Jornal O Diabo: manso

14-10-2010
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MansidãoNo congresso de ranchos folclóricos (sem ofensa para os verdadeiros) em que se transformou o Parlamento português, diz o bailador do "vira" para o bailador do "fandango": "Vejo que de intervenção em intervenção vai ficando mais manso". E responde o do "fandango" ao do "vira": "Manso é a tua tia, pá!". Esta edificante troca de galhardetes, que não chega sequer a alcançar o nível estilístico de uma cena de zaragata no Pátio das Cantigas, teve por protagonistas, respectivamente, o chefe da bancada parlamentar do Bloco de Esquerda e o primeiro-ministro do Governo português. Nós, que não sabemos quem possa ser a tia de Francisco Louçã nem por que razão a Senhora suscitaria uma tão aberrante falta de concordância gramatical por parte de um licenciado com Inglês Técnico no currículo, já não nos admiramos. Portugal todo anda, à imagem dos seus chefes, cada vez mais manso. Tão manso que deixou encerrar o assunto com um sorriso, como se fosse normal o chefe de um Governo servir-se de apartes de 'bas-fond' e tomar poses que geralmente associamos à ordinarice rasca das disputas de taberna. Dando o exemplo supremo desta mansidão pós-moderna que tomou conta do País, também o Presidente Cavaco Silva ouviu há dias o seu homólogo checo puxar-lhe as orelhas em público a propósito do défice das nossas contas – e engoliu em seco, limitando-se a desculpar a grosseria com as "conhecidas" posições "pouco ortodoxas" de Vaklav Klaus. Andamos realmente mansos. E parece que estamos por tudo. Talvez por isso, também não estranhámos que o jornal francês "Libération", que geralmente chega a Portugal sem qualquer problema, falhasse a sua distribuição entre nós, por razões "técnicas", precisamente no dia em que publicava uma reportagem demolidora para José Sócrates. Andamos, realmente, mansos. E a culpa não pode ser da nossa tia.


MansidãoNo congresso de ranchos folclóricos (sem ofensa para os verdadeiros) em que se transformou o Parlamento português, diz o bailador do "vira" para o bailador do "fandango": "Vejo que de intervenção em intervenção vai ficando mais manso". E responde o do "fandango" ao do "vira": "Manso é a tua tia, pá!". Esta edificante troca de galhardetes, que não chega sequer a alcançar o nível estilístico de uma cena de zaragata no Pátio das Cantigas, teve por protagonistas, respectivamente, o chefe da bancada parlamentar do Bloco de Esquerda e o primeiro-ministro do Governo português. Nós, que não sabemos quem possa ser a tia de Francisco Louçã nem por que razão a Senhora suscitaria uma tão aberrante falta de concordância gramatical por parte de um licenciado com Inglês Técnico no currículo, já não nos admiramos. Portugal todo anda, à imagem dos seus chefes, cada vez mais manso. Tão manso que deixou encerrar o assunto com um sorriso, como se fosse normal o chefe de um Governo servir-se de apartes de 'bas-fond' e tomar poses que geralmente associamos à ordinarice rasca das disputas de taberna. Dando o exemplo supremo desta mansidão pós-moderna que tomou conta do País, também o Presidente Cavaco Silva ouviu há dias o seu homólogo checo puxar-lhe as orelhas em público a propósito do défice das nossas contas – e engoliu em seco, limitando-se a desculpar a grosseria com as "conhecidas" posições "pouco ortodoxas" de Vaklav Klaus. Andamos realmente mansos. E parece que estamos por tudo. Talvez por isso, também não estranhámos que o jornal francês "Libération", que geralmente chega a Portugal sem qualquer problema, falhasse a sua distribuição entre nós, por razões "técnicas", precisamente no dia em que publicava uma reportagem demolidora para José Sócrates. Andamos, realmente, mansos. E a culpa não pode ser da nossa tia.

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