Não saias da casa dos pais, Matt

15-06-2011
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A última vez que Matt Mondanile esteve em Lisboa saiu magia: "Killin" the Vibe", a espantosa canção com Panda Bear que, de repente, fez de Ducktails algo mais do que um (maravilhoso) discreto projecto de quarto - ou de cave

Em tempos em que qualquer computador é uma espécie de mini-estúdio, Matt Mondanile prefere um gravador analógico de oito pistas. Para a semana, em Lisboa e Guimarães, estará de novo entre nós. Pedro Rios

A última vez que Matt Mondanile esteve em Lisboa saiu magia. Ou, melhor, o início de magia - e por magia referimo-nos a "Killin" the Vibe", a espantosa canção com Panda Bear que, de repente, fez de Ducktails algo mais do que um (maravilhoso) discreto projecto de quarto - ou de cave - nascido em Nova Jérsia, Estados Unidos.

"Conheci Noah Lennox [Panda Bear] em Lisboa num concerto de Atlas Sound. Estava em Lisboa há uma semana. Escrevi "Killin" the Vibe" na ZDB e mandei a canção já gravada, meses depois, pedindo a participação dele. Uns meses depois, estava em Leeds, no Reino Unido, onde estou agora, e recebi a canção de volta", conta Matt Mondanile ao Ípsilon.

Matt actua quinta e sexta-feira na ZDB e no Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães, com os conterrâneos Julian Lynch e Big Troubles. "São sete dos meus melhores amigos. Nova Jérsia é uma cidade pequena. Eu e os meus amigos crescemos juntos a ir a concertos. Todos partilhamos projectos e somos bons amigos. Bandas influenciaram outras bandas e influenciaram putos a formar outras bandas. É muito pequeno e é assim que é a digressão. Todos tocamos nas bandas uns dos outros".

A versão de "Killin" the Vibe" com Panda Bear (há uma outra versão, sem o membro dos Animal Collective) foi o maior momento de exposição de um projecto que começou de forma desarmantemente simples (como as suas canções). "Queria lançar música, por isso gravei seis canções numa cassete na qual escrevi "Ducktails". Quis continuar a lançar música, por isso mantive o nome", revela Matt, rapaz nada dado a mitificações sobre a sua própria obra - é mais adepto de Budweiser e das miúdas do que dos conceitos, o que só lhe fica bem.

Em Berlim, onde viveu durante sete meses enquanto estudava na faculdade, conheceu gente como James Ferraro e Spencer Clark, que passavam os dias a gravar música estranhíssima para os ouvidos do jovem Matt. Gravavam-na com meios artesanais e distribuíam-na em cassetes para todo o mundo.

Foi a sua introdução à rede "underground" do faz-tu-mesmo. No Verão de 2007, Matt, então a viver em Northampton, Massachusetts, decidiu improvisar uma cassete para oferecer numa noite de concertos. Nascia Ducktails, projecto que exploraria mais a fundo quando voltou à casa dos pais, depois de acabar com a namorada com quem vivia em Northampton.

Na cave da casa dos pais, com guitarras, caixas de ritmo rudimentares e teclados (entre eles, um Casio de brincar), começou a gravar vários discos que editaria em cassete ou vinil. Em tempos em que qualquer computador é um mini-estúdio, Matt preferiu um gravador analógico de oito pistas. É, aliás, com "receio" que vai para estúdio gravar o próximo álbum, revela. Quer "expandir" o seu som.

Pós-original

"No início, fazia canções mais abstractas e nubladas. Agora, estou a tentar compor canções mais directas. Gostava de combinar as duas coisas, improvisação e escrita de canções juntas", conta. "Ducktails III: Arcade Dynamics", o álbum mais recente, pende para o lado das canções: solares, a esconder mestria por trás de uma aura de preguiça e inacabamento, algures entre as guitarras dos Felt de "Forever Breathes the Lonely Word" e aquilo que soam a versões juvenis de discos "kraut" de sintetizadores.

Projectos como Ducktails ofereceram uma transição suave entre a América estranha dos Wolf Eyes, Skaters e Black Dice (o período "noise") para um cenário mais esbatido, em que as fronteiras entre o "underground" e o gosto dominante não são tão visíveis.

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Como acontece com outros da sua geração, como Ariel Pink ou James Ferraro, a música de Ducktails lida com uma das narrativas mais importantes do "indie" moderno: a memória. Há um mês, na "Wire", entrevistada por Simon Reynolds, Amanda Brown, patroa da Not Not Fun (editora fundamental, que já lançou vários discos de Ducktails), atirou o que há uns anos seria uma heresia: "É um tempo interessante para a música porque as pessoas não estão a tentar criar algo de totalmente novo. A originalidade já não é o mais importante".

Esta geração - que já levou com rótulos como "chillwave" e "hypnagogic pop", mas cujos traços identitários não se confinam a essas pequenas cenas - configura uma mudança no que era tradicionalmente o "indie". Como nota Reynolds nesse artigo, se o "noise" e o "indie" dos anos 80 rejeitavam tudo o que era visto como "mainstream", o novo indie parece fascinado com toda a pop que lhe passou ao lado.

Matt, que sempre gostou de pop e de noise, diz que "a memória é um elemento enorme da música pop". "As canções são memórias reunidas, escritas como uma pequena novela", reflecte. No fim de contas, "vislumbrar o passado e trazer o que vimos para o presente" já é criar algo de novo.

