Alhos Vedros ao Poder !: O Duplo Padrão

30-05-2010
marcar artigo


A propósito de um post do Arre-Macho sobre a velha questão da existência - ou não - de Fascismo em Portugal, fui violenta e descabeldadamente torpedeado por alguém que se assina como Manuel Madeira e que não sei se será o legítimo ou a tal personagem de ficção de que o AV2 falou aqui há pouco tempo.Aparentemente para determinados sectores de opinião, é essencial que o que se passou em Portugal se chame "Fascismo" e não outra coisa, mesmo se já é consenso generalizado entre politólogos e historiadores que o movimento de ditaduras de direita posteriores à Primeira Guerra Mundial é demasiado plural para caber numa definição tão estreita e apenas cómoda porque corresponde a um dos primeiros desses regimes ditatoriais a conseguir impor-se na Europa.Sobre definições de fascismo há muito material por onde escolher, de variadas origens, incluindo a do próprio Mussolini, para não falar na de Hanna Arendt (síntese para o fim deste texto e prosa mais extensa aqui) para quem os regimes de tipo fascista e estalinista são duas faces de um mesmo fenómeno.Nem vou por aí, apenas gosto de chamar a atenção - e não é só neste caso - para não se misturar tudo como estratégia para tudo simplificar de forma redutora e assim tentar confundir a compreensão dos fenómenos sociais e políticos.Por isso convém deixar esclarecidos alguns pontos:a) A discussão em torno da existência de "Fascismo" em Portugal não significa a negação de uma ditadura de 48 anos em Portugal. São muitos os que se opuseram ao dito "fascismo" que cedo polemizaram em relação ao uso dessa definição e designação, preferindo outras que sejam menos saco sem fundo onde cabe tudo, do Horthy ao Somoza, do Dölfuss ao Vilela, do Getúlio Vargas ao Pétain.b) A defesa intransigente do "Fascismo" em Portugal é muitas vezes um recurso dos que pretendem legitimar-se como "Anti-Fascistas" e que, como MM, pensam que isso chega para validar e qualificar positivamente tudo o que dizem, escrevem ou fazem. Não é, claramente, o meu caso.c) Quando MM se iliba do apoio dado às ditaduras de Leste, dizendo que foram experiências históricas falhadas e que os comunistas portugueses não devem ser acusados por isso, não percebo porque não usa o mesmo argumento em relação a quem discorda dele. Se ele não pode ser culpado por uma experiência falhada, os outros podem ser acusados só por terem uma opinião diferente?d) Se MM diz defender a existência de uma via nacional para a construção da sociedade comunista e sublinha o carácter específico das propostas dos comunistas portugueses, porque nega a possibilidade de discutir a natureza específica da ditadura portuguesa que foi o Estado Novo?e) Se a Censura e a limitação à Liberdade de Expressão era má na Ditadura, porque deve existir na Democracia, mesmo contra o que dela discordam? A Censura é má em si, é um valor a não promover, seja em que circunstância for, não apenas quando é exercida contra nós. Todos temos direito a ter opinião, mesmo que seja errada para alguns outros. Por isso, tanto tem direito a falar na televisão a filha de Marcelo Caetano como a filha de qualquer outro político que, amando o seu pai, tem dele uma visão diferente da nossa.f) Não reconheço a MM qualquer tipo de legitimidade acrescida ou qualquer espécie de competência diferente da de qualquer outra pessoa para classificar seja quem for como isto ou aquilo ou para insinuar que este ou aquele é apoiante deste ou daquele regime, em especial quem nunca apoiou - ao contrário dele - qualquer tipo de ditadura, tivesse sido "uma experiência histórica falhada" ou não, tenha sido na Albânia ou no Chile, na Alemanha de Leste ou na Nicarágua, no Cambodja ou no Iraque, na Alemanha nazi ou no Estado Novo português.Eu sei que tudo isto fará doer a cabeça a MM, ou talvez não, visto que quem tem fórmulas pré-concebidas para responder a tudo, nem sequer questiona a sua validade.No meu caso prefiro interrogar-me, comparar pontos de vista e tentar elaborar uma síntese pessoal (eu estou muito hegeliano hoje), em vez de debitar cartilhas incapazes de perceber que o debate e a dúvida são riquezas em si e não sinais de fraqueza.Mas, lá diria Lenine, "Que fazer?"O homem já não é jovem, já lhe custa a assimilar, quanto mais a processar informação nova.AV1Adenda: artigo de Armando Cortesão de 1945 sobre "Democracia e Fascismo em Portugal" na revista Political Quarterly, para os defensores da tese que tudo é Fascismo; artigo muito recente de António Costa Pinto sobre a relação de Salazar com os verdadeiros Fascistas portugueses, os Camisas Azuis de Rolão Preto, assim como uma longa recensão sobre vários livros recentes acerca do tema.


