O valor das ideias: Legislativas (2): a antevisão do Código de DaVinci do PSD nas revelações de um Domingo de Páscoa

19-12-2009
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Apesar de ter sido Domingo de Páscoa, diversos indicadores relevantes para o debate iniciado ontem sobre a possibilidade de uma maioria absoluta do Partido Socialista vieram a público. Tinha-se exemplificado, com recurso a uma variante do modelo da cidade lider de Hotelling (1929) em que medida é que os partidos colocados mais próximos dos extremos do espectro político poderiam constituir uma desastibilização de um sistema assente em dois partidos em competição pelo centro. Como nota a Ana Paula Fitas, a sondagem revelada primeiramente pelo Pedro Magalhães, atribuindo, após distribuição de indecisos, uma votação conjunta de 24% ao BE e à CDU, mesmo com um PSD a valer menos do que o máximo que considerei (a votação de Fernando Nogueira em 94), mas com uma votação conjunta CDS+PSD na casa dos 33%, permitiria ao PS alcançar uma marca de 43% apenas se o voto nos restantes partidos e a soma dos votos brancos e nulos fosse praticamente (onde se demonstra como a soma de parcelas residuais de 0,25% não é negligenciável). Na sonsagem de Aximage, entre votos noutros partidos, brancos e nulos, é estimada após correcção, uma fracção de 4%. Com uma projecção final para o PS de 40,2%. E não é de modo algum líquido que 43% chegassem para um mandato uma grupo parlamentar socialista com mais de 115 deputados.É certo que uma sondagem é um exercício de inferência, e por isso sujeito a erros amostrais, e que faltam sensivelmente 5 a 6 meses para as eleições. Como bem observou a Fernanda Valente, é possível interpretar a escolha estratégica de Vital Moreira para cabeça de lista às europeias pelo PS, independentemente das suas credenciais políticas e intelectuais, como um exercício de sedução em curso de Sócrates à sua esquerda. E a multiplicação deste tipo de exercícios pode bem advir, como advoga a Fernanda Valente, de uma percepção por parte de José Sócrates da tese que formulei sobre o seu buffer de segurança ser, neste momento, claramente maior que à esquerda. Não se trataria para a Fernanda de um exercídio de sedução do Bloco para coligações pós eleitorais mas de uma tentativa de captação do eleitorado crescente que surge a apoiar o BE.Não contesto minimamente a tese superiormente suportada no seu gentil comentário ao meu post, excepto no que diz respeito à total exclusão por parte de Sócrates de um governo de coligação. Não me parece que ele tenha ainda condições políticas para aspirar a outros cargos de relevo, nacionais ou internacionais. Porque o próximo ciclo presidencial não é particularmente simples para os socialistas, e porque a sondagem de que dava conta a Marina Costa Lobo, parece garantir uma vantagem confortável a Durão Barroso na recondução à presidência da Comissão, se fizermos fé na palavra de criaturas volúveis como Sarkozy. E sobretudo, porque penso que a expressividade da vantagem eleitoral do PS nas legislativas (+14 pontos que o PSD nesta sondagem !) tornam difícil alegar algum tipo de "pântano" para justificar a saída: as preferências do eleitorado pela esquerda parlamentar, são avassaladoras (64% versus 33%, descontando os não-assuntos).Partilho com a Fernanda Valente as dúvidas na dificuldade no estabelecimento dessa plataforma, porque, como disse antes, Francisco Louçã não é dos que vendem a alma para chegarem a ministros. O seu percurso político demonstra-o. E seria profundamente benéfico para o país se uma plataforma de diálogo sobre questões sociais, entendidas com um aprofundamento das redes sociais de apoio à pobreza e à exclusão, pudesse ser negociada como plataforma entre as duas forças. Haverá obviamente dificuldades nesse diálogo, mais a mais, num cenário em que o partido do taxi tenha os escassos deputados de que Sócrates precisa para a maioria.A ambição de Paulo Portas, como o próprio revelou múltiplas vezes, é fazer do CDS um partido de poder (em bom rigor de muleta de poder), e bem nos lembramos dele travestido de pose de Estado na sua função de "Ministro das Profundezas Ocêanicas", a combater a sua personalidade para mostrar ao PSD que era um parceiro fiável.Como observou Mário Soares, num documento escrito da sua Fundação, em 2005, "O CDS/PP tornou-se um partido de poder, com o abandono de qualquer vertente ideológica, e alinhado pelo europeísmo quanto baste para manter a coligação." Sabemos bem, como dizia antes, que Portas não é comparável a Louçã em matéria de solidez de princípios, e em troca de meia dúzia de lugares para a sua clique nas Secretarias de Estado, e de um lugar de ministro para si, até seria o representante do PS na Concertação Social, se tal fosse preciso. A