A Cinco Tons: No rescaldo da noite eleitoral: nem as moscas mudaram

20-05-2011
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Acompanhei a campanha eleitoral por dentro de uma das candidaturas, por isso não tive uma grande atenção para as outras campanhas (aliás só percebi as extraordinárias potencialidades de José Manuel Coelho na parte final da campanha eleitoral), facto que faz com que estas notas abordem, sobretudo, os resultados eleitorais e os seus desenvolvimentos. Mas julgo que a generalidade dos grandes candidatos perdeu, embora uns mais do que outros. Assim:

1. Cavaco Silva - ganhou as eleições à 1ª volta, como pretendia, mas a perda de cerca de meio milhão de votos, a crispação com que "festejou" a vitória, os remoques constantes no seu discurso fazendo acreditar que  "a vingança" é uma das suas características, fazem com que esta seja uma vitória com sabor bem amargo: depois destas eleições Cavaco Silva aparece fragilizado, já sem a aura de impoluto, crispado e, em muitos casos, tratado quase como um ser banal, até quase "poucochinho".2. Manuel Alegre - teve um resultado negro, apoiado pelo PS e pelo BE, conseguiu menos 300 mil votos do que há cinco anos quando nenhum destes partidos o apoiou. É obra! A campanha de Manuel Alegre foi também de uma "pobreza franciscana", com tensões entre o PS e o BE, e entre as várias facções do PS. Esperava-se mais da estatura intelectual de Manuel Alegre, que rondou o vulgar durante a campanha e que, na noite eleitoral, se refugiou mais uma vez no abraço aos seus companheiros do PS e a José Sócrates, relegando o BE para um papel marginal, embora muitos dos seus dirigentes aspirassem a que o apoio a Alegre fizesse com que a ala esquerda socialista se demarcasse de Sócrates: aconteceu o contrário - com este resultado, Sócrates ficou, de novo, com o partido na mão, após a derrota em toda a linha da sua ala esquerda.3.Fernando Nobre - com um discurso próximo da indigência, o presidente da AMI obteve um bom resultado, mas que de nada lhe vai servir. Nas suas estruturas esteve sobretudo gente ligada à área soarista, mas também independentes, fartos da partidocracia. Os votos que obteve tiveram esse aspecto de protesto e de "sabotagem" da candidatura de Manuel Alegre. Mas pouco mais significado podem ter.4. Francisco Lopes - obteve um resultado abaixo daquele que, nas circunstâncias actuais, se esperaria. Perdeu Beja, perdeu umas largas dezenas de milhar de votos relativamente a 2006, altura em que o eleitorado do PCP foi atraído e, em muitos casos, votou em grande número em Manuel Alegre. Agora, sem concorrência à sua esquerda, Francisco Lopes teve o mérito de segurar os habituais votantes no PCP (mas não todos) e não conseguiu alargar a sua área de influência. Foi uma candidatura "virada para dentro", destinada a olear a "máquina" e a marcar calendário, sem qualquer expressão externa.5. José Manuel Coelho - foi a surpresa. Vindo do nada conseguiu, num registo populista, atrair a atenção e tornar-se, sem o apoio de qualquer partido ou grupo, em 15 dias uma figura pública recolhendo muitos votos de protesto,com especial significado na Madeira, onde Jardim já não é o que era.6.Defensor Moura - fez o seu papel, que não sei exactamente qual era, com um discurso desenvolto, mas, pelos vistos, pouco cativante. Julguei que tivesse mais votos oriundos da área socialista. Parece que não os conseguiu cativar, beneficiando assim Fernando Nobre. Teve e terá pouco significado.
Quanto aos partidos:O PSD gostou desta vitória de Cavaco Silva, como é óbvio, mas não ficou exultante. O mau relacionamento entre Cavaco Silva e Passos Coelho não vem de hoje. São dois estilos e dois olhares sobre o mundo e a vida muito diferentes. Cavaco Silva não é, de facto, o presidente deste PSD.O PS oficial também gostou da vitória de Cavaco Silva. Se houver dissolução da Assembleia os socialistas julgam ter argumentos eleitorais fortes, dada a ligação de Cavaco ao PSD, para o acusarem de promover a instabilidade, e o relacionamento entre Cavaco e Sócrates poderá ser mais pacífico do que o relacionamento Sócrates/Alegre, com o Bloco de Esquerda de permeio.O BE foi, claramente, o grande derrotado destas eleições. A sua estratégia mostrou-se errada, fez o frete de caminhar de mãos dadas com José Sócrates e, numa altura em que conseguia alguma afirmação eleitoral e uma estratégia identificadora, desbaratou esse capital, entregando a contestação à esquerda ao candidato do PCP. Quando em termos de cúpula dirigente começam também a existir problemas, é difícil perceber qual será o caminho que o BE vai percorrer nos próximos tempos. Mas que serão tempos difíceis para os bloquistas, lá isso serão.O CDS também ganhou e ficou bem visto por não ter apresentado um candidato à direita de Cavaco, o que poderia ter posto a sua reeleição em causa. Nada fazendo, mantém-se à espera. O jackpot vai ser quando o PSD precisar dele para ter maioria na Assembleia da República.O PCP ficou como estava: a defender o seu reduto que, cada vez, vai sendo mais exíguo. Num momento com condições que pareciam ideais para uma abertura do seu espaço político, o candidato do PCP conseguiu um resultado muito abaixo do que conseguiu Jerónimo de Sousa há 5 anos, quando se teve que confrontar com um Manuel Alegre sem apoios partidários. É um PCP em perda, que tenta segurar os dedos, depois de já lhe terem levado as jóias.A abstenção e os votos nulos e brancos. Foi o que foi.  Apesar de eu achar que o direito ao voto universal foi uma grande conquista da Humanidade - e por assim o achar - considero que o não voto pode ser usado como instrumento político. Por isso, considero que a abstenção ainda ficou abaixo do que - face ao panorama dos candidatos, do país e do que nos apresentam como futuro e como escolhas - deveria ter ficado.