A propósito de um post do Arre-Macho sobre a velha questão da existência - ou não - de Fascismo em Portugal, fui violenta e descabeldadamente torpedeado por alguém que se assina como Manuel Madeira e que não sei se será o legítimo ou a tal personagem de ficção de que o AV2 falou aqui há pouco tempo.Aparentemente para determinados sectores de opinião, é essencial que o que se passou em Portugal se chame "Fascismo" e não outra coisa, mesmo se já é consenso generalizado entre politólogos e historiadores que o movimento de ditaduras de direita posteriores à Primeira Guerra Mundial é demasiado plural para caber numa definição tão estreita e apenas cómoda porque corresponde a um dos primeiros desses regimes ditatoriais a conseguir impor-se na Europa.Sobre definições de fascismo há muito material por onde escolher, de variadas origens, incluindo a do próprio Mussolini, para não falar na de Hanna Arendt (síntese para o fim deste texto e prosa mais extensa aqui) para quem os regimes de tipo fascista e estalinista são duas faces de um mesmo fenómeno.Nem vou por aí, apenas gosto de chamar a atenção - e não é só neste caso - para não se misturar tudo como estratégia para tudo simplificar de forma redutora e assim tentar confundir a compreensão dos fenómenos sociais e políticos.Por isso convém deixar esclarecidos alguns pontos:a) A discussão em torno da existência de "Fascismo" em Portugal não significa a negação de uma ditadura de 48 anos em Portugal. São muitos os que se opuseram ao dito "fascismo" que cedo polemizaram em relação ao uso dessa definição e designação, preferindo outras que sejam menos saco sem fundo onde cabe tudo, do Horthy ao Somoza, do Dölfuss ao Vilela, do Getúlio Vargas ao Pétain.b) A defesa intransigente do "Fascismo" em Portugal é muitas vezes um recurso dos que pretendem legitimar-se como "Anti-Fascistas" e que, como MM, pensam que isso chega para validar e qualificar positivamente tudo o que dizem, escrevem ou fazem. Não é, claramente, o meu caso.c) Quando MM se iliba do apoio dado às ditaduras de Leste, dizendo que foram experiências históricas falhadas e que os comunistas portugueses não devem ser acusados por isso, não percebo porque não usa o mesmo argumento em relação a quem discorda dele. Se ele não pode ser culpado por uma experiência falhada, os outros podem ser acusados só por terem uma opinião diferente?d) Se MM diz defender a existência de uma via nacional para a construção da sociedade comunista e sublinha o carácter específico das propostas dos comunistas portugueses, porque nega a possibilidade de discutir a natureza específica da ditadura portuguesa que foi o Estado Novo?e) Se a Censura e a limitação à Liberdade de Expressão era má na Ditadura, porque deve existir na Democracia, mesmo contra o que dela discordam? A Censura é má em si, é um valor a não promover, seja em que circunstância for, não apenas quando é exercida contra nós. Todos temos direito a ter opinião, mesmo que seja errada para alguns outros. Por isso, tanto tem direito a falar na televisão a filha de Marcelo Caetano como a filha de qualquer outro político que, amando o seu pai, tem dele uma visão diferente da nossa.f) Não reconheço a MM qualquer tipo de legitimidade acrescida ou qualquer espécie de competência diferente da de qualquer outra pessoa para classificar seja quem for como isto ou aquilo ou para insinuar que este ou aquele é apoiante deste ou daquele regime, em especial quem nunca apoiou - ao contrário dele - qualquer tipo de ditadura, tivesse sido "uma experiência histórica falhada" ou não, tenha sido na Albânia ou no Chile, na Alemanha de Leste ou na Nicarágua, no Cambodja ou no Iraque, na Alemanha nazi ou no Estado Novo português.Eu sei que tudo isto fará doer a cabeça a MM, ou talvez não, visto que quem tem fórmulas pré-concebidas para responder a tudo, nem sequer questiona a sua validade.No meu caso prefiro interrogar-me, comparar pontos de vista e tentar elaborar uma síntese pessoal (eu estou muito hegeliano hoje), em vez de debitar cartilhas incapazes de perceber que o debate e a dúvida são riquezas em si e não sinais de fraqueza.Mas, lá diria Lenine, "Que fazer?"O homem já não é jovem, já lhe custa a assimilar, quanto mais a processar informação nova.AV1Adenda: artigo de Armando Cortesão de 1945 sobre "Democracia e Fascismo em Portugal" na revista Political Quarterly, para os defensores da tese que tudo é Fascismo; artigo muito recente de António Costa Pinto sobre a relação de Salazar com os verdadeiros Fascistas portugueses, os Camisas Azuis de Rolão Preto, assim como uma longa recensão sobre vários livros recentes acerca do tema.

marcar artigo