composição actual do eleitorado, medida como fiz ontem ou usando a sondagem da Aximage, só reforça essa possibilidade, que pode ser uma opção a que Sócrates não se possa furtar. Uma reedição mais formalizada da tentação do Queijo Limiano em que António Guterres caiu. Portas não deverá pedir sequer o que Daniel Campelo pediu. Nem na defesa de interesses de amigos seus contra uma regulação económica eficaz. Esta coligação poderia contudo ser abalada pelo número escasso de deputados que tinha acima da metade parlamentar, sobretudo pela mais sensível ala esquerda do PS aos tempos difíceis de crise na UE. E concordo com o corolário da Fernanda, embora aplicada a outra coligação: à crise económica teríamos provavelmente que somar a crise política. Sucede, que no dito post de ontem eu abria para um segundo cenário, que não me parece que esta sondagem exclua completamente. O PS tem uma oportunidade de chegar à maioria absoluta, com esse diálogo vocacionado para a esquerda se conseguir de facto ir buscar alguns eleitores que estão a tender para O BE, e se o esvaziamento do PSD se confirmar. A sondagem confirma a tese do esvaziamento. Em parte bem ilustrada nas dificuldade que o PSD está ter em encontrar um cabeça de lista para as Europeias: as apostas já incluem de tudo, mas mostram sobretudo um cisma acentuado entre a líder do partido e muito das suas estruturas. Quando é o próprio Nuno Santos, o assessor do major que chamava "baixinho" a Marques Mendes, a vir defender a escolha deste, e a líder permanece obstinada em negar essa possibilidade ao partido, está uma boa metáfora desse esvaziamento construída. E quando um partido vê os seus apoiantes mais ilustres a atirarem a toalha ao tapete em descrença, há algo de estruturalmente errado em tudo isto. Como dizia e bem a Fernanda, "O PSD deixou de ter as características de partido político sério". Essa análise terá de facto que ficar adiada. Mas para que uma frase leviana não fique no ar, eu concretizo: quando os militantes se preocupam em defender que o é crucial nestas Europeias é a escolha do Presidente da Comissão, sem uma única sugestão de fundo para os desafios que enchem a imprensa internacional sobre a UE e outros se entretêm com histórias de embalar de vidas passadas está tudo dito sobre a mensagem actual do partido - não existe. Mas esse é um filme mais longo que nos obriga a repensar o Hotelling, e o Código de DaVinci do PSD. Esta Segunda. Garantido.


Apesar de ter sido Domingo de Páscoa, diversos indicadores relevantes para o debate iniciado ontem sobre a possibilidade de uma maioria absoluta do Partido Socialista vieram a público. Tinha-se exemplificado, com recurso a uma variante do modelo da cidade lider de Hotelling (1929) em que medida é que os partidos colocados mais próximos dos extremos do espectro político poderiam constituir uma desastibilização de um sistema assente em dois partidos em competição pelo centro. Como nota a Ana Paula Fitas, a sondagem revelada primeiramente pelo Pedro Magalhães, atribuindo, após distribuição de indecisos, uma votação conjunta de 24% ao BE e à CDU, mesmo com um PSD a valer menos do que o máximo que considerei (a votação de Fernando Nogueira em 94), mas com uma votação conjunta CDS+PSD na casa dos 33%, permitiria ao PS alcançar uma marca de 43% apenas se o voto nos restantes partidos e a soma dos votos brancos e nulos fosse praticamente (onde se demonstra como a soma de parcelas residuais de 0,25% não é negligenciável). Na sonsagem de Aximage, entre votos noutros partidos, brancos e nulos, é estimada após correcção, uma fracção de 4%. Com uma projecção final para o PS de 40,2%. E não é de modo algum líquido que 43% chegassem para um mandato uma grupo parlamentar socialista com mais de 115 deputados.É certo que uma sondagem é um exercício de inferência, e por isso sujeito a erros amostrais, e que faltam sensivelmente 5 a 6 meses para as eleições. Como bem observou a Fernanda Valente, é possível interpretar a escolha estratégica de Vital Moreira para cabeça de lista às europeias pelo PS, independentemente das suas credenciais políticas e intelectuais, como um exercício de sedução em curso de Sócrates à sua esquerda. E a multiplicação deste tipo de exercícios pode bem advir, como advoga a Fernanda Valente, de uma percepção por parte de José Sócrates da tese que formulei sobre o seu buffer de segurança ser, neste momento, claramente maior que à esquerda. Não se trataria para a Fernanda de um exercídio de sedução do Bloco para coligações pós eleitorais mas de uma tentativa de captação do eleitorado crescente que surge a apoiar o BE.Não contesto minimamente a tese superiormente suportada no seu gentil comentário ao meu post, excepto no que diz respeito à total exclusão por parte de Sócrates