O valor das ideias: A agenda do BE (por Jorge Nascimento Rodrigues)

19-12-2009
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"Francisco Louçã é um especialista, doutorado, em ciclos económicos e no papel da tecnologia e sabe perfeitamente uma série de coisas que não tem traduzido nos frente-a-frente políticos; também nenhum dos outros candidatos lhe fez qualquer pergunta sobre o assunto. O problema do crescimento económico nos países OCDE é complexo - ele tem esbarrado com um tecto. A revolução digital e a economia do conhecimento não tem tido o efeito que se esperava. O conservador Robert Solow já o repetiu várias vezes. A saída destes países tem sido a financeirização e um crescimento do PIB "induzido" por essa via. O debate da questão do crescimento - nos ditos países "ricos" da OCDE - centra-se nesse ponto, mas esse não me parece ser o ponto central agora. As correntes de "esquerda radical" (para simplificar a designação) têm alguma expectativa de que a crise económica e financeira se agrave (o que não está fora de cenários plausíveis do que se chama o "double dip"), que a situação internacional se agrave (o que também não seria surpresa, com diversos médios actores a serem mais agressivos, a levantarem as garras e a ensaiarem tentativas de projecção externa) e que politicamente possam alavancar movimentos de protesto social e de votação eleitoral (em novas eleições por razões de crise politica) mais elevados, pressionando para o reforço de um sector de capitalismo monopolista e financeiro de Estado (através de nacionalizações cirúrgicas e outros mecanismos de controlo) onde possam solidificar bases de apoio social e tecnocráticas, que vão para além de alguns grupos corporativos e nichos sociais onde estão agora. Estas correntes dependem para sobreviver de alargar a sua base de apoio, e isso, no caso da essência da estratégia delas, só através da alavancagem da economia estatal e do intervencionismo estatal. É um problema darwiniano desta "espécie" política. Nos cálculos que passam pela cabeça de alguns políticos dessas correntes, julgam que isso poderá ocorrer na Europa e que com ajuda de um mundo multipolar com Chávistas e Iranianos na ofensiva e BRIC a mexer os cordelinhos, poderão pressentir situações pré-revolucionárias (não estou a exagerar, esse tipo de 'cisnes negros' podem ocorrer por surpresa) na Europa, ainda que essas correntes sejam muito minoritárias eleitoralmente.Por isso obviamente o golpe principal dos "radicais de esquerda" é e sempre será o centro-esquerda, mais do que a direita ou o centro-direita. O que interessa - é uma velha táctica dos anos 1910 a 1940 - é enfraquecer o centro politico (os social democratas de antigamente, reformistas), a esquerda democrática actual. Como isto é história, e os políticos actuais nem se lembram disso dada a falta de memória histórica e analfabetismo, a manobra politica não é exposta. Não é só um problema de táctica eleitoral (como José Sócrates alegou na discussão com Jerónimo de Sousa, ou seja de preferência de subida de um governo de direita para aumentar o voto de protesto), mas de estratégia. O fundo das correntes da "esquerda radical" em Portugal continua a ser o mesmo de há trinta anos atrás, apesar do aggiornamento, da simpatia do sorriso, da presença no parlamento, do uso das eleições democráticas e do recurso aos chamados temas fracturantes (com os quais, eu, por exemplo, estou 100% de acordo) em virtude da incapacidade política do centro-esquerda. Essas correntes - sem com isso querer meter todos os seus aderentes nesse saco - continuam a ser estruturalmente totalitárias quanto ao sentido de sociedade, do exercício do poder e da economia, apesar de alguns segmentos derivarem de políticos que acabaram por sentir na pele o efeito da longa mão do totalitarismo. Em Portugal, a glasnot política e ideológica dessas correntes nunca foi feita. O eurocomunismo foi sempre um epifenómeno em Portugal e a antiga extrema-esquerda pró-albanesa ou trotskysta nunca fez uma cura de desintoxicação ideológica séria." (Gentilmente autorizado a reproduzir pelo autor Jorge Nascimento Rodrigues)


