A Apple está hoje em melhores condições para conseguir sobreviver sem Steve Jobs

06-02-2011
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No início de 2009, soube-se que o presidente executivo da Apple, Steve Jobs, iria ficar afastado da empresa durante seis meses. Só bastante mais tarde é que se soube o porquê: o carismático líder da empresa tinharecebido um transplante de fígado. Acabou por voltar em Junho desse ano, em regime de part-time.

Esta semana, novo anúncio: Steve Jobs irá ausentar-se da Apple, com baixa médica e por tempo indeterminado. Coloca-se, então, uma questão: existe alguma diferença entre os dois anúncios? Para Bill Fischer, professor de Gestão e Tecnologia na escola de negócios suíça IMD, a resposta é sim. "Este anúncio foi mais fácil de fazer do que o anterior, ou mais fácil de nós o entendermos", afirmou, em declarações por escrito ao PÚBLICO.

"Infelizmente, problemas de saúde como o que afecta Steve Jobs estão sempre envoltos em constantes desafios e todos nós temos essa noção, pelo que uma recaída não constitui uma grande surpresa. Acredito, também, que existe uma certa sensação de confiança de que Tim Cook e a sua equipa podem entrar em cena e assumir a liderança sem consequências catastróficas".

O próprio anúncio da ausência de Steve Jobs teve um timing perfeito, já que surgiu no dia 17, em que as bolsas norte-americanas estiveram encerradas devido a um feriado, e em vésperas de apresentação de resultados trimestrais, com uma enorme subida ao nível das vendas e dos lucros. Coincidência? Nem por isso, analisa Fisher, que diz ter havido uma "estratégia de controlo de danos ao mais alto nível" para "minimizar o impacto" do anúncio.

Mesmo assim, para Fischer, a empresa está hoje em melhores condições para trabalhar sem Steve Jobs do que no passado, até porque já passou por um episódio idêntico. Tim Cook, director de operações da empresa, já assumiu as rédeas da Apple na ausência de Jobs, e poderá voltar a fazer o mesmo. "É verdade que Steve Jobs é incomparável, mas não é insubstituivel. A empresa pode continuar a avançar na sua ausência. Em última instância, a Apple será diferente sem Jobs, mas a sustentabilidade de uma organização requer mais evolução contínua do que replicação constante", diz Fisher.

Aliás, para este professor da IMD, assumido aficionado da Apple, este episódio é mais um exemplo de continuidade do que de separação. "O que torna Steve Jobs tão fantástico é a multiplicidade de papéis que assume na Apple. A empresa irá avançar na sua ausência com uma equipa de vários líderes que irão representar essas funções, que deixam de estar concentradas numa só pessoa".

Com Jobs de novo ausente por baixa médica, não seria melhor nomear Cook para o substituir, de forma definitiva? Rosa Chun, também da IMD, mas ligada à área de reputação empresarial, defende que isso não deve ser feito "imediatamente", mas que há um prazo que terá de ser cumprido. "Quanto mais cedo a Apple comunicar o plano de sucessão de Jobs, melhores oportunidades tem de manter a sua reputação durante o processo de mudança", diz. E acrescenta que "qualquer demora superior a um ano irá criar insegurança entre os funcionários, que se traduzirá numa quebra de confiança entre os investidores e os clientes". Caso Jobs esteja de facto de saída, a melhor altura para anunciar o plano de sucessão será na altura do lançamento do iPad 2, na primeira metade de 2011, analisa Rosa Chun.

Olhando para a sucessão, a Apple testou com sucesso o papel de Tim Cook, mas "parece ser preciso mais atenção para dizer com certeza que ele é "a" pessoa para "o" cargo", remata Chun. Para ela, a empresa deve "manter Steve Jobs como parte da herança da marca, independentemente do seu papel, e fazer uma transição gradual" além de lembrar os seus clientes "de que a sua ligação à marca e a Jobs é valorizada pelo seu novo CEO".

Com ou sem Jobs, a empresa vai continuar, tal como os seus desafios. E estes, diz Fisher, passam pelas apostas que a empresa fez quando construiu o futuro "nos mercados que ela própria desestabilizou". Nos smartphones e nos tablets, por exemplo, "a Apple causou rupturas, destituindo os líderes bem posicionados no mercado, com ofertas criativas". E quando estas rupturas acontecem, "ninguém pode garantir o que vem a seguir e quem será beneficiado no final".

