O surfista que abalou o mundo do design tipográfico

15-06-2011
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Na música, nas ruas, nas histórias que lê... A inspiração está em todo o lado, acredita o designer gráfico norte-americano. Para muitos, David Carson revolucionou o mundo do grafismo. Apesar das novas tecnologias e dos novos media, Carson continua apaixonado pelo grafismo no papel, mais concretamente nas revistas. Gosta de "histórias reais, com pessoas reais"

Foi descrito como "uma das mais distintas vozes tipográficas do mundo", pelaI.D. Mag, e acusado de mudar "o rosto público do design gráfico", segundo a Newsweek, com o seu trabalho "visualmente estonteante", define a USA Today. Mas a sua postura relaxada contrasta com a intensidade dos louvores que lhe são dirigidos. Com as mãos nos bolsos e pele queimada pelo sol, David Carson, de 58 anos, não esconde a influência da sua juventude de beach boy na Califórnia do Sul, nos EUA. Com apenas duas semanas de formação na área e a atitude "why not?" de quem usa um relógio em cada pulso, conseguiu agitar o mundo do design tipográfico nos anos de 1990, principalmente através da revista RayGun. Esteve em Matosinhos para a abertura da sua exposição, que está no Espaço Quadra até 27 de Agosto.

Quem é o David Carson?

Quem me dera saber. [risos] Muita gente que conhece o meu trabalho conhece-o devido aos trabalhos mais antigos. A revistaexistia no início dos anos de 1990 e quando se deixa de fazer revistas regulares às vezes desaparece-se um pouco da esfera pública. Mas eu tenho estado muito ocupado. [Na exposição] vão ter uma noção do David Carson de hoje: aquilo em que estou a trabalhar, o que se passa na minha vida. Provavelmente vão ver uma ou duas fotos minhas a surfar...

Já teve tempo para surfar?

Cá, ainda não. Eu tenho uma casa nas Caraíbas para onde vou no Inverno. Tem óptimas ondas! Seria bom se pudesse dizer "sim, surfei em Portugal", mas se não for também não há problema.

Numa entrevista sublinhou a importância de "encontrar aquilo, o que quer que seja, que se adora fazer, e que se aprecia quando se vai trabalhar". Pensa que encontrou essa ocupação?

Sim, definitivamente. Acho que tive muita sorte porque não estava realmente à procura. Quer dizer, provavelmente estava... Eu fiz umde Verão, durante duas semanas, sobre uma coisa chamada "design gráfico". Nunca tinha ouvido falar daquilo. Tinha 26 anos, e foi tão claro para mim que era o que eu queria fazer. Tudo mudou depois disso. E sinto-me mais como se fosse um, por isso acho que tive mesmo muita sorte.

Quais são as suas maiores inspirações quando está a criar?

É a própria "coisa". Como não tenho nenhum tipo de treino formal em design, tenho de fazer aquilo que faz sentido para mim. Por isso, leio o artigo, e isso geralmente empurra-me numa determinada direcção. E se isso não acontecer, então talvez olhe para as fotografias que fazem parte do artigo e essas direccionam-me de alguma forma porque podem transmitir raiva, tristeza ou felicidade...

E se for música?

Se for música, tenho de a ouvir primeiro para saber como é que se poderia traduzir visualmente. Por isso, procuro duas fontes de inspiração. A principal está dentro do projecto, independentemente daquilo em que se está a trabalhar, a solução está lá. Se se tiver apenas uma fórmula ou uma grelha, pode-se inserir o artigo lá e fica um bocado entediante, e quando as pessoas o vêem sentem-se aborrecidas. O meu processo é mais aberto e livre. E a outra fonte de inspiração é o ambiente à minha volta. Estou sempre a tirar fotografias - tirei centenas esta semana. Ou talvez pequenas coisas. Não necessariamente para copiar mas, de alguma forma, registo sempre uma determinada combinação cromática, ou uma mistura estranha de alguma coisa que vi. E, muitas vezes, também tenho a oportunidade de utilizar fotografia nos meus trabalhos. Por isso, a inspiração está em todo o lado.

Já fez design de produto, de revistas, campanhas políticas, videoclipes... Tem algum meio preferido?

