Açores: Atropelar priôlos como forma de fazer desporto.

21-01-2011
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É já quase uma tradição que está a impor-se na ilha de São Miguel. Trata-se da priolada, uma forma de fazer desporto com grande número de seguidores e apoiantes, entre os que se contam, em destacado lugar, os governos regionais e municipais da ilha.Este emocionante desporto consiste em passar de carro, a toda velocidade, pela única área em que vive o priôlo (Pyrrhula murina), ave endémica da ilha de São Miguel e que se encontra entre as espécies mais ameaçadas do planeta. O objectivo dos concorrentes não é claro. Supostamente é fazer o percurso o mais rapidamente possível. Mas tudo indica que, na realidade, o objectivo é expulsar durante uns dias os priôlos do seu habitat da Serra da Tronqueira e talvez impedir a sua reprodução. É possível que atropelar um priôlo chegue a dar mais pontos na classificação geral, mas ninguém sabe ao certo. Neste magnífico desporto existem no menos duas competições anuais. Uma é o SATA Rallye Açores (que este ano decorreu nos dias 7-9 de Maio) e a outra é o Rallye da Ribeira Grande (que decorreu nos dias 11-12 de Julho). Os dois rallyes, como não podia ser de outra forma, têm sempre um percurso que passa pela Serra da Tronqueira e pelo Planalto dos Graminhais, sempre à procura dos tão ameaçados priôlos. “O rally passa, a paisagem fica” é a frase publicitária, certamente curiosa, utilizada pela Associação de Municípios da Ilha de São Miguel. Pois ficar, fica, mas não se sabe em que estado…A passagem destes rallyes pela Serra da Tronqueira tem evidentemente impacto sobre a reduzida população de priôlos, especialmente durante a época de reprodução. Esta ocorre de meados de Junho ao fim de Agosto, com a aparição dos primeiros juvenis em meados de Julho. Estas datas coincidem, portanto, com a realização duma das provas.Não há dúvidas de que o priôlo e o seu habitat constituem um património natural açoriano de valor mundial. No entanto, parece que este valor não tem a mínima importância quando se trata de definir os percursos dos rallyes. Para os organizadores e os governantes da ilha ter um rallye ainda mais espectacular é muito mais importante que proteger uma espécie ameaçada. Segundo eles, os priôlos até devem gostar de assistir a este tipo de espectáculos automobilísticos. Pelo menos, os estrangeiros parecem apreciar esta espécie, que constitui uma atracção turística e recebe importantes fundos internacionais para a sua conservação.Quando será que os açorianos o os seus governantes vão também importar-se com ela? E até quando assistiremos a esta atitude vergonhosa?


É já quase uma tradição que está a impor-se na ilha de São Miguel. Trata-se da priolada, uma forma de fazer desporto com grande número de seguidores e apoiantes, entre os que se contam, em destacado lugar, os governos regionais e municipais da ilha.Este emocionante desporto consiste em passar de carro, a toda velocidade, pela única área em que vive o priôlo (Pyrrhula murina), ave endémica da ilha de São Miguel e que se encontra entre as espécies mais ameaçadas do planeta. O objectivo dos concorrentes não é claro. Supostamente é fazer o percurso o mais rapidamente possível. Mas tudo indica que, na realidade, o objectivo é expulsar durante uns dias os priôlos do seu habitat da Serra da Tronqueira e talvez impedir a sua reprodução. É possível que atropelar um priôlo chegue a dar mais pontos na classificação geral, mas ninguém sabe ao certo. Neste magnífico desporto existem no menos duas competições anuais. Uma é o SATA Rallye Açores (que este ano decorreu nos dias 7-9 de Maio) e a outra é o Rallye da Ribeira Grande (que decorreu nos dias 11-12 de Julho). Os dois rallyes, como não podia ser de outra forma, têm sempre um percurso que passa pela Serra da Tronqueira e pelo Planalto dos Graminhais, sempre à procura dos tão ameaçados priôlos. “O rally passa, a paisagem fica” é a frase publicitária, certamente curiosa, utilizada pela Associação de Municípios da Ilha de São Miguel. Pois ficar, fica, mas não se sabe em que estado…A passagem destes rallyes pela Serra da Tronqueira tem evidentemente impacto sobre a reduzida população de priôlos, especialmente durante a época de reprodução. Esta ocorre de meados de Junho ao fim de Agosto, com a aparição dos primeiros juvenis em meados de Julho. Estas datas coincidem, portanto, com a realização duma das provas.Não há dúvidas de que o priôlo e o seu habitat constituem um património natural açoriano de valor mundial. No entanto, parece que este valor não tem a mínima importância quando se trata de definir os percursos dos rallyes. Para os organizadores e os governantes da ilha ter um rallye ainda mais espectacular é muito mais importante que proteger uma espécie ameaçada. Segundo eles, os priôlos até devem gostar de assistir a este tipo de espectáculos automobilísticos. Pelo menos, os estrangeiros parecem apreciar esta espécie, que constitui uma atracção turística e recebe importantes fundos internacionais para a sua conservação.Quando será que os açorianos o os seus governantes vão também importar-se com ela? E até quando assistiremos a esta atitude vergonhosa?

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