A última vez que Matt Mondanile esteve em Lisboa saiu magia: "Killin" the Vibe", a espantosa canção com Panda Bear que, de repente, fez de Ducktails algo mais do que um (maravilhoso) discreto projecto de quarto - ou de cave

Em tempos em que qualquer computador é uma espécie de mini-estúdio, Matt Mondanile prefere um gravador analógico de oito pistas. Para a semana, em Lisboa e Guimarães, estará de novo entre nós. Pedro Rios

A última vez que Matt Mondanile esteve em Lisboa saiu magia. Ou, melhor, o início de magia - e por magia referimo-nos a "Killin" the Vibe", a espantosa canção com Panda Bear que, de repente, fez de Ducktails algo mais do que um (maravilhoso) discreto projecto de quarto - ou de cave - nascido em Nova Jérsia, Estados Unidos.

"Conheci Noah Lennox [Panda Bear] em Lisboa num concerto de Atlas Sound. Estava em Lisboa há uma semana. Escrevi "Killin" the Vibe" na ZDB e mandei a canção já gravada, meses depois, pedindo a participação dele. Uns meses depois, estava em Leeds, no Reino Unido, onde estou agora, e recebi a canção de volta", conta Matt Mondanile ao Ípsilon.

Matt actua quinta e sexta-feira na ZDB e no Centro Cultural Vila Flor, em Guimarães, com os conterrâneos Julian Lynch e Big Troubles. "São sete dos meus melhores amigos. Nova Jérsia é uma cidade pequena. Eu e os meus amigos crescemos juntos a ir a concertos. Todos partilhamos projectos e somos bons amigos. Bandas influenciaram outras bandas e influenciaram putos a formar outras bandas. É muito pequeno e é assim que é a digressão. Todos tocamos nas bandas uns dos outros".

A versão de "Killin" the Vibe" com Panda Bear (há uma outra versão, sem o membro dos Animal Collective) foi o maior momento de exposição de um projecto que começou de forma desarmantemente simples (como as suas canções). "Queria lançar música, por isso gravei seis canções numa cassete na qual escrevi "Ducktails". Quis continuar a lançar música, por isso mantive o nome", revela Matt, rapaz nada dado a mitificações sobre a sua própria obra - é mais adepto de Budweiser e das miúdas do que dos conceitos, o que só lhe fica bem.

Em Berlim, onde viveu durante sete meses enquanto estudava na faculdade, conheceu gente como James Ferraro e Spencer Clark, que passavam os dias a gravar música estranhíssima para os ouvidos do jovem Matt. Gravavam-na com meios artesanais e distribuíam-na em cassetes para todo o mundo.

Foi a sua introdução à rede "underground" do faz-tu-mesmo. No Verão de 2007, Matt, então a viver em Northampton, Massachusetts, decidiu improvisar uma cassete para oferecer numa noite de concertos. Nascia Ducktails, projecto que exploraria mais a fundo quando voltou à casa dos pais, depois de acabar com a namorada com quem vivia em Northampton.

Na cave da casa dos pais, com guitarras, caixas de ritmo rudimentares e teclados (entre eles, um Casio de brincar), começou a gravar vários discos que editaria em cassete ou vinil. Em tempos em que qualquer computador é um mini-estúdio, Matt preferiu um gravador analógico de oito pistas. É, aliás, com "receio" que vai para estúdio gravar o próximo álbum, revela. Quer "expandir" o seu som.

Pós-original

"No início, fazia canções mais abstractas e nubladas. Agora, estou a tentar compor canções mais directas. Gostava de combinar as duas coisas, improvisação e escrita de canções juntas", conta. "Ducktails III: Arcade Dynamics", o álbum mais recente, pende para o lado das canções: solares, a esconder mestria por trás de uma aura de preguiça e inacabamento, algures entre as guitarras dos Felt de "Forever Breathes the Lonely Word" e aquilo que soam a versões juvenis de discos "kraut" de sintetizadores.

Projectos como Ducktails ofereceram uma transição suave entre a América estranha dos Wolf Eyes, Skaters e Black Dice (o período "noise") para um cenário mais esbatido, em que as fronteiras entre o "underground" e o gosto dominante não são tão visíveis.

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Como acontece com outros da sua geração, como Ariel Pink ou James Ferraro, a música de Ducktails lida com uma das narrativas mais importantes do "indie" moderno: a memória. Há um mês, na "Wire", entrevistada por Simon Reynolds, Amanda Brown, patroa da Not Not Fun (editora fundamental, que já lançou vários discos de Ducktails), atirou o que há uns anos seria uma heresia: "É um tempo interessante para a música porque as pessoas não estão a tentar criar algo de totalmente novo. A originalidade já não é o mais importante".

Esta geração - que já levou com rótulos como "chillwave" e "hypnagogic pop", mas cujos traços identitários não se confinam a essas pequenas cenas - configura uma mudança no que era tradicionalmente o "indie". Como nota Reynolds nesse artigo, se o "noise" e o "indie" dos anos 80 rejeitavam tudo o que era visto como "mainstream", o novo indie parece fascinado com toda a pop que lhe passou ao lado.

Matt, que sempre gostou de pop e de noise, diz que "a memória é um elemento enorme da música pop". "As canções são memórias reunidas, escritas como uma pequena novela", reflecte. No fim de contas, "vislumbrar o passado e trazer o que vimos para o presente" já é criar algo de novo.

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