O aperto do cinto é cada vez mais uma coisa só para alguns... Os juízes do Tribunal Constitucional têm agora novos carros e a factura, bem gorda, foi paga com dinheiros públicos. Foi o antigo presidente do Tribunal Constitucional quem decidiu substituir a frota do Peugeot 406 HDI. O negócio foi concretizado através da central de compras do Estado. Para satisfazer o estatuto deste órgão de soberania, foram comprados 13 modernos BMW de alta cilindrada. Com esta aquisição substitui-se a frota antiga na estrada desde 1998. No total, gastaram-se 484 mil euros nos novos carros.O juiz presidente, Artur Maurício, teve direito a um BMW 730. Ao vice-presidente do Tribunal Constitucional foi-lhe atribuído o 530 D e aos restantes onze juízes foi entregue a série 3 da mesma versão. O Tribunal Constitucional tem autonomia administrativa e financeira. É financiado através do orçamento de Estado, mas também pelas receitas próprias, conseguidas através das taxas processuais.Razão tinha o nosso Eça quando escrevia em 1867:"Sempre que no Parlamento se levanta a voz plangente dum ministro, pedindo que cresça a bolsa do fisco e se cubra de impostos a fazenda do pobre, para salvação económica da pátria, há agitações, receios, temores, inquietações, oposições terríveis, descontentamentos incuráveis. O povo vê passar tudo, indiferente, e atende ao movimento da nossa política, da nossa economia, da nossa instrução, com a mesma sonolenta indiferença e estéril desleixo com que atenderia à história que lhe contassem das guerras exterminadoras duma antiga república perdida. (...)Temos um déficit de 5.000 contos. Esta é a negra, a terrível, a assustadora verdade. Quem o promoveu? Quem o criou? De que desperdícios incalculáveis se formou? Como cresceu? Quem o alarga? É o governo? Foram estes homens que combatem, foram aqueles que defendem, foram aqueles que estão mudos? Não. Não foi ninguém. Foram as necessidades, as incúrias consecutivas, os maus métodos consolidados, a péssima administração de todos, o desperdício de todos.Depois, as necessidades da vida moderna, de terrível dispêndio para as nações.Como na vida particular, cresceram as superfluidades, o vão luxo, o aparato consumidor, mais precisões, mais gastos, a vida internacional tornou-se tão cara que mais ou menos todas as nações estão esfomeadas e magras. (...)O déficit tornou-se um vício nacional, profundamente arraigado, indissoluvelmente preso ao solo, uma lepra incurável."Mas que há uns que têm solução para tudo, isso há...
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O aperto do cinto é cada vez mais uma coisa só para alguns... Os juízes do Tribunal Constitucional têm agora novos carros e a factura, bem gorda, foi paga com dinheiros públicos. Foi o antigo presidente do Tribunal Constitucional quem decidiu substituir a frota do Peugeot 406 HDI. O negócio foi concretizado através da central de compras do Estado. Para satisfazer o estatuto deste órgão de soberania, foram comprados 13 modernos BMW de alta cilindrada. Com esta aquisição substitui-se a frota antiga na estrada desde 1998. No total, gastaram-se 484 mil euros nos novos carros.O juiz presidente, Artur Maurício, teve direito a um BMW 730. Ao vice-presidente do Tribunal Constitucional foi-lhe atribuído o 530 D e aos restantes onze juízes foi entregue a série 3 da mesma versão. O Tribunal Constitucional tem autonomia administrativa e financeira. É financiado através do orçamento de Estado, mas também pelas receitas próprias, conseguidas através das taxas processuais.Razão tinha o nosso Eça quando escrevia em 1867:"Sempre que no Parlamento se levanta a voz plangente dum ministro, pedindo que cresça a bolsa do fisco e se cubra de impostos a fazenda do pobre, para salvação económica da pátria, há agitações, receios, temores, inquietações, oposições terríveis, descontentamentos incuráveis. O povo vê passar tudo, indiferente, e atende ao movimento da nossa política, da nossa economia, da nossa instrução, com a mesma sonolenta indiferença e estéril desleixo com que atenderia à história que lhe contassem das guerras exterminadoras duma antiga república perdida. (...)Temos um déficit de 5.000 contos. Esta é a negra, a terrível, a assustadora verdade. Quem o promoveu? Quem o criou? De que desperdícios incalculáveis se formou? Como cresceu? Quem o alarga? É o governo? Foram estes homens que combatem, foram aqueles que defendem, foram aqueles que estão mudos? Não. Não foi ninguém. Foram as necessidades, as incúrias consecutivas, os maus métodos consolidados, a péssima administração de todos, o desperdício de todos.Depois, as necessidades da vida moderna, de terrível dispêndio para as nações.Como na vida particular, cresceram as superfluidades, o vão luxo, o aparato consumidor, mais precisões, mais gastos, a vida internacional tornou-se tão cara que mais ou menos todas as nações estão esfomeadas e magras. (...)O déficit tornou-se um vício nacional, profundamente arraigado, indissoluvelmente preso ao solo, uma lepra incurável."Mas que há uns que têm solução para tudo, isso há...