Penso que gosto sempre mais das revistas. Foi aí que comecei, nas revistas pode-se experimentar muitas coisas. Eu gostaria de fazer mais coisas em movimento. Ainda estou muito intrigado com a ideia de fazer filmes e documentários. A minha formação de base é em Sociologia. Por isso, gostaria de fazer mais cinema, mas, provavelmente, não seria necessariamente algo louco. Acho mais interessante fazer algo sobre uma pessoa real, que mostre alguns aspectos invulgares da sua vida, fotografados de forma invulgar. E isso intriga-me. Eu fiz alguns anúncios de televisão e videoclipes, mas acho que ainda não me dediquei ao movimento como gostaria. E não estou a falar da Web, esta não me fascina tanto como a outros designers.

São os projectos que o escolhem ou é o David que os escolhe?

Bem, eles tendem a vir ter comigo. Tenho tido sorte. Os primeiros trabalhos tiveram muita publicidade e eu sobrevivi disso, de certa forma. É engraçado observar a evolução da tecnologia nesse sentido. Antes, o telefone tocava e eu sabia que tinha conseguido um grande trabalho. Depois, chegava de manhã e recebia um fax, e pensava "oh, isto deve ser cool" e era da Armani ou assim. E agora vou ver a caixa de emails e, de repente, estou a fazer um poster para o "grupo" de futebol Manchester United [risos]. Esse email recebi-o no outro dia, de forma totalmente inesperada, e pensei "isto é interessante, o que será que posso fazer por eles?" Por isso, tive muita sorte de os primeiros trabalhos terem tido muita publicidade e agora as encomendas vêm ter comigo. Não tenho que mandar postais como muitos outros designers, para tentar arranjar trabalho. Claro que isto vai e vem. Nos últimos meses tenho estado muito ocupado e agora está a acalmar um bocado, mas estou bem assim. Gosto de ter liberdade para poder vir a eventos como este e ainda ir surfar nas Caraíbas. Provavelmente poderia ter uma empresa maior se fosse um empresário melhor. Mas sou só eu e, às vezes, um ou dois assistentes.

Tem planos específicos ou quer continuar a aceitar os projectos que vêm ter consigo?

Às vezes penso que vou acabar a fazer mais projectos em filme ou vou estar na minha casa nas Caraíbas a pintar. Espero que casado e com bebés pequenos [risos]

Tem um projecto preferido, dos que fez até hoje?

Tenho alguns. Um deles é a revista Beach Culture, que fiz antes da RayGun. Essa foi a primeira vez que tive liberdade total, uma revista inteira para fazer e em que eu tinha praticamente a última palavra. Mas poucas pessoas viram essa revista. Ainda não sabemos ao certo quantas foram impressas e, em dois anos, lançámos seis números. O mais impressionante foi termos feito seis, porque a revista era da Surfer Publications, que faz a Surfer Magazine, e eles não tinham bem a certeza do que fazer com ela. Mas eu tive um grande editor, trabalhávamos só os dois, e acho que ela se aguentou bastante bem. E depois veio a RayGun. Podia-se ir a qualquer mercearia na América e ver a RayGun. Houve uma grande reacção dos media e da imprensa de design. E eu só pensava: "Eu já andava a fazer isto, qual é o problema?" Mas era o facto de as pessoas a poderem encontrar. Depois, fiz 30 edições e tentei nunca me repetir, por isso foi um importante veículo experimental.

Estava à espera que se tornasse numa influência tipográfica tão grande para outras revistas?

Não, acho que não se pode ver as coisas dessa forma e ter tanto sucesso. Não poderia dizer: "OK, vou-me sentar aqui e fazer explodir o mundo da tipografia" ou "espera só até eles verem isto". Estou apenas a fazer aquilo que me apaixona, a experimentar e a tentar desafiar-me. Houve toda aquela reacção, o que é agradável e bom. Mas, por exemplo, o objectivo de um artigo nunca é torná-lo difícil de ler. Ou seja, o ponto de partida não é "vamos fazer algo realmente estranho" ou "vamos tornar isto difícil de ler" [risos].

Onde é que acha que a Sociologia, o surf e o design se encontram? Vê alguma relação entre eles?

Não acho que haja uma ligação directa, mas indirectamente existe, de certeza. Eu tirei Sociologia e fui professor nessa área porque era interessante para mim. Mesmo tendo os meus pais a dizer "não, tira gestão, precisas de aulas de gestão porque vais acabar no mundo empresarial". Mas quando me liguei ao design gráfico foi muito mais interessante para mim fazer uma revista e trabalhar sobre histórias reais, sobre pessoas reais e interpretar aquilo que se passava nas suas vidas e o que elas diziam nas entrevistas. Isso era, e ainda é, muito mais fascinante do que, por exemplo, criar uma nova embalagem para pasta de dentes ou uma caixa de sapatos. Pode ser divertido, de vez em quando, e eu já fiz anúncios de publicidade, mas acho que o meu interesse em Sociologia se reflecte no meu interesse em revistas, e em ler histórias reais sobre pessoas reais e dar-lhes uma sensação em conformidade com essa pessoa ou essa história, e talvez em ter noção de como as pessoas reagem a diferentes cores e formas. Não acho que seja uma relação específica ou directa.

