Correa avisa que não haverá perdão para os polícias que o tentaram derrubar

19-10-2010
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Presidente do Equador aponta dedo à oposição. "Agora será mais difícil derrubá-lo" sem ir às urnas, diz o sociólogo Boaventura Sousa Santos, que está no país

Ninguém tem dúvidas: foi o dia mais difícil da governação de Rafael Correa. O Presidente do Equador teve de enfrentar uma tentativa de golpe que passou por militares a disparar contra a polícia amotinada. Para estes, "não haverá perdão", garantiu ontem Correa.

Quinta-feira começou com uma manifestação de polícias que protestavam contra uma lei que altera os seus benefícios profissionais. O Presidente tentou demovê-los, avançando para o Regimento de Quito 1, onde decorria a sublevação. Foi recebido com gás lacrimogéneo. Saiu do local com a ajuda de uma máscara e teve de receber tratamento médico.

Forças policiais rodearam então o hospital onde Correa permaneceu durante algumas horas. O Presidente já denunciava uma tentativa de golpe de Estado. Garantiu que sairia dali "como Presidente de um país viável, ou como um cadáver".

Saiu vitorioso, enquanto soldados disparavam sobre os polícias. Morreram duas pessoas, segundo a Cruz Vermelha, e 88 ficaram feridas.

Mais tarde, já a partir do palácio presidencial, Correa avisava que os acontecimentos deveriam "servir de exemplo aos que querem trazer mudanças e deter a revolução dos cidadãos sem ir às urnas". Apontou responsabilidades ao Partido Sociedade Patriótica (PSP, na oposição) liderado por Lucio Gutierrez.

A tentativa de golpe não espantou o sociólogo português Boaventura Sousa Santos, que se encontra em Quito para um projecto de investigação sobre os processos políticos no Equador e Bolívia. "Havia a ideia de que forças da direita conservadora, apoiadas ou não por alguma potência estrangeira", pudessem estar a preparar algo semelhante, diz ao PÚBLICO por telefone. "Tentou fazer-se isso com Chávez [na Venezuela] e houve tentativas no Paraguai". A razão é a mesma nos três casos: "Tem tudo a ver com os recursos naturais. O Governo quer ficar com a maioria dos lucros em vez destes irem para as empresas estrangeiras que os exploram".

Correa não saiu enfraquecido com este episódio, diz Sousa Santos. Mas tem também "uma lição a aprender". "É um homem que não dialoga, muito autoritário, com pressa para fazer as coisas. E entra em conflito com as forças sociais". Já acontecera com os grupos indígenas, já houve manifestações estudantis, agora foi a polícia.

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O Presidente "promulgou leis que violam a Constituição", explica o sociólogo. Leis sobre a educação e o serviço público foram discutidas pela Assembleia Legislativa, que chegou a um consenso com as forças sociais. Mas foram alteradas por Correa.

Sousa Santos acredita, em todo o caso, numa manipulação da polícia. "A lei não corta os benefícios, introdu-los nos salários e por isso passam a pagar impostos sobre eles", refere.

Agora será mais difícil derrubar o Presidente sem esperar pelos três anos que faltam para o fim do seu mandato: "Estes golpes, quando falham, têm este efeito: quem esteve por trás vai ter de ter mais cuidado."

Presidente do Equador aponta dedo à oposição. "Agora será mais difícil derrubá-lo" sem ir às urnas, diz o sociólogo Boaventura Sousa Santos, que está no país

Ninguém tem dúvidas: foi o dia mais difícil da governação de Rafael Correa. O Presidente do Equador teve de enfrentar uma tentativa de golpe que passou por militares a disparar contra a polícia amotinada. Para estes, "não haverá perdão", garantiu ontem Correa.

Quinta-feira começou com uma manifestação de polícias que protestavam contra uma lei que altera os seus benefícios profissionais. O Presidente tentou demovê-los, avançando para o Regimento de Quito 1, onde decorria a sublevação. Foi recebido com gás lacrimogéneo. Saiu do local com a ajuda de uma máscara e teve de receber tratamento médico.

Forças policiais rodearam então o hospital onde Correa permaneceu durante algumas horas. O Presidente já denunciava uma tentativa de golpe de Estado. Garantiu que sairia dali "como Presidente de um país viável, ou como um cadáver".

Saiu vitorioso, enquanto soldados disparavam sobre os polícias. Morreram duas pessoas, segundo a Cruz Vermelha, e 88 ficaram feridas.

Mais tarde, já a partir do palácio presidencial, Correa avisava que os acontecimentos deveriam "servir de exemplo aos que querem trazer mudanças e deter a revolução dos cidadãos sem ir às urnas". Apontou responsabilidades ao Partido Sociedade Patriótica (PSP, na oposição) liderado por Lucio Gutierrez.

A tentativa de golpe não espantou o sociólogo português Boaventura Sousa Santos, que se encontra em Quito para um projecto de investigação sobre os processos políticos no Equador e Bolívia. "Havia a ideia de que forças da direita conservadora, apoiadas ou não por alguma potência estrangeira", pudessem estar a preparar algo semelhante, diz ao PÚBLICO por telefone. "Tentou fazer-se isso com Chávez [na Venezuela] e houve tentativas no Paraguai". A razão é a mesma nos três casos: "Tem tudo a ver com os recursos naturais. O Governo quer ficar com a maioria dos lucros em vez destes irem para as empresas estrangeiras que os exploram".

Correa não saiu enfraquecido com este episódio, diz Sousa Santos. Mas tem também "uma lição a aprender". "É um homem que não dialoga, muito autoritário, com pressa para fazer as coisas. E entra em conflito com as forças sociais". Já acontecera com os grupos indígenas, já houve manifestações estudantis, agora foi a polícia.

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O Presidente "promulgou leis que violam a Constituição", explica o sociólogo. Leis sobre a educação e o serviço público foram discutidas pela Assembleia Legislativa, que chegou a um consenso com as forças sociais. Mas foram alteradas por Correa.

Sousa Santos acredita, em todo o caso, numa manipulação da polícia. "A lei não corta os benefícios, introdu-los nos salários e por isso passam a pagar impostos sobre eles", refere.

Agora será mais difícil derrubar o Presidente sem esperar pelos três anos que faltam para o fim do seu mandato: "Estes golpes, quando falham, têm este efeito: quem esteve por trás vai ter de ter mais cuidado."

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