A Cinco Tons: A dificuldade de lidar com a diferença

24-05-2011
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Hoje é dia da criança.

À sombra da Igreja de S. Francisco, próximo da Praça 1º Maio em Évora, estiveram esta manhã centenas de crianças.
Chegaram pela mão de professores e funcionários de apoio ao 1º ciclo. Vieram a pé de escolas mais próximas como a do Rossio, ou de mais longe como a da Malagueira. Sentaram-se no chão. Levantaram-se e cantaram dirigidos pelos professores de música. Riram e comentaram as suas prestações. Mastigaram os lanches que traziam de casa. E voltaram pela mão desses educadores.

No meio de muita algazarra, chamou-me a atenção uma menina que se deslocava numa cadeira de rodas. Uma criança com deficiência profunda. Uma reacção mais difícil ao contexto - feito de som alto, muita gente, algum calor, – implicou cuidados acrescidos por parte de vários professores e auxiliares, todos marcados pela preocupação visivel nos rostos e nos gestos. Pouco tempo depois da inclusão no grande grupo, a criança foi retirada para uma zona mais afastada, e em seguida deixei de a ver.

Outro menino, autista, passou o tempo todo aninhado no colo da professora de educação especial que o acompanha. Ela sentada no chão entre as outras crianças, e ele protegido pelos braços e pernas que transmitiam aconchego e tranquilidade.

Uma das professoras do primeiro ciclo dizia-me não compreender porque se tinham desvitalizado as CERCI’s. Que os pais esperam que as suas crianças sejam mais iguais às outras quando no meio delas…mas que assim, no meio dos outros, estas crianças estão a deixar de ser olhadas como diferentes para voltarem a ser vistas como coitadinhos. Porque ficam mais expostas as suas incapacidades de responder ao que é pedido ao grupo. A todos.

Saí dali a perguntar-me se será possível esperar que um dia a escola e a comunidade ofereçam respostas diferenciadas a cada criança, e a cada individuo, tendo a capacidade de avaliar as suas verdadeiras necessidades… Se vai chegar o tempo em que a escola seja capaz de valorizar, de facto, a identidade de cada um, articulando com a grande importância do grupo e com a noção do outro. O dia em que nenhuma professora no activo, me possa dizer que a escola é uma fábrica onde quem não reúne os requisitos pré definidos é cilindrado. Logo à entrada, no corredor, ou num outro qualquer canto ou momento. Como me aconteceu neste dia da criança.


Hoje é dia da criança.

À sombra da Igreja de S. Francisco, próximo da Praça 1º Maio em Évora, estiveram esta manhã centenas de crianças.
Chegaram pela mão de professores e funcionários de apoio ao 1º ciclo. Vieram a pé de escolas mais próximas como a do Rossio, ou de mais longe como a da Malagueira. Sentaram-se no chão. Levantaram-se e cantaram dirigidos pelos professores de música. Riram e comentaram as suas prestações. Mastigaram os lanches que traziam de casa. E voltaram pela mão desses educadores.

No meio de muita algazarra, chamou-me a atenção uma menina que se deslocava numa cadeira de rodas. Uma criança com deficiência profunda. Uma reacção mais difícil ao contexto - feito de som alto, muita gente, algum calor, – implicou cuidados acrescidos por parte de vários professores e auxiliares, todos marcados pela preocupação visivel nos rostos e nos gestos. Pouco tempo depois da inclusão no grande grupo, a criança foi retirada para uma zona mais afastada, e em seguida deixei de a ver.

Outro menino, autista, passou o tempo todo aninhado no colo da professora de educação especial que o acompanha. Ela sentada no chão entre as outras crianças, e ele protegido pelos braços e pernas que transmitiam aconchego e tranquilidade.

Uma das professoras do primeiro ciclo dizia-me não compreender porque se tinham desvitalizado as CERCI’s. Que os pais esperam que as suas crianças sejam mais iguais às outras quando no meio delas…mas que assim, no meio dos outros, estas crianças estão a deixar de ser olhadas como diferentes para voltarem a ser vistas como coitadinhos. Porque ficam mais expostas as suas incapacidades de responder ao que é pedido ao grupo. A todos.

Saí dali a perguntar-me se será possível esperar que um dia a escola e a comunidade ofereçam respostas diferenciadas a cada criança, e a cada individuo, tendo a capacidade de avaliar as suas verdadeiras necessidades… Se vai chegar o tempo em que a escola seja capaz de valorizar, de facto, a identidade de cada um, articulando com a grande importância do grupo e com a noção do outro. O dia em que nenhuma professora no activo, me possa dizer que a escola é uma fábrica onde quem não reúne os requisitos pré definidos é cilindrado. Logo à entrada, no corredor, ou num outro qualquer canto ou momento. Como me aconteceu neste dia da criança.

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