Israelitas acompanham a situação no Egipto com espanto e temor

04-02-2011
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O que está a acontecer no Egipto foi visto com incredulidade por todo o mundo, mas num sítio em especial: Israel. "Ainda há uma semana não havia ninguém, absolutamente ninguém, nem sequer nos serviços secretos, que previsse o que está a acontecer", disse, em declarações ao PÚBLICO, Shmuel Bachar, investigador do centro de Herzliya, Israel, um think tank dedicado a questões de segurança e diplomacia.

Em Israel os jornais estavam cheios de análises sobre o que poderia acontecer no Egipto, um dos únicos dois países árabes com quem tem tratado de paz (o outro é a Jordânia). "Durante os últimos 30 anos tomámos a cooperação com o Egipto como garantida", sublinhou Bachar. "Mas agora tudo está a mudar."

"Estamos ansiosamente a observar o que está a passar no Egipto e na região", declarou ontem o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, repetindo que o que interessa a Israel é "estabilidade". Mas Netanyahu deu instruções para os seus responsáveis não fazerem comentários sobre a situação, já que ninguém estava a entoar slogans anti-israelitas nas ruas.

O que preocupa Israel é o cenário de tomada de poder pela Irmandade Muçulmana. Apesar de ser pouco provável, indica Bachar, é uma perspectiva assustadora, não só pelo rejeitar do tratado de paz com Israel, mas também pelo efeito que poderia ter no grupo palestiniano Hamas e no movimento libanês Hezbollah.

E claro, o cenário do efeito de dominó - se a Tunísia inspirou o Egipto, qualquer mudança no gigante árabe pode fazer-se sentir ainda mais. "Jordânia, Arábia Saudita e outros países poderiam ver mudanças. É possível que o Médio Oriente a que estamos habituados não volte a ser o mesmo."

Bachar critica a posição dos Estados Unidos: "Washington mostrou uma grande capacidade de diplomacia cínica: durante 30 anos apoiaram Mubarak, sem se preocupar com direitos humanos. E, de repente, desistiram. Que sinal é que isso dá a outros regimes moderados apoiados pelos EUA na região? Que sinal é que isso dá ao Irão?", questiona.

De Teerão, tanto o regime como a oposição vêem os protestos com bons olhos, cada um pelas suas razões. O líder da oposição Mir-Hossein Mousavi afirmou que as revoltas nas ruas da Tunísia e do Egipto se inspiraram nas manifestações de Teerão em 2009, em que dezenas de milhares de pessoas se insurgiram contra a vitória do presidente Mahmoud Ahmadinejad em eleições vistas como fraudulentas.

Mas o próprio regime se congratulou com a contestação a Hosni Mubarak, um aliado de Israel e dos EUA. "É o que acontece a sistemas hegemónicos dependentes do estrangeiro", comentou um comandante dos Guardas da Revolução, Hossein Salami. O que se está a passar no Egipto, acrescentou, é semelhante ao que se passou no Irão com a revolução islâmica de 1979. E deverá ter consequências: "O Egipto é o centro do coração árabe, assim qualquer mudança poderá ocorrer noutros países muçulmanos."

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Outros países da região já tiveram manifestações inéditas - 16 mil pessoas no Iémen, 4 mil na Jordânia - e outros ainda estão alerta para descontentamento popular causado pelas condições de vida. Alguns Estados produtores de petróleo estão a prevenir problemas com dinheiro: o Kuwait, por exemplo, anunciou a entrega de 2600 euros a cada cidadão.

Um dos locais onde a revolução egípcia estava a ser seguida com especial atenção era a Síria, um país laico fundado em princípios semelhantes aos do Egipto. Na sexta-feira à noite as ruas de Damasco estavam calmas, com muita gente a ver as notícias sobre o Cairo, descreve a Al-Jazira. Quanto à Internet, a Síria sempre impediu o acesso a redes sociais, embora toda a gente use atalhos para conseguir aceder. Mas uma popular aplicação de chat do Facebook para os telemóveis parece ter sido bloqueada nos últimos dias, mostrando a atenção do regime às redes vistas como promotoras dos protestos noutros países.