"Francisco Louçã é um especialista, doutorado, em ciclos económicos e no papel da tecnologia e sabe perfeitamente uma série de coisas que não tem traduzido nos frente-a-frente políticos; também nenhum dos outros candidatos lhe fez qualquer pergunta sobre o assunto. O problema do crescimento económico nos países OCDE é complexo - ele tem esbarrado com um tecto. A revolução digital e a economia do conhecimento não tem tido o efeito que se esperava. O conservador Robert Solow já o repetiu várias vezes. A saída destes países tem sido a financeirização e um crescimento do PIB "induzido" por essa via. O debate da questão do crescimento - nos ditos países "ricos" da OCDE - centra-se nesse ponto, mas esse não me parece ser o ponto central agora. As correntes de "esquerda radical" (para simplificar a designação) têm alguma expectativa de que a crise económica e financeira se agrave (o que não está fora de cenários plausíveis do que se chama o "double dip"), que a situação internacional se agrave (o que também não seria surpresa, com diversos médios actores a serem mais agressivos, a levantarem as garras e a ensaiarem tentativas de projecção externa) e que politicamente possam alavancar movimentos de protesto social e de votação eleitoral (em novas eleições por razões de crise politica) mais elevados, pressionando para o reforço de um sector de capitalismo monopolista e financeiro de Estado (através de nacionalizações cirúrgicas e outros mecanismos de controlo) onde possam solidificar bases de apoio social e tecnocráticas, que vão para além de alguns grupos corporativos e nichos sociais onde estão agora. Estas correntes dependem para sobreviver de alargar a sua base de apoio, e isso, no caso da essência da estratégia delas, só através da alavancagem da economia estatal e do intervencionismo estatal. É um problema darwiniano desta "espécie" política. Nos cálculos que passam pela cabeça de alguns políticos dessas correntes, julgam que isso poderá ocorrer na Europa e que com ajuda de um mundo multipolar com Chávistas e Iranianos na ofensiva e BRIC a mexer os cordelinhos, poderão pressentir situações pré-revolucionárias (não estou a exagerar, esse tipo de 'cisnes negros' podem ocorrer por surpresa) na Europa, ainda que essas correntes sejam muito minoritárias eleitoralmente.Por isso obviamente o golpe principal dos "radicais de esquerda" é e sempre será o centro-esquerda, mais do que a direita ou o centro-direita. O que interessa - é uma velha táctica dos anos 1910 a 1940 - é enfraquecer o centro politico (os social democratas de antigamente, reformistas), a esquerda democrática actual. Como isto é história, e os políticos actuais nem se lembram disso dada a falta de memória histórica e analfabetismo, a manobra politica não é exposta. Não é só um problema de táctica eleitoral (como José Sócrates alegou na discussão com Jerónimo de Sousa, ou seja de preferência de subida de um governo de direita para aumentar o voto de protesto), mas de estratégia. O fundo das correntes da "esquerda radical" em Portugal continua a ser o mesmo de há trinta anos atrás, apesar do aggiornamento, da simpatia do sorriso, da presença no parlamento, do uso das eleições democráticas e do recurso aos chamados temas fracturantes (com os quais, eu, por exemplo, estou 100% de acordo) em virtude da incapacidade política do centro-esquerda. Essas correntes - sem com isso querer meter todos os seus aderentes nesse saco - continuam a ser estruturalmente totalitárias quanto ao sentido de sociedade, do exercício do poder e da economia, apesar de alguns segmentos derivarem de políticos que acabaram por sentir na pele o efeito da longa mão do totalitarismo. Em Portugal, a glasnot política e ideológica dessas correntes nunca foi feita. O eurocomunismo foi sempre um epifenómeno em Portugal e a antiga extrema-esquerda pró-albanesa ou trotskysta nunca fez uma cura de desintoxicação ideológica séria." (Gentilmente autorizado a reproduzir pelo autor Jorge Nascimento Rodrigues)

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