Casmurro: A errata irritante (IV)

28-05-2010
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― A forma, claro. Então, se o cronista escreve sempre “de” X “a” Y, das duas uma: ou bastava a primeira menção de nomes e Isabel Coutinho e Kattleen Gomes (e não estou seguro de que o nome desta última esteja escrito sem erro) passavam a representar os limites dentro dos quais cabiam todas as outras que, por isso mesmo, já não careciam de menção específica ou, caso se trate de mencionar um conjunto não exaustivo de marcos de referência, dispensava-se a redundância daquele parêntesis preventivo para o facto de serem “apenas alguns nomes”, por isso já ser evidente na própria forma de enumerar.― Hmmm…― Reconhecido o erro, pode-se errar à vontade. A prova cabal encontra-se naquela frase derradeira que, para dizer o mínimo, não faz qualquer sentido. Isto é, escapar-nos-á até ao infinito como é que, pelo facto de se achar que alguém “não tem tido suficientes oportunidades para desenvolver o seu trabalho”, se escreve de seguida uma hipérbole que converte essa desfavorecida na “mais inteligente e informada jornalista cultural”. O nosso cronista remata com “e daí a hipérbole”, já não por mero erro, mas para celebrar, em clima de festa, a apoteose do erro, o triunfo do reconhecimento do erro como fundamento inabalável para o prazer de errar mesmo quando se simula a correcção do erro. Surpreende-me que o senhor não se desse conta desta autêntica poética inscrita na brevidade de um post-scriptum.

― A forma, claro. Então, se o cronista escreve sempre “de” X “a” Y, das duas uma: ou bastava a primeira menção de nomes e Isabel Coutinho e Kattleen Gomes (e não estou seguro de que o nome desta última esteja escrito sem erro) passavam a representar os limites dentro dos quais cabiam todas as outras que, por isso mesmo, já não careciam de menção específica ou, caso se trate de mencionar um conjunto não exaustivo de marcos de referência, dispensava-se a redundância daquele parêntesis preventivo para o facto de serem “apenas alguns nomes”, por isso já ser evidente na própria forma de enumerar.― Hmmm…― Reconhecido o erro, pode-se errar à vontade. A prova cabal encontra-se naquela frase derradeira que, para dizer o mínimo, não faz qualquer sentido. Isto é, escapar-nos-á até ao infinito como é que, pelo facto de se achar que alguém “não tem tido suficientes oportunidades para desenvolver o seu trabalho”, se escreve de seguida uma hipérbole que converte essa desfavorecida na “mais inteligente e informada jornalista cultural”. O nosso cronista remata com “e daí a hipérbole”, já não por mero erro, mas para celebrar, em clima de festa, a apoteose do erro, o triunfo do reconhecimento do erro como fundamento inabalável para o prazer de errar mesmo quando se simula a correcção do erro. Surpreende-me que o senhor não se desse conta desta autêntica poética inscrita na brevidade de um post-scriptum.

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