Canhoto: Vistas as sondagens sobre as presidenciais

19-12-2009
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Vistas as sondagens sobre as eleições presidenciais já divulgadas, o seu inacreditável tratamento editorial e as oportunas e esclarecedoras notas do Pedro Magalhães no Margens de Erro (clique aqui ao lado, porque é nossa visita frequente), retiro algumas conclusões do ponto em que estamos:a) Cavaco Silva partiu como vencedor antecipado e como tal continua por enquanto. Os outros candidatos ainda nada fizeram que consiga inverter a situação. Se é verdade que Cavaco parece estar a perder ligeiramente terreno, mesmo quando o PSD o está a ganhar, não é menos verdade que a vantagem de Cavaco se situa na maneira como continua a tocar transversalmente o eleitorado;b) Manuel Alegre conseguiu, até agora, consolidar intenções de voto significativas à esquerda. Vicente Jorge Silva, hoje, no DN, diz que é por causa do seu romantismo positivo. Talvez. Há quem ache que é porque consegue atrair os eleitores que apoiam o PS mas se querem distanciar do PS. Eu continuo convencido que Alegre será a principal vítima da campanha eleitoral, como Pintasilgo o foi em 1986 ou que, caso contrário, Jerónimo de Sousa e Francisco Louçã terão más notícias na noite eleitoral.c) A candidatura de Mário Soares não foi bem recebida e continua em dificuldades. Sente-se que falta dar um argumento a quem quer voltar a votar Soares e não parece que a promessa de ficar só um mandato seja cativadora por aí além, pelo que não se percebe que se insista nela. Continuo convencido que o argumento mais forte da campanha, até agora, foi a demonstração da deriva presidencialista em Cavaco. Não é por acaso que é o único ponto em que este teve que silenciar discursos dos seus apoiantes e reposicionar-se desde o início da campanha.d) Os eleitores já perceberam que Louçã e Jerónimo não são verdadeiros candidatos, apenas instrumentos dos estados-maiores partidários a tentar manter a fidelidade dos eleitorados dos seus partidos para eleições posteriores.e) As próximas eleições presidenciais vão ser decididas pelos eleitores que deram a maioria absoluta ao PS no início deste ano. Por agora, gostemos ou não, estão a entregar-se nas mãos de Cavaco, por força da sua total dispersão (Soares, Alegre, Cavaco, abstenção, todos se alimentam deste eleitorado). Soares tem razão quando diz que a sua batalha da primeira volta consiste em ganhar os eleitores do PS. Mas, tendo como adversários Cavaco, Alegre e o descontentamento, parece demasiado sózinho no terreno. Ninguém pode ignorar que a entourage de Soares está muito distante do PS que António Guterres, Jorge Coelho, António José Seguro, António Costa e José Sócrates protagonizaram sucessivamente há mais de uma década.Se tudo continuar como até aqui, com os candidatos de esquerda instalados na ideia de que têmn apenas que cumprir calendário até à primeira volta e se reunem para derrotar Cavaco na segunda, como fizeram contra Freitas emn 1986, é provável que não haja essa mirífica segunda volta. É o que, cruamente, as sondagens dizem, gostemos ou não.Nunca me entusiasmou a dispersão de candidatos à esquerda. Mas agora é tarde para discutir esse assunto. Em termos práticos, se quisermos ganhar as presidenciais, só resta um caminho: envolver o PS, a fundo, do topo à base, na campanha de Soares e explicar, detalhadamente, porque é que Cavaco continua a ser um líder de facção, não se desdizendo, antes tentando ganhar espaço de manobra eleitoral pelo silêncio.Sem o PS, Soares, provavelmente, afunda-se, como o próprio intuiu. Mas, com Cavaco, ninguém se surpreenda com o que aconteça a seguir ao governo.


Vistas as sondagens sobre as eleições presidenciais já divulgadas, o seu inacreditável tratamento editorial e as oportunas e esclarecedoras notas do Pedro Magalhães no Margens de Erro (clique aqui ao lado, porque é nossa visita frequente), retiro algumas conclusões do ponto em que estamos:a) Cavaco Silva partiu como vencedor antecipado e como tal continua por enquanto. Os outros candidatos ainda nada fizeram que consiga inverter a situação. Se é verdade que Cavaco parece estar a perder ligeiramente terreno, mesmo quando o PSD o está a ganhar, não é menos verdade que a vantagem de Cavaco se situa na maneira como continua a tocar transversalmente o eleitorado;b) Manuel Alegre conseguiu, até agora, consolidar intenções de voto significativas à esquerda. Vicente Jorge Silva, hoje, no DN, diz que é por causa do seu romantismo positivo. Talvez. Há quem ache que é porque consegue atrair os eleitores que apoiam o PS mas se querem distanciar do PS. Eu continuo convencido que Alegre será a principal vítima da campanha eleitoral, como Pintasilgo o foi em 1986 ou que, caso contrário, Jerónimo de Sousa e Francisco Louçã terão más notícias na noite eleitoral.c) A candidatura de Mário Soares não foi bem recebida e continua em dificuldades. Sente-se que falta dar um argumento a quem quer voltar a votar Soares e não parece que a promessa de ficar só um mandato seja cativadora por aí além, pelo que não se percebe que se insista nela. Continuo convencido que o argumento mais forte da campanha, até agora, foi a demonstração da deriva presidencialista em Cavaco. Não é por acaso que é o único ponto em que este teve que silenciar discursos dos seus apoiantes e reposicionar-se desde o início da campanha.d) Os eleitores já perceberam que Louçã e Jerónimo não são verdadeiros candidatos, apenas instrumentos dos estados-maiores partidários a tentar manter a fidelidade dos eleitorados dos seus partidos para eleições posteriores.e) As próximas eleições presidenciais vão ser decididas pelos eleitores que deram a maioria absoluta ao PS no início deste ano. Por agora, gostemos ou não, estão a entregar-se nas mãos de Cavaco, por força da sua total dispersão (Soares, Alegre, Cavaco, abstenção, todos se alimentam deste eleitorado). Soares tem razão quando diz que a sua batalha da primeira volta consiste em ganhar os eleitores do PS. Mas, tendo como adversários Cavaco, Alegre e o descontentamento, parece demasiado sózinho no terreno. Ninguém pode ignorar que a entourage de Soares está muito distante do PS que António Guterres, Jorge Coelho, António José Seguro, António Costa e José Sócrates protagonizaram sucessivamente há mais de uma década.Se tudo continuar como até aqui, com os candidatos de esquerda instalados na ideia de que têmn apenas que cumprir calendário até à primeira volta e se reunem para derrotar Cavaco na segunda, como fizeram contra Freitas emn 1986, é provável que não haja essa mirífica segunda volta. É o que, cruamente, as sondagens dizem, gostemos ou não.Nunca me entusiasmou a dispersão de candidatos à esquerda. Mas agora é tarde para discutir esse assunto. Em termos práticos, se quisermos ganhar as presidenciais, só resta um caminho: envolver o PS, a fundo, do topo à base, na campanha de Soares e explicar, detalhadamente, porque é que Cavaco continua a ser um líder de facção, não se desdizendo, antes tentando ganhar espaço de manobra eleitoral pelo silêncio.Sem o PS, Soares, provavelmente, afunda-se, como o próprio intuiu. Mas, com Cavaco, ninguém se surpreenda com o que aconteça a seguir ao governo.

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