de um governo de coligação. Não me parece que ele tenha ainda condições políticas para aspirar a outros cargos de relevo, nacionais ou internacionais. Porque o próximo ciclo presidencial não é particularmente simples para os socialistas, e porque a sondagem de que dava conta a Marina Costa Lobo, parece garantir uma vantagem confortável a Durão Barroso na recondução à presidência da Comissão, se fizermos fé na palavra de criaturas volúveis como Sarkozy. E sobretudo, porque penso que a expressividade da vantagem eleitoral do PS nas legislativas (+14 pontos que o PSD nesta sondagem !) tornam difícil alegar algum tipo de "pântano" para justificar a saída: as preferências do eleitorado pela esquerda parlamentar, são avassaladoras (64% versus 33%, descontando os não-assuntos).Partilho com a Fernanda Valente as dúvidas na dificuldade no estabelecimento dessa plataforma, porque, como disse antes, Francisco Louçã não é dos que vendem a alma para chegarem a ministros. O seu percurso político demonstra-o. E seria profundamente benéfico para o país se uma plataforma de diálogo sobre questões sociais, entendidas com um aprofundamento das redes sociais de apoio à pobreza e à exclusão, pudesse ser negociada como plataforma entre as duas forças. Haverá obviamente dificuldades nesse diálogo, mais a mais, num cenário em que o partido do taxi tenha os escassos deputados de que Sócrates precisa para a maioria.A ambição de Paulo Portas, como o próprio revelou múltiplas vezes, é fazer do CDS um partido de poder (em bom rigor de muleta de poder), e bem nos lembramos dele travestido de pose de Estado na sua função de "Ministro das Profundezas Ocêanicas", a combater a sua personalidade para mostrar ao PSD que era um parceiro fiável.Como observou Mário Soares, num documento escrito da sua Fundação, em 2005, "O CDS/PP tornou-se um partido de poder, com o abandono de qualquer vertente ideológica, e alinhado pelo europeísmo quanto baste para manter a coligação." Sabemos bem, como dizia antes, que Portas não é comparável a Louçã em matéria de solidez de princípios, e em troca de meia dúzia de lugares para a sua clique nas Secretarias de Estado, e de um lugar de ministro para si, até seria o representante do PS na Concertação Social, se tal fosse preciso. A composição actual do eleitorado, medida como fiz ontem ou usando a sondagem da Aximage, só reforça essa possibilidade, que pode ser uma opção a que Sócrates não se possa furtar. Uma reedição mais formalizada da tentação do Queijo Limiano em que António Guterres caiu. Portas não deverá pedir sequer o que Daniel Campelo pediu. Nem na defesa de interesses de amigos seus contra uma regulação económica eficaz. Esta coligação poderia contudo ser abalada pelo número escasso de deputados que tinha acima da metade parlamentar, sobretudo pela mais sensível ala esquerda do PS aos tempos difíceis de crise na UE. E concordo com o corolário da Fernanda, embora aplicada a outra coligação: à crise económica teríamos provavelmente que somar a crise política. Sucede, que no dito post de ontem eu abria para um segundo cenário, que não me parece que esta sondagem exclua completamente. O PS tem uma oportunidade de chegar à maioria absoluta, com esse diálogo vocacionado para a esquerda se conseguir de facto ir buscar alguns eleitores que estão a tender para O BE, e se o esvaziamento do PSD se confirmar. A sondagem confirma a tese do esvaziamento. Em parte bem ilustrada nas dificuldade que o PSD está ter em encontrar um cabeça de lista para as Europeias: as apostas já incluem de tudo, mas mostram sobretudo um cisma acentuado entre a líder do partido e muito das suas estruturas. Quando é o próprio Nuno Santos, o assessor do major que chamava "baixinho" a Marques Mendes, a vir defender a escolha deste, e a líder permanece obstinada em negar essa possibilidade ao partido, está uma boa metáfora desse esvaziamento construída. E quando um partido vê os seus apoiantes mais ilustres a atirarem a toalha ao tapete em descrença, há algo de estruturalmente errado em tudo isto. Como dizia e bem a Fernanda, "O PSD deixou de ter as características de partido político sério". Essa análise terá de facto que ficar adiada. Mas para que uma frase leviana não fique no ar, eu concretizo: quando os militantes se preocupam em defender que o é crucial nestas Europeias é a escolha do Presidente da Comissão, sem uma única sugestão de fundo para os desafios que enchem a imprensa internacional sobre a UE e outros se entretêm com histórias de embalar de vidas passadas está tudo dito sobre a mensagem actual do partido - não existe. Mas esse é um filme mais longo que nos obriga a repensar o Hotelling, e o Código de DaVinci do PSD. Esta Segunda. Garantido.

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