Viseu, Senhora da Beira...: O 2 de Maio de outrora!

23-12-2009
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No dia 2 de Maio de 1834, era grande a agitação na cidade de Vizeu, porque dizia-se que estava a chegar o Duque da Terceira, e com elle a liberdade constitucional. Com effeito, pelas 5 horas da tarde do mesmo dia, via-se um enorme concurso de povo estacionado na Ribeira. Notava-se em todos os rostos a maior anciedade pela chegada dos constitucionaes, pois que alli se achavam paes, filhos, e esposas, que desejavam vêr e abraçar os entes queridos que a guerra lhes trazia longe há dois annos. Por isso todos os olhares convergiam sobre os montes Castro, fronteiros a Abravezes, esperando a cada momento verem desembocar por as suas gargantas os victorioso soldados.De subito um immenso brado de alegria rompeu de todas as boccas. Ao longe, no cume dos montes, via-se uma massa escura que tendia a crescer mais e mais.Eram elles, eram os constitucionaes. Tudo correu ao seu encontro. Nos templos da cidade, repicavam festivamente os sinos, e sentia-se o estourar de numerosos foguetes.A festa era enorme, echoando por assim dizer em todos os peitos. E com razão, porque Vizeu, que foi uma das cidades que mais tributo prestou á causa constitucional, gemia esmagada pelo absolutismo, e por isso anhelava a hora da liberdade, como arabe anhela a breve passagem do deserto.A divisão já se via perto. A´frente cavalgava o Duque da Terceira radiante de gloria e alegria. A banda da divisão tocava o hymno Constitucional. E aquelles soldados cobertos de pó, cheios de cançaço, tinham todavia a força necessária para gritarem com o maior enthusiasmo: - Viva a Carta Constitucional! Viva D. Pedro IV!E´que adiante, muito perto já, descortinava-se Vizeu, a querida patria, o lar, a familia que não tinham visto ha dois anos. Por isso é que os fortes corações d’aquelles intrepidos, guerreiros se commoviam, sentindo correr as lagrimas de jubilo pelas faces tisnadas e denegridas pelo fumo e fragor das batalhas.O quadro era comovente. A multidão que chegava corria a estreitar-se nos braços que lhe abria a multidão que esperava. Os detalhes d´esta grandiosa scena eram puramente dramaticos.Aqui via-se um velho alquebrado pelos annos, dizendo com a expressão de quem acha uma coisa que julgava perdida: - E´s tu, meu filho?...- e depois qual outro Semeão:- Agora poderei morrer em paz, Senhor !E o hymno da Carta echoava dulcissimamente em todos os corações como que dizendo-lhes:- Partiram-se as algemas Sois livres!De facto, d’esse dia a esta parte ficou estabelecido em Vizeu, o systema constitucional.Por isso é que o dia 2 de Maio é de festa para Vizeu porque celebra este fausto acontecimento.Vizeu.JOSÉ DE ALMEIDA E SILVAIn, “Album de Vizeu” - Ilustrado com os retratos de - Viriato, João de Barros, D. Duarte, João Mendes, Bispo de Viseu e estampas da cidade – cava de Viriato, Abravezes, S. Francisco d’Orgens, Praça dois de Maio, Sé, etc.Textos de diversos colaboradoras e colaboradores, à volta de Viseu, de viseenses ilustres e ainda pequenos contos, prosas e versos de motivos vários (Recolha e organização de Camillo Castelo Branco ?).Typographia Universal, Rua do Almada, 347, Porto - 1884(enviado pelo AJ via mail)


No dia 2 de Maio de 1834, era grande a agitação na cidade de Vizeu, porque dizia-se que estava a chegar o Duque da Terceira, e com elle a liberdade constitucional. Com effeito, pelas 5 horas da tarde do mesmo dia, via-se um enorme concurso de povo estacionado na Ribeira. Notava-se em todos os rostos a maior anciedade pela chegada dos constitucionaes, pois que alli se achavam paes, filhos, e esposas, que desejavam vêr e abraçar os entes queridos que a guerra lhes trazia longe há dois annos. Por isso todos os olhares convergiam sobre os montes Castro, fronteiros a Abravezes, esperando a cada momento verem desembocar por as suas gargantas os victorioso soldados.De subito um immenso brado de alegria rompeu de todas as boccas. Ao longe, no cume dos montes, via-se uma massa escura que tendia a crescer mais e mais.Eram elles, eram os constitucionaes. Tudo correu ao seu encontro. Nos templos da cidade, repicavam festivamente os sinos, e sentia-se o estourar de numerosos foguetes.A festa era enorme, echoando por assim dizer em todos os peitos. E com razão, porque Vizeu, que foi uma das cidades que mais tributo prestou á causa constitucional, gemia esmagada pelo absolutismo, e por isso anhelava a hora da liberdade, como arabe anhela a breve passagem do deserto.A divisão já se via perto. A´frente cavalgava o Duque da Terceira radiante de gloria e alegria. A banda da divisão tocava o hymno Constitucional. E aquelles soldados cobertos de pó, cheios de cançaço, tinham todavia a força necessária para gritarem com o maior enthusiasmo: - Viva a Carta Constitucional! Viva D. Pedro IV!E´que adiante, muito perto já, descortinava-se Vizeu, a querida patria, o lar, a familia que não tinham visto ha dois anos. Por isso é que os fortes corações d’aquelles intrepidos, guerreiros se commoviam, sentindo correr as lagrimas de jubilo pelas faces tisnadas e denegridas pelo fumo e fragor das batalhas.O quadro era comovente. A multidão que chegava corria a estreitar-se nos braços que lhe abria a multidão que esperava. Os detalhes d´esta grandiosa scena eram puramente dramaticos.Aqui via-se um velho alquebrado pelos annos, dizendo com a expressão de quem acha uma coisa que julgava perdida: - E´s tu, meu filho?...- e depois qual outro Semeão:- Agora poderei morrer em paz, Senhor !E o hymno da Carta echoava dulcissimamente em todos os corações como que dizendo-lhes:- Partiram-se as algemas Sois livres!De facto, d’esse dia a esta parte ficou estabelecido em Vizeu, o systema constitucional.Por isso é que o dia 2 de Maio é de festa para Vizeu porque celebra este fausto acontecimento.Vizeu.JOSÉ DE ALMEIDA E SILVAIn, “Album de Vizeu” - Ilustrado com os retratos de - Viriato, João de Barros, D. Duarte, João Mendes, Bispo de Viseu e estampas da cidade – cava de Viriato, Abravezes, S. Francisco d’Orgens, Praça dois de Maio, Sé, etc.Textos de diversos colaboradoras e colaboradores, à volta de Viseu, de viseenses ilustres e ainda pequenos contos, prosas e versos de motivos vários (Recolha e organização de Camillo Castelo Branco ?).Typographia Universal, Rua do Almada, 347, Porto - 1884(enviado pelo AJ via mail)

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