E o surf?O mundo do surf tem reputação de ser radical e de fazer todas estas coisas estranhas a nível de design. Mas os surfistas, na realidade, são um grupo surpreendentemente conservador quando sai da água. Eu reformulei a Surfer Magazine e as pessoas foram à loucura, odiaram. A sua revista estava diferente. Passados dois meses, todos os anúncios tinham aquele aspecto e já não era nada de especial. A única coisa que posso dizer sobre o surf é que eu cresci na Califórnia do Sul, no meio do ambiente de surf, skate e praia. E nesse ambiente há uma certa atitude de "why not?" (porque não?) e de experimentação. Se eu tivesse crescido no interior do país, que é um pouco mais conservador, não seria igual. Não tenho muitas restrições quando trabalho, qualquer coisa é possível, e parte disso vem de eu ter crescido numa cultura de surf.

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Nunca trabalha sem música. O que é que está a ouvir actualmente?

Posso mostrar-lhe [pesquisa no leitor de MP3]... Um dos alunos, no meu, sugeriu-me The Walkmen. Gosto de pensar que me mantenho actualizado. Gosto de muitas, e daquilo a que normalmente se chama música alternativa.

A música que ouve enquanto trabalha influencia-o?

Sim, no sentido de me pôr com boa disposição. Uma disposição de: "Tenho um novo projecto, sobre o qual estou entusiasmado, tenho boa música, vou beber café..." Todo aquele espaço em que me encontro é muito bom. Por isso não consigo trabalhar sem música. Sempre que eu começava uma nova edição, ia comprar um novo conjunto de CD, e o projecto transformava-se na experiência daquela música. [continua a pesquisar na lista de músicas do MP3] Vou-me lembrar de 500 bandas cool logo que acabarmos a entrevista [risos]

Na música, nas ruas, nas histórias que lê... A inspiração está em todo o lado, acredita o designer gráfico norte-americano. Para muitos, David Carson revolucionou o mundo do grafismo. Apesar das novas tecnologias e dos novos media, Carson continua apaixonado pelo grafismo no papel, mais concretamente nas revistas. Gosta de "histórias reais, com pessoas reais"

Foi descrito como "uma das mais distintas vozes tipográficas do mundo", pelaI.D. Mag, e acusado de mudar "o rosto público do design gráfico", segundo a Newsweek, com o seu trabalho "visualmente estonteante", define a USA Today. Mas a sua postura relaxada contrasta com a intensidade dos louvores que lhe são dirigidos. Com as mãos nos bolsos e pele queimada pelo sol, David Carson, de 58 anos, não esconde a influência da sua juventude de beach boy na Califórnia do Sul, nos EUA. Com apenas duas semanas de formação na área e a atitude "why not?" de quem usa um relógio em cada pulso, conseguiu agitar o mundo do design tipográfico nos anos de 1990, principalmente através da revista RayGun. Esteve em Matosinhos para a abertura da sua exposição, que está no Espaço Quadra até 27 de Agosto.

Quem é o David Carson?

Quem me dera saber. [risos] Muita gente que conhece o meu trabalho conhece-o devido aos trabalhos mais antigos. A revistaexistia no início dos anos de 1990 e quando se deixa de fazer revistas regulares às vezes desaparece-se um pouco da esfera pública. Mas eu tenho estado muito ocupado. [Na exposição] vão ter uma noção do David Carson de hoje: aquilo em que estou a trabalhar, o que se passa na minha vida. Provavelmente vão ver uma ou duas fotos minhas a surfar...

Já teve tempo para surfar?

Cá, ainda não. Eu tenho uma casa nas Caraíbas para onde vou no Inverno. Tem óptimas ondas! Seria bom se pudesse dizer "sim, surfei em Portugal", mas se não for também não há problema.

Numa entrevista sublinhou a importância de "encontrar aquilo, o que quer que seja, que se adora fazer, e que se aprecia quando se vai trabalhar". Pensa que encontrou essa ocupação?

