugestivo” Pais e Mães, a Educação dos Pequenos Homens e Mulheres. Dos seus autores, Cidália Laranjo e Francisco de Almeida Garrett, nada sabemos, porque nada no livro está escrito sobre eles. Como se esta lacuna fosse a demonstração plena da vergonha que sentem pelo que escrevem, ou, por outro lado, e não querendo parecer parcial, por ser este apenas um gesto da mais exemplar humildade. O livro abre em forma de carta, anunciando-nos uma palestra dividida em 350 pontos.Não é papel do livreiro fazer considerações sobre o conteúdo de um livro, embora, enquanto cidadão, tenha o direito de o fazer. Mas, infelizmente ou felizmente, não me ocorrem neste preciso momento os adjectivos necessários para o qualificar. Deixo-vos com alguns dos pontos desta palestra. Cada um que julgue por si.74. Os rapazes devem ser habituados desde a meninice a cultivar o cavalheirismo e é importante que tenham sempre na ponta da língua palavras como bom dia, por favor, com prazer, obrigado, desculpe.76. Já as raparigas – emancipadas, sim, mas não da virtude – devem ser ensinadas a comportar-se de acordo com a sua dignidade, exigindo as honras que são devidas à sua delicadeza feminina, em vez de se aproveitarem, ou de se tornarem injustas por presunção, quando são alvo da deferência que a sua nobre condição impõe, acrescida, ou não, de circunstâncias particulares de afecto.164. Hoje, todos os meninos vão à escola, por força de uma imposição legal que não tomou em conta que muita ciência em muita miudagem não compensa a ausência de virtude, ao passo que pouca ciência em pouca miudagem basta para formar corações rectos. É bem preferível a ignorância do que pseudo-conhecimentos que tornam os jovens interiormente piores.196. Não os deixeis ler, em vez dos clássicos, as desgraças disseminadas por todo o lado, num tempo em que a própria literatura infantil, que outrora apelava à responsabilidade e ao bom sentimento, está agora repleta de criaturas ociosas, mulheres quase nuas, homens que voam e de todo um cortejo patético de inverosimilhanças.199. A ignorância escandalosa dos estudantes modernos deriva muito do facto de só terem psicologia “pop” para meditar. São cada vez mais iguais entre si, não porque o desejem, mas pelo facto de não conseguirem ser de outro modo, e por isso procuram diferenciar-se uns dos outros pintando o cabelo de cores garridas, furando as orelhas, vestindo os paramentos mais ousados, embelezando o corpo de todas as formas e, enfim, investindo somente em factores de ordem externa. 206. Por entre tatuagens, brincos, roupas ousadas e comportamentos que nem os cães costumam ter na via pública, dificilmente o pensamento dos jovens se fixa em alguma coisa, sendo notória a incapacidade que revelam de raciocinar e de estruturar discursos com sentido.edição: Fronteira do Caos (Março 2010)Jaime Bulhosa

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