Os Verdes em Lisboa: Saqueado em plena luz do dia

21-01-2011
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No passado sábado, um lisboeta atento passeava pela pitoresca Feira da Ladra, quando, entre velharias e traquitanas, se deteve num friso de azulejos que lhe parecia familiar. Desconfiando a proveniência do painel, deslocou-se ao gaveto "assombrado" da Casal Ribeiro. Incrédulo, fotografou no local um indivíduo que, correndo risco de cair de um terceiro andar, roubava os frisos decorativos das janelas do prédio onde viveu Fernando Pessoa. O cidadão chamou as autoridades policiais, que tomaram conta da ocorrência.A denúncia às autoridades de um roubo de azulejos Arte Nova, da fachada de um prédio devoluto na Avenida Casal Ribeiro, poderá ter ditado o destino do edifício. A demolição deste imóvel esteve em cima da mesa em 2002 e foi travada quando a historiadora Marina Tavares Dias defendeu que, em 1915, aquele imóvel tinha tido um notável inquilino: o poeta Fernando Pessoa. Cinco anos depois, o veredicto poderá ser outro e a demolição poderá estar próxima. Pelo que o fim da casa onde terá vivido "por caridade" Fernando Pessoa, num quarto em cima da antiga Leitaria Alentejana, pode estar iminente, devido ao estado de degradação em que se encontra o imóvel.É que, durante todo este período, nada foi feito pela autarquia ou pelo proprietário para recuperar o edifício, que se tem mantido numa lenta agonia, fechado, de janelas e portas abertas. As lojas do piso térreo do imóvel foram ocupadas por sem-abrigo e toxicodependentes em Dezembro passado e nesse mesmo mês a Polícia Municipal e os Bombeiros vedaram todo o perímetro do imóvel devido ao perigo de derrocada.O director do Museu Nacional do Azulejo, Paulo Henriques, lamenta o saque e o abandono do património urbano de azulejaria da cidade de Lisboa. "As fachadas de azulejo de Lisboa, por preconceito, ainda não têm estatuto patrimonial. É muito grave desaparecer este património", lamenta. "Lisboa está mais pobre", diz o responsável, lembrando as palavras da ceramista Maria Keil, que descrevia Lisboa como "uma cidade de porcelana", e confirma a especulação comercial e o coleccionismo selvagem da arte de azulejaria, que muitas das vezes estimula o saque das fachadas lisboetas1.Exemplos de incúria camarária, com pilhagens aos seus azulejos oitocentistas, têm também acontecido na Quinta de Nª Srª da Paz, no Paço do Lumiar, e na casa onde viveu e morreu o escritor Almeida Garrett, em Campo de Ourique. Neste último caso o IPPAR não classificou o edifício, tendo apenas recomendado a sua classificação como edifício de interesse municipal, parecer que chegou depois da autorização de demolição.Fachadas de azulejos a voar, pareceres atrasados e CML a ‘assobiar’ para o lado. Quer adquirir um friso de azulejos? Vá à Feira (com toda a propriedade) de nome Ladra...1. “Prédio onde viveu o poeta Fernando Pessoa saqueado em plena luz do dia” por Diana Ralha, Público de 2007-03-01.


No passado sábado, um lisboeta atento passeava pela pitoresca Feira da Ladra, quando, entre velharias e traquitanas, se deteve num friso de azulejos que lhe parecia familiar. Desconfiando a proveniência do painel, deslocou-se ao gaveto "assombrado" da Casal Ribeiro. Incrédulo, fotografou no local um indivíduo que, correndo risco de cair de um terceiro andar, roubava os frisos decorativos das janelas do prédio onde viveu Fernando Pessoa. O cidadão chamou as autoridades policiais, que tomaram conta da ocorrência.A denúncia às autoridades de um roubo de azulejos Arte Nova, da fachada de um prédio devoluto na Avenida Casal Ribeiro, poderá ter ditado o destino do edifício. A demolição deste imóvel esteve em cima da mesa em 2002 e foi travada quando a historiadora Marina Tavares Dias defendeu que, em 1915, aquele imóvel tinha tido um notável inquilino: o poeta Fernando Pessoa. Cinco anos depois, o veredicto poderá ser outro e a demolição poderá estar próxima. Pelo que o fim da casa onde terá vivido "por caridade" Fernando Pessoa, num quarto em cima da antiga Leitaria Alentejana, pode estar iminente, devido ao estado de degradação em que se encontra o imóvel.É que, durante todo este período, nada foi feito pela autarquia ou pelo proprietário para recuperar o edifício, que se tem mantido numa lenta agonia, fechado, de janelas e portas abertas. As lojas do piso térreo do imóvel foram ocupadas por sem-abrigo e toxicodependentes em Dezembro passado e nesse mesmo mês a Polícia Municipal e os Bombeiros vedaram todo o perímetro do imóvel devido ao perigo de derrocada.O director do Museu Nacional do Azulejo, Paulo Henriques, lamenta o saque e o abandono do património urbano de azulejaria da cidade de Lisboa. "As fachadas de azulejo de Lisboa, por preconceito, ainda não têm estatuto patrimonial. É muito grave desaparecer este património", lamenta. "Lisboa está mais pobre", diz o responsável, lembrando as palavras da ceramista Maria Keil, que descrevia Lisboa como "uma cidade de porcelana", e confirma a especulação comercial e o coleccionismo selvagem da arte de azulejaria, que muitas das vezes estimula o saque das fachadas lisboetas1.Exemplos de incúria camarária, com pilhagens aos seus azulejos oitocentistas, têm também acontecido na Quinta de Nª Srª da Paz, no Paço do Lumiar, e na casa onde viveu e morreu o escritor Almeida Garrett, em Campo de Ourique. Neste último caso o IPPAR não classificou o edifício, tendo apenas recomendado a sua classificação como edifício de interesse municipal, parecer que chegou depois da autorização de demolição.Fachadas de azulejos a voar, pareceres atrasados e CML a ‘assobiar’ para o lado. Quer adquirir um friso de azulejos? Vá à Feira (com toda a propriedade) de nome Ladra...1. “Prédio onde viveu o poeta Fernando Pessoa saqueado em plena luz do dia” por Diana Ralha, Público de 2007-03-01.

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