No Iraque, a situação no Egipto é vista com um sentimento estranho. O país que se viu livre do seu ditador por intervenção externa tem sofrido desde então falhas nos serviços básicos: a falta de água e electricidade provocam revolta e ameaçam uma frágil paz. Maria João Guimarães

O que está a acontecer no Egipto foi visto com incredulidade por todo o mundo, mas num sítio em especial: Israel. "Ainda há uma semana não havia ninguém, absolutamente ninguém, nem sequer nos serviços secretos, que previsse o que está a acontecer", disse, em declarações ao PÚBLICO, Shmuel Bachar, investigador do centro de Herzliya, Israel, um think tank dedicado a questões de segurança e diplomacia.

Em Israel os jornais estavam cheios de análises sobre o que poderia acontecer no Egipto, um dos únicos dois países árabes com quem tem tratado de paz (o outro é a Jordânia). "Durante os últimos 30 anos tomámos a cooperação com o Egipto como garantida", sublinhou Bachar. "Mas agora tudo está a mudar."

"Estamos ansiosamente a observar o que está a passar no Egipto e na região", declarou ontem o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, repetindo que o que interessa a Israel é "estabilidade". Mas Netanyahu deu instruções para os seus responsáveis não fazerem comentários sobre a situação, já que ninguém estava a entoar slogans anti-israelitas nas ruas.

O que preocupa Israel é o cenário de tomada de poder pela Irmandade Muçulmana. Apesar de ser pouco provável, indica Bachar, é uma perspectiva assustadora, não só pelo rejeitar do tratado de paz com Israel, mas também pelo efeito que poderia ter no grupo palestiniano Hamas e no movimento libanês Hezbollah.

E claro, o cenário do efeito de dominó - se a Tunísia inspirou o Egipto, qualquer mudança no gigante árabe pode fazer-se sentir ainda mais. "Jordânia, Arábia Saudita e outros países poderiam ver mudanças. É possível que o Médio Oriente a que estamos habituados não volte a ser o mesmo."

Bachar critica a posição dos Estados Unidos: "Washington mostrou uma grande capacidade de diplomacia cínica: durante 30 anos apoiaram Mubarak, sem se preocupar com direitos humanos. E, de repente, desistiram. Que sinal é que isso dá a outros regimes moderados apoiados pelos EUA na região? Que sinal é que isso dá ao Irão?", questiona.

De Teerão, tanto o regime como a oposição vêem os protestos com bons olhos, cada um pelas suas razões. O líder da oposição Mir-Hossein Mousavi afirmou que as revoltas nas ruas da Tunísia e do Egipto se inspiraram nas manifestações de Teerão em 2009, em que dezenas de milhares de pessoas se insurgiram contra a vitória do presidente Mahmoud Ahmadinejad em eleições vistas como fraudulentas.

Mas o próprio regime se congratulou com a contestação a Hosni Mubarak, um aliado de Israel e dos EUA. "É o que acontece a sistemas hegemónicos dependentes do estrangeiro", comentou um comandante dos Guardas da Revolução, Hossein Salami. O que se está a passar no Egipto, acrescentou, é semelhante ao que se passou no Irão com a revolução islâmica de 1979. E deverá ter consequências: "O Egipto é o centro do coração árabe, assim qualquer mudança poderá ocorrer noutros países muçulmanos."

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Outros países da região já tiveram manifestações inéditas - 16 mil pessoas no Iémen, 4 mil na Jordânia - e outros ainda estão alerta para descontentamento popular causado pelas condições de vida. Alguns Estados produtores de petróleo estão a prevenir problemas com dinheiro: o Kuwait, por exemplo, anunciou a entrega de 2600 euros a cada cidadão.

Um dos locais onde a revolução egípcia estava a ser seguida com especial atenção era a Síria, um país laico fundado em princípios semelhantes aos do Egipto. Na sexta-feira à noite as ruas de Damasco estavam calmas, com muita gente a ver as notícias sobre o Cairo, descreve a Al-Jazira. Quanto à Internet, a Síria sempre impediu o acesso a redes sociais, embora toda a gente use atalhos para conseguir aceder. Mas uma popular aplicação de chat do Facebook para os telemóveis parece ter sido bloqueada nos últimos dias, mostrando a atenção do regime às redes vistas como promotoras dos protestos noutros países.

No Iraque, a situação no Egipto é vista com um sentimento estranho. O país que se viu livre do seu ditador por intervenção externa tem sofrido desde então falhas nos serviços básicos: a falta de água e electricidade provocam revolta e ameaçam uma frágil paz. Maria João Guimarães

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