Sim, definitivamente. Acho que tive muita sorte porque não estava realmente à procura. Quer dizer, provavelmente estava... Eu fiz umde Verão, durante duas semanas, sobre uma coisa chamada "design gráfico". Nunca tinha ouvido falar daquilo. Tinha 26 anos, e foi tão claro para mim que era o que eu queria fazer. Tudo mudou depois disso. E sinto-me mais como se fosse um, por isso acho que tive mesmo muita sorte.

Quais são as suas maiores inspirações quando está a criar?

É a própria "coisa". Como não tenho nenhum tipo de treino formal em design, tenho de fazer aquilo que faz sentido para mim. Por isso, leio o artigo, e isso geralmente empurra-me numa determinada direcção. E se isso não acontecer, então talvez olhe para as fotografias que fazem parte do artigo e essas direccionam-me de alguma forma porque podem transmitir raiva, tristeza ou felicidade...

E se for música?

Se for música, tenho de a ouvir primeiro para saber como é que se poderia traduzir visualmente. Por isso, procuro duas fontes de inspiração. A principal está dentro do projecto, independentemente daquilo em que se está a trabalhar, a solução está lá. Se se tiver apenas uma fórmula ou uma grelha, pode-se inserir o artigo lá e fica um bocado entediante, e quando as pessoas o vêem sentem-se aborrecidas. O meu processo é mais aberto e livre. E a outra fonte de inspiração é o ambiente à minha volta. Estou sempre a tirar fotografias - tirei centenas esta semana. Ou talvez pequenas coisas. Não necessariamente para copiar mas, de alguma forma, registo sempre uma determinada combinação cromática, ou uma mistura estranha de alguma coisa que vi. E, muitas vezes, também tenho a oportunidade de utilizar fotografia nos meus trabalhos. Por isso, a inspiração está em todo o lado.

Já fez design de produto, de revistas, campanhas políticas, videoclipes... Tem algum meio preferido?

Penso que gosto sempre mais das revistas. Foi aí que comecei, nas revistas pode-se experimentar muitas coisas. Eu gostaria de fazer mais coisas em movimento. Ainda estou muito intrigado com a ideia de fazer filmes e documentários. A minha formação de base é em Sociologia. Por isso, gostaria de fazer mais cinema, mas, provavelmente, não seria necessariamente algo louco. Acho mais interessante fazer algo sobre uma pessoa real, que mostre alguns aspectos invulgares da sua vida, fotografados de forma invulgar. E isso intriga-me. Eu fiz alguns anúncios de televisão e videoclipes, mas acho que ainda não me dediquei ao movimento como gostaria. E não estou a falar da Web, esta não me fascina tanto como a outros designers.

São os projectos que o escolhem ou é o David que os escolhe?

Bem, eles tendem a vir ter comigo. Tenho tido sorte. Os primeiros trabalhos tiveram muita publicidade e eu sobrevivi disso, de certa forma. É engraçado observar a evolução da tecnologia nesse sentido. Antes, o telefone tocava e eu sabia que tinha conseguido um grande trabalho. Depois, chegava de manhã e recebia um fax, e pensava "oh, isto deve ser cool" e era da Armani ou assim. E agora vou ver a caixa de emails e, de repente, estou a fazer um poster para o "grupo" de futebol Manchester United [risos]. Esse email recebi-o no outro dia, de forma totalmente inesperada, e pensei "isto é interessante, o que será que posso fazer por eles?" Por isso, tive muita sorte de os primeiros trabalhos terem tido muita publicidade e agora as encomendas vêm ter comigo. Não tenho que mandar postais como muitos outros designers, para tentar arranjar trabalho. Claro que isto vai e vem. Nos últimos meses tenho estado muito ocupado e agora está a acalmar um bocado, mas estou bem assim. Gosto de ter liberdade para poder vir a eventos como este e ainda ir surfar nas Caraíbas. Provavelmente poderia ter uma empresa maior se fosse um empresário melhor. Mas sou só eu e, às vezes, um ou dois assistentes.

Tem planos específicos ou quer continuar a aceitar os projectos que vêm ter consigo?

Às vezes penso que vou acabar a fazer mais projectos em filme ou vou estar na minha casa nas Caraíbas a pintar. Espero que casado e com bebés pequenos [risos]

Tem um projecto preferido, dos que fez até hoje?