Assim, o principal desafio da Apple parece ser a própria Apple. Com Pedro Crisóstomo

No início de 2009, soube-se que o presidente executivo da Apple, Steve Jobs, iria ficar afastado da empresa durante seis meses. Só bastante mais tarde é que se soube o porquê: o carismático líder da empresa tinharecebido um transplante de fígado. Acabou por voltar em Junho desse ano, em regime de part-time.

Esta semana, novo anúncio: Steve Jobs irá ausentar-se da Apple, com baixa médica e por tempo indeterminado. Coloca-se, então, uma questão: existe alguma diferença entre os dois anúncios? Para Bill Fischer, professor de Gestão e Tecnologia na escola de negócios suíça IMD, a resposta é sim. "Este anúncio foi mais fácil de fazer do que o anterior, ou mais fácil de nós o entendermos", afirmou, em declarações por escrito ao PÚBLICO.

"Infelizmente, problemas de saúde como o que afecta Steve Jobs estão sempre envoltos em constantes desafios e todos nós temos essa noção, pelo que uma recaída não constitui uma grande surpresa. Acredito, também, que existe uma certa sensação de confiança de que Tim Cook e a sua equipa podem entrar em cena e assumir a liderança sem consequências catastróficas".

O próprio anúncio da ausência de Steve Jobs teve um timing perfeito, já que surgiu no dia 17, em que as bolsas norte-americanas estiveram encerradas devido a um feriado, e em vésperas de apresentação de resultados trimestrais, com uma enorme subida ao nível das vendas e dos lucros. Coincidência? Nem por isso, analisa Fisher, que diz ter havido uma "estratégia de controlo de danos ao mais alto nível" para "minimizar o impacto" do anúncio.

Mesmo assim, para Fischer, a empresa está hoje em melhores condições para trabalhar sem Steve Jobs do que no passado, até porque já passou por um episódio idêntico. Tim Cook, director de operações da empresa, já assumiu as rédeas da Apple na ausência de Jobs, e poderá voltar a fazer o mesmo. "É verdade que Steve Jobs é incomparável, mas não é insubstituivel. A empresa pode continuar a avançar na sua ausência. Em última instância, a Apple será diferente sem Jobs, mas a sustentabilidade de uma organização requer mais evolução contínua do que replicação constante", diz Fisher.

Aliás, para este professor da IMD, assumido aficionado da Apple, este episódio é mais um exemplo de continuidade do que de separação. "O que torna Steve Jobs tão fantástico é a multiplicidade de papéis que assume na Apple. A empresa irá avançar na sua ausência com uma equipa de vários líderes que irão representar essas funções, que deixam de estar concentradas numa só pessoa".

Com Jobs de novo ausente por baixa médica, não seria melhor nomear Cook para o substituir, de forma definitiva? Rosa Chun, também da IMD, mas ligada à área de reputação empresarial, defende que isso não deve ser feito "imediatamente", mas que há um prazo que terá de ser cumprido. "Quanto mais cedo a Apple comunicar o plano de sucessão de Jobs, melhores oportunidades tem de manter a sua reputação durante o processo de mudança", diz. E acrescenta que "qualquer demora superior a um ano irá criar insegurança entre os funcionários, que se traduzirá numa quebra de confiança entre os investidores e os clientes". Caso Jobs esteja de facto de saída, a melhor altura para anunciar o plano de sucessão será na altura do lançamento do iPad 2, na primeira metade de 2011, analisa Rosa Chun.

Olhando para a sucessão, a Apple testou com sucesso o papel de Tim Cook, mas "parece ser preciso mais atenção para dizer com certeza que ele é "a" pessoa para "o" cargo", remata Chun. Para ela, a empresa deve "manter Steve Jobs como parte da herança da marca, independentemente do seu papel, e fazer uma transição gradual" além de lembrar os seus clientes "de que a sua ligação à marca e a Jobs é valorizada pelo seu novo CEO".

Com ou sem Jobs, a empresa vai continuar, tal como os seus desafios. E estes, diz Fisher, passam pelas apostas que a empresa fez quando construiu o futuro "nos mercados que ela própria desestabilizou". Nos smartphones e nos tablets, por exemplo, "a Apple causou rupturas, destituindo os líderes bem posicionados no mercado, com ofertas criativas". E quando estas rupturas acontecem, "ninguém pode garantir o que vem a seguir e quem será beneficiado no final".

Assim, o principal desafio da Apple parece ser a própria Apple. Com Pedro Crisóstomo

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