"José e Pilar", um filme cheio de vida

16-10-2010
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Há uma certa escuridão naquele corredor do Museu Nacional de Arte Antiga, mas a câmara de Miguel Gonçalves Mendes aproxima-se e o espectador do documentário José e Pilar percebe que o homem que está a olhar para a vitrina da exposição Encompassing the Globe é o Prémio Nobel da Literatura português.

José Saramago, absorto nos seus pensamentos, contempla o banco que pertenceu ao arquiduque da Áustria, Maximiliano II, e foi feito com os ossos do elefante que lhe foi oferecido pelo seu tio, João III de Portugal. A peça, agora de museu, está ligada ao romance A Viagem do Elefante que Saramago escreveu durante os anos em que a câmara do realizador português entrou dentro da intimidade do Nobel e da sua mulher, Pilar del Río.

Quando fez José e Pilar, Miguel Gonçalves Mendes tinha um objectivo: não dar aos espectadores a sensação que estavam a ver um documentário. "Não quis que fosse um documentário tradicional, com um lado pedagógico, a falar do homem e da obra", explica o realizador. Isso já estava feito em outros suportes (livros, reportagens de televisão, etc.). O que lhe interessava era contar esta história como se fosse uma narrativa clássica em termos de estrutura: "Um homem que quer escrever um livro, que adoece, que tem medo de não conseguir acabar o livro, mas consegue recuperar e não só acaba esse romance, como ainda tem uma ideia para outro."

Se no documentário Autografia/Um Retrato de Mário Cesariny, pelo qual Miguel Gonçalves Mendes recebeu o Prémio de Melhor Documentário Português no DocLisboa 2004, se sentia haver alguém a despedir-se, no sentido quase testamentário, em José e Pilar há sofreguidão de vida e de desejo de viver. "De José e de Pilar, aquilo que mais me fica é que a vida é só esta, ponto final. E, no caso de José, como ele diz, tudo lhe aconteceu demasiado tarde, há um caso de urgência." O escritor morreu no dia 18 de Junho de 2010 e o filme foi montado antes de ele morrer. "No dia em que morreu, jurámos a nós próprios não tocar em nada da montagem", conta Mendes. "Seria um processo suicida, íamos destruir o filme todo." Na altura, um amigo lembrou ao realizador: "Miguel, o filme é dos vivos para os vivos."

Um filme sem falsidades

"Eu tenho ideias para romances. Ela [Pilar] tem ideias para a vida. E eu não sei o que é mais importante", diz a determinada altura, brincalhão, José Saramago. Mas é claro que sabia. Miguel Gonçalves Mendes acompanhou o casal por vários locais do mundo durante mais de três anos, tem filmadas cerca de 240 horas de material e passou um ano e meio na mesa de montagem. Fez uma primeira versão de José e Pilar com seis horas, outra de três e a versão final que abre hoje, às 21h00, a VII edição do DocLisboa, na Culturgest, em Lisboa, tem duas horas.

Há uma certa escuridão naquele corredor do Museu Nacional de Arte Antiga, mas a câmara de Miguel Gonçalves Mendes aproxima-se e o espectador do documentário José e Pilar percebe que o homem que está a olhar para a vitrina da exposição Encompassing the Globe é o Prémio Nobel da Literatura português.

José Saramago, absorto nos seus pensamentos, contempla o banco que pertenceu ao arquiduque da Áustria, Maximiliano II, e foi feito com os ossos do elefante que lhe foi oferecido pelo seu tio, João III de Portugal. A peça, agora de museu, está ligada ao romance A Viagem do Elefante que Saramago escreveu durante os anos em que a câmara do realizador português entrou dentro da intimidade do Nobel e da sua mulher, Pilar del Río.

Quando fez José e Pilar, Miguel Gonçalves Mendes tinha um objectivo: não dar aos espectadores a sensação que estavam a ver um documentário. "Não quis que fosse um documentário tradicional, com um lado pedagógico, a falar do homem e da obra", explica o realizador. Isso já estava feito em outros suportes (livros, reportagens de televisão, etc.). O que lhe interessava era contar esta história como se fosse uma narrativa clássica em termos de estrutura: "Um homem que quer escrever um livro, que adoece, que tem medo de não conseguir acabar o livro, mas consegue recuperar e não só acaba esse romance, como ainda tem uma ideia para outro."

Se no documentário Autografia/Um Retrato de Mário Cesariny, pelo qual Miguel Gonçalves Mendes recebeu o Prémio de Melhor Documentário Português no DocLisboa 2004, se sentia haver alguém a despedir-se, no sentido quase testamentário, em José e Pilar há sofreguidão de vida e de desejo de viver. "De José e de Pilar, aquilo que mais me fica é que a vida é só esta, ponto final. E, no caso de José, como ele diz, tudo lhe aconteceu demasiado tarde, há um caso de urgência." O escritor morreu no dia 18 de Junho de 2010 e o filme foi montado antes de ele morrer. "No dia em que morreu, jurámos a nós próprios não tocar em nada da montagem", conta Mendes. "Seria um processo suicida, íamos destruir o filme todo." Na altura, um amigo lembrou ao realizador: "Miguel, o filme é dos vivos para os vivos."

Um filme sem falsidades

"Eu tenho ideias para romances. Ela [Pilar] tem ideias para a vida. E eu não sei o que é mais importante", diz a determinada altura, brincalhão, José Saramago. Mas é claro que sabia. Miguel Gonçalves Mendes acompanhou o casal por vários locais do mundo durante mais de três anos, tem filmadas cerca de 240 horas de material e passou um ano e meio na mesa de montagem. Fez uma primeira versão de José e Pilar com seis horas, outra de três e a versão final que abre hoje, às 21h00, a VII edição do DocLisboa, na Culturgest, em Lisboa, tem duas horas.

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