Tenho alguns. Um deles é a revista Beach Culture, que fiz antes da RayGun. Essa foi a primeira vez que tive liberdade total, uma revista inteira para fazer e em que eu tinha praticamente a última palavra. Mas poucas pessoas viram essa revista. Ainda não sabemos ao certo quantas foram impressas e, em dois anos, lançámos seis números. O mais impressionante foi termos feito seis, porque a revista era da Surfer Publications, que faz a Surfer Magazine, e eles não tinham bem a certeza do que fazer com ela. Mas eu tive um grande editor, trabalhávamos só os dois, e acho que ela se aguentou bastante bem. E depois veio a RayGun. Podia-se ir a qualquer mercearia na América e ver a RayGun. Houve uma grande reacção dos media e da imprensa de design. E eu só pensava: "Eu já andava a fazer isto, qual é o problema?" Mas era o facto de as pessoas a poderem encontrar. Depois, fiz 30 edições e tentei nunca me repetir, por isso foi um importante veículo experimental.

Estava à espera que se tornasse numa influência tipográfica tão grande para outras revistas?

Não, acho que não se pode ver as coisas dessa forma e ter tanto sucesso. Não poderia dizer: "OK, vou-me sentar aqui e fazer explodir o mundo da tipografia" ou "espera só até eles verem isto". Estou apenas a fazer aquilo que me apaixona, a experimentar e a tentar desafiar-me. Houve toda aquela reacção, o que é agradável e bom. Mas, por exemplo, o objectivo de um artigo nunca é torná-lo difícil de ler. Ou seja, o ponto de partida não é "vamos fazer algo realmente estranho" ou "vamos tornar isto difícil de ler" [risos].

Onde é que acha que a Sociologia, o surf e o design se encontram? Vê alguma relação entre eles?

Não acho que haja uma ligação directa, mas indirectamente existe, de certeza. Eu tirei Sociologia e fui professor nessa área porque era interessante para mim. Mesmo tendo os meus pais a dizer "não, tira gestão, precisas de aulas de gestão porque vais acabar no mundo empresarial". Mas quando me liguei ao design gráfico foi muito mais interessante para mim fazer uma revista e trabalhar sobre histórias reais, sobre pessoas reais e interpretar aquilo que se passava nas suas vidas e o que elas diziam nas entrevistas. Isso era, e ainda é, muito mais fascinante do que, por exemplo, criar uma nova embalagem para pasta de dentes ou uma caixa de sapatos. Pode ser divertido, de vez em quando, e eu já fiz anúncios de publicidade, mas acho que o meu interesse em Sociologia se reflecte no meu interesse em revistas, e em ler histórias reais sobre pessoas reais e dar-lhes uma sensação em conformidade com essa pessoa ou essa história, e talvez em ter noção de como as pessoas reagem a diferentes cores e formas. Não acho que seja uma relação específica ou directa.

E o surf?O mundo do surf tem reputação de ser radical e de fazer todas estas coisas estranhas a nível de design. Mas os surfistas, na realidade, são um grupo surpreendentemente conservador quando sai da água. Eu reformulei a Surfer Magazine e as pessoas foram à loucura, odiaram. A sua revista estava diferente. Passados dois meses, todos os anúncios tinham aquele aspecto e já não era nada de especial. A única coisa que posso dizer sobre o surf é que eu cresci na Califórnia do Sul, no meio do ambiente de surf, skate e praia. E nesse ambiente há uma certa atitude de "why not?" (porque não?) e de experimentação. Se eu tivesse crescido no interior do país, que é um pouco mais conservador, não seria igual. Não tenho muitas restrições quando trabalho, qualquer coisa é possível, e parte disso vem de eu ter crescido numa cultura de surf.

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Nunca trabalha sem música. O que é que está a ouvir actualmente?

Posso mostrar-lhe [pesquisa no leitor de MP3]... Um dos alunos, no meu, sugeriu-me The Walkmen. Gosto de pensar que me mantenho actualizado. Gosto de muitas, e daquilo a que normalmente se chama música alternativa.

A música que ouve enquanto trabalha influencia-o?

Sim, no sentido de me pôr com boa disposição. Uma disposição de: "Tenho um novo projecto, sobre o qual estou entusiasmado, tenho boa música, vou beber café..." Todo aquele espaço em que me encontro é muito bom. Por isso não consigo trabalhar sem música. Sempre que eu começava uma nova edição, ia comprar um novo conjunto de CD, e o projecto transformava-se na experiência daquela música. [continua a pesquisar na lista de músicas do MP3] Vou-me lembrar de 500 bandas cool logo que acabarmos a entrevista [risos]

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