Antologias: Traição de Marcello Caetano

03-08-2010
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Traição de Marcello Caetano via nonas by nonas on 7/24/08 «Para mim, existiram vários factores, que levaram ao precipitar do 25 de Abril. Pelos contactos tidos, na altura, com o meu pai(1) e com o Eng. Santos e Castro(2), sabia-se estar em preparação, a nível político português, uma manobra de grande envergadura, ligada àquilo que estava a ser feito com o complexo de Sines. Esta estrutura destinava-se a destilar o petróleo de Angola, fugindo aos esquemas de produção controlada, de modo a oferecer ao mercado europeu um petróleo de custo extremamente mais baixo que o do mundo árabe. Assim Portugal passaria a ter um peso maior, a nível internacional.Daí poderiam advir numerosas contrapartidas, tais como condescendência política e diplomática, a nível internacional, em relação ao problema africano. Também com a baixa de preços poderia haver outra política de aquisições de material de guerra…» (p. 201)«(…) Esse petróleo tornar-se-ia num reforço da capacidade de manobra de Portugal no mundo. Assim, nas nossas conversas chegámos à conclusão de que o facto de a oposição portuguesa acabar por ter, então, o apoio internacional e até meios financeiros de que terão passado a usufruir, foi exactamente a necessidade de contrariar essa grande manobra do governo português…- Qual a razão do falhanço dessa estratégia?Porque a nível internacional não interessava que Portugal viesse ter a poder económico. Que ficasse na CEE, mas na cauda da fileira… Tal não interessava, até aos países europeus: Portugal continuar a utilizar meios que a eles tinham sido negados, ou obrigados a isso.- Passaram, então, a boicotar esse projecto…Chegou a ser projectada uma acção, com o efectivo apoio da França, em relação à Guiné-Conakry, e não como a que tinha sido realizada, anos antes…Encontrava-se também previsto o fornecimento do petróleo angolano à África do Sul, através de um pipe-line, que atravessaria o Sudoeste Africano (hoje Namíbia), com a contrapartida de fornecimento de material de guerra, incluindo aviões militares. Isso foi recusado por Marcello Caetano, por considerar não haver relações com um Governo racista.- Mas muita gente pensava que estava a ser ultrapassado o timing, em relação às possíveis negociações a fazer para normalizar a situação naqueles territórios…Para mim a negociação apenas devia ser efectuada numa situação de supremacia militar. Assim, quando um país não consegue ter os seus fornecimentos de material de guerra suficientes e não possui a força diplomática necessária, a negociação será sempre em seu prejuízo…» (p. 202) Nuno Barbieri1.º TenenteIn Manuel Maria Bernardo, Memórias da Revolução, Prefácio Editora, Lisboa, 2004.(1) - Refere-se ao ex-Director-Adjunto da DGS, Barbieri Cardoso.(2) – Governador Geral de Angola até ao 25 de Abril e irmão do Coronel Gilberto Santos e Castro, fundador dos "Comandos" em Angola e, posteriormente, comandante da força da FNLA, apoiada por americanos e zairenses que, em 1975, invadiu Angola, com a intenção de ocupar Luanda.


Traição de Marcello Caetano via nonas by nonas on 7/24/08 «Para mim, existiram vários factores, que levaram ao precipitar do 25 de Abril. Pelos contactos tidos, na altura, com o meu pai(1) e com o Eng. Santos e Castro(2), sabia-se estar em preparação, a nível político português, uma manobra de grande envergadura, ligada àquilo que estava a ser feito com o complexo de Sines. Esta estrutura destinava-se a destilar o petróleo de Angola, fugindo aos esquemas de produção controlada, de modo a oferecer ao mercado europeu um petróleo de custo extremamente mais baixo que o do mundo árabe. Assim Portugal passaria a ter um peso maior, a nível internacional.Daí poderiam advir numerosas contrapartidas, tais como condescendência política e diplomática, a nível internacional, em relação ao problema africano. Também com a baixa de preços poderia haver outra política de aquisições de material de guerra…» (p. 201)«(…) Esse petróleo tornar-se-ia num reforço da capacidade de manobra de Portugal no mundo. Assim, nas nossas conversas chegámos à conclusão de que o facto de a oposição portuguesa acabar por ter, então, o apoio internacional e até meios financeiros de que terão passado a usufruir, foi exactamente a necessidade de contrariar essa grande manobra do governo português…- Qual a razão do falhanço dessa estratégia?Porque a nível internacional não interessava que Portugal viesse ter a poder económico. Que ficasse na CEE, mas na cauda da fileira… Tal não interessava, até aos países europeus: Portugal continuar a utilizar meios que a eles tinham sido negados, ou obrigados a isso.- Passaram, então, a boicotar esse projecto…Chegou a ser projectada uma acção, com o efectivo apoio da França, em relação à Guiné-Conakry, e não como a que tinha sido realizada, anos antes…Encontrava-se também previsto o fornecimento do petróleo angolano à África do Sul, através de um pipe-line, que atravessaria o Sudoeste Africano (hoje Namíbia), com a contrapartida de fornecimento de material de guerra, incluindo aviões militares. Isso foi recusado por Marcello Caetano, por considerar não haver relações com um Governo racista.- Mas muita gente pensava que estava a ser ultrapassado o timing, em relação às possíveis negociações a fazer para normalizar a situação naqueles territórios…Para mim a negociação apenas devia ser efectuada numa situação de supremacia militar. Assim, quando um país não consegue ter os seus fornecimentos de material de guerra suficientes e não possui a força diplomática necessária, a negociação será sempre em seu prejuízo…» (p. 202) Nuno Barbieri1.º TenenteIn Manuel Maria Bernardo, Memórias da Revolução, Prefácio Editora, Lisboa, 2004.(1) - Refere-se ao ex-Director-Adjunto da DGS, Barbieri Cardoso.(2) – Governador Geral de Angola até ao 25 de Abril e irmão do Coronel Gilberto Santos e Castro, fundador dos "Comandos" em Angola e, posteriormente, comandante da força da FNLA, apoiada por americanos e zairenses que, em 1975, invadiu Angola, com a intenção de ocupar Luanda.

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