Há quem pensee traduza só doçuras, há quem sempre escreva mel e bolos de chocolate e amor e paixão e ternuras.Há quem esteja obeso de altruísmo,quem queira ser melhorhonesto e santo como um paraíso sobre duas pernasé só têm duas cores: ou a dor ou o amor.Eu não. Não escamoteio nem rancor nem frustração, caso os tenha.O que tenho é para ser dito, escrito, até que passe e meu ser serene.Se é fúria, escrevo fúria.Se é ódio, escrevo ódio.Se os meus olhos dão com faláciae mentira em toda a parte, sai-me um verbo verde, carregado de escárnio e escarro,quisera saurianamente devorar, trespassar, garra enclavinhada, esse engano ruim,ser avalancha que, desprendida do penhasco mais pináculo, fragorosamente soterrasse todo o mal num silêncio branco.Assim ou assado, é escrevendo que digiroos absurdos, mar alto, em que navego e me vitimamrumo a um tempo de bons ventos e acalmia.Joaquim Santos
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Há quem pensee traduza só doçuras, há quem sempre escreva mel e bolos de chocolate e amor e paixão e ternuras.Há quem esteja obeso de altruísmo,quem queira ser melhorhonesto e santo como um paraíso sobre duas pernasé só têm duas cores: ou a dor ou o amor.Eu não. Não escamoteio nem rancor nem frustração, caso os tenha.O que tenho é para ser dito, escrito, até que passe e meu ser serene.Se é fúria, escrevo fúria.Se é ódio, escrevo ódio.Se os meus olhos dão com faláciae mentira em toda a parte, sai-me um verbo verde, carregado de escárnio e escarro,quisera saurianamente devorar, trespassar, garra enclavinhada, esse engano ruim,ser avalancha que, desprendida do penhasco mais pináculo, fragorosamente soterrasse todo o mal num silêncio branco.Assim ou assado, é escrevendo que digiroos absurdos, mar alto, em que navego e me vitimamrumo a um tempo de bons ventos e acalmia.Joaquim Santos