Foi você que pediu um programa de "sacrifícios"?

01-04-2010
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As preces aos "sacrifícios" ganharam peso no léxico político nos últimos anos. Sem "sacrifícios", diziam muitos, ou sem coragem para os aplicar, insistiam outros, jamais se inverteria a agonia das contas públicas nem se resgataria o futuro do país. Quando o Governo apresentou o seu Programa de Estabilidade e Crescimento para 2010-2013 e se soube que milhares de funcionários públicos teriam de viver com os seus rendimentos congelados nos próximos anos, que reformados com pensões mais altas perderiam parte dos seus privilégios fiscais ou que a classe média fora chamada a pagar a sério os custos da crise, pensou-se que, finalmente, essas suas preces tinham sido ouvidas. E que os seus mentores teriam finalmente razão para exultar.

Percebe-se que o PCP e o Bloco de Esquerda abominem o PEC. Ou que muitos sectores do PS o recusem, já que com este programa o socialismo volta a ser metido na gaveta. Quem passou a vida a cultivar os valores de uma certa esquerda não pode aprovar sem um nó no peito cortes nas prestações sociais ou a privatização de empresas sensíveis. Percebe-se também que o PSD e o PP rejeitem o programa, apesar de a genética do PEC estar muito mais próxima dos seus ideais do que dos do PS. E percebe-se por que quem abraçar o programa vai ter de pagar a façanha nas próximas eleições.

Como se o mundo tivesse ficado de pernas para o ar, até os que durante anos, com pedagogia e perseverança, andaram a pregar a virtude do sacrifício desertaram para o outro lado da barricada do PEC. Ver muitos destes protagonistas que abundam no PSD e no PP, ou nas colunas dos jornais, a voltar a página ao seu próprio pensamento faz pensar. Ou talvez não. As teorias doem quando se aplicam a pessoas concretas. São sempre os mesmos a pagar a factura? Pois, em Portugal ou em qualquer país europeu é a classe média que paga a máquina estatal. É um insulto cortar nas prestações sociais? Sim, é, mas como se pode reduzir a despesa pública se não se cortar uma fatia do bolo que representa 42 por cento dos gastos fixos do Estado? E onde está o crescimento do PEC?, perguntam outros. Os ortodoxos do rigor fiscal, os que sempre advogaram os sacrifícios, sabem: o controlo da despesa pública e o abaixamento dos custos do factor trabalho trazem competitividade à economia. Se a Alemanha tem hoje excedentes e o desemprego controlado, é porque andou dez anos a travar os custos do trabalho, dirão.

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A verdade é que um PEC assim, que nos obriga a olhar de frente o péssimo estado do país, nunca poderia ser "

As preces aos "sacrifícios" ganharam peso no léxico político nos últimos anos. Sem "sacrifícios", diziam muitos, ou sem coragem para os aplicar, insistiam outros, jamais se inverteria a agonia das contas públicas nem se resgataria o futuro do país. Quando o Governo apresentou o seu Programa de Estabilidade e Crescimento para 2010-2013 e se soube que milhares de funcionários públicos teriam de viver com os seus rendimentos congelados nos próximos anos, que reformados com pensões mais altas perderiam parte dos seus privilégios fiscais ou que a classe média fora chamada a pagar a sério os custos da crise, pensou-se que, finalmente, essas suas preces tinham sido ouvidas. E que os seus mentores teriam finalmente razão para exultar.

Percebe-se que o PCP e o Bloco de Esquerda abominem o PEC. Ou que muitos sectores do PS o recusem, já que com este programa o socialismo volta a ser metido na gaveta. Quem passou a vida a cultivar os valores de uma certa esquerda não pode aprovar sem um nó no peito cortes nas prestações sociais ou a privatização de empresas sensíveis. Percebe-se também que o PSD e o PP rejeitem o programa, apesar de a genética do PEC estar muito mais próxima dos seus ideais do que dos do PS. E percebe-se por que quem abraçar o programa vai ter de pagar a façanha nas próximas eleições.

Como se o mundo tivesse ficado de pernas para o ar, até os que durante anos, com pedagogia e perseverança, andaram a pregar a virtude do sacrifício desertaram para o outro lado da barricada do PEC. Ver muitos destes protagonistas que abundam no PSD e no PP, ou nas colunas dos jornais, a voltar a página ao seu próprio pensamento faz pensar. Ou talvez não. As teorias doem quando se aplicam a pessoas concretas. São sempre os mesmos a pagar a factura? Pois, em Portugal ou em qualquer país europeu é a classe média que paga a máquina estatal. É um insulto cortar nas prestações sociais? Sim, é, mas como se pode reduzir a despesa pública se não se cortar uma fatia do bolo que representa 42 por cento dos gastos fixos do Estado? E onde está o crescimento do PEC?, perguntam outros. Os ortodoxos do rigor fiscal, os que sempre advogaram os sacrifícios, sabem: o controlo da despesa pública e o abaixamento dos custos do factor trabalho trazem competitividade à economia. Se a Alemanha tem hoje excedentes e o desemprego controlado, é porque andou dez anos a travar os custos do trabalho, dirão.

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A verdade é que um PEC assim, que nos obriga a olhar de frente o péssimo estado do país, nunca poderia ser "

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