Acompanhei a campanha eleitoral por dentro de uma das candidaturas, por isso não tive uma grande atenção para as outras campanhas (aliás só percebi as extraordinárias potencialidades de José Manuel Coelho na parte final da campanha eleitoral), facto que faz com que estas notas abordem, sobretudo, os resultados eleitorais e os seus desenvolvimentos. Mas julgo que a generalidade dos grandes candidatos perdeu, embora uns mais do que outros. Assim:

1. Cavaco Silva - ganhou as eleições à 1ª volta, como pretendia, mas a perda de cerca de meio milhão de votos, a crispação com que "festejou" a vitória, os remoques constantes no seu discurso fazendo acreditar que  "a vingança" é uma das suas características, fazem com que esta seja uma vitória com sabor bem amargo: depois destas eleições Cavaco Silva aparece fragilizado, já sem a aura de impoluto, crispado e, em muitos casos, tratado quase como um ser banal, até quase "poucochinho".2. Manuel Alegre - teve um resultado negro, apoiado pelo PS e pelo BE, conseguiu menos 300 mil votos do que há cinco anos quando nenhum destes partidos o apoiou. É obra! A campanha de Manuel Alegre foi também de uma "pobreza franciscana", com tensões entre o PS e o BE, e entre as várias facções do PS. Esperava-se mais da estatura intelectual de Manuel Alegre, que rondou o vulgar durante a campanha e que, na noite eleitoral, se refugiou mais uma vez no abraço aos seus companheiros do PS e a José Sócrates, relegando o BE para um papel marginal, embora muitos dos seus dirigentes aspirassem a que o apoio a Alegre fizesse com que a ala esquerda socialista se demarcasse de Sócrates: aconteceu o contrário - com este resultado, Sócrates ficou, de novo, com o partido na mão, após a derrota em toda a linha da sua ala esquerda.3.Fernando Nobre - com um discurso próximo da indigência, o presidente da AMI obteve um bom resultado, mas que de nada lhe vai servir. Nas suas estruturas esteve sobretudo gente ligada à área soarista, mas também independentes, fartos da partidocracia. Os votos que obteve tiveram esse aspecto de protesto e de "sabotagem" da candidatura de Manuel Alegre. Mas pouco mais significado podem ter.4. Francisco Lopes - obteve um resultado abaixo daquele que, nas circunstâncias actuais, se esperaria. Perdeu Beja, perdeu umas largas dezenas de milhar de votos relativamente a 2006, altura em que o eleitorado do PCP foi atraído e, em muitos casos, votou em grande número em Manuel Alegre. Agora, sem concorrência à sua esquerda, Francisco Lopes teve o mérito de segurar os habituais votantes no PCP (mas não todos) e não conseguiu alargar a sua área de influência. Foi uma candidatura "virada para dentro", destinada a olear a "máquina" e a marcar calendário, sem qualquer expressão externa.5. José Manuel Coelho - foi a surpresa. Vindo do nada conseguiu, num registo populista, atrair a atenção e tornar-se, sem o apoio de qualquer partido ou grupo, em 15 dias uma figura pública recolhendo muitos votos de protesto,com especial significado na Madeira, onde Jardim já não é o que era.6.Defensor Moura - fez o seu papel, que não sei exactamente qual era, com um discurso desenvolto, mas, pelos vistos, pouco cativante. Julguei que tivesse mais votos oriundos da área socialista. Parece que não os conseguiu cativar, beneficiando assim Fernando Nobre. Teve e terá pouco significado.
Quanto aos partidos:O PSD gostou desta vitória de Cavaco Silva, como é óbvio, mas não ficou exultante. O mau relacionamento entre Cavaco Silva e Passos Coelho não vem de hoje. São dois estilos e dois olhares sobre o mundo e a vida muito diferentes. Cavaco Silva não é, de facto, o presidente deste PSD.O PS oficial também gostou da vitória de Cavaco Silva. Se houver dissolução da Assembleia os socialistas julgam ter argumentos eleitorais fortes, dada a ligação de Cavaco ao PSD, para o acusarem de promover a instabilidade, e o relacionamento entre Cavaco e Sócrates poderá ser mais pacífico do que o relacionamento Sócrates/Alegre, com o Bloco de Esquerda de permeio.O BE foi, claramente, o grande derrotado destas eleições. A sua estratégia mostrou-se errada, fez o frete de caminhar de mãos dadas com José Sócrates e, numa altura em que conseguia alguma afirmação eleitoral e uma estratégia identificadora, desbaratou esse capital, entregando a contestação à esquerda ao candidato do PCP. Quando em termos de cúpula dirigente começam também a existir problemas, é difícil perceber qual será o caminho que o BE vai percorrer nos próximos tempos. Mas que serão tempos difíceis para os bloquistas, lá isso serão.O CDS também ganhou e ficou bem visto por não ter apresentado um candidato à direita de Cavaco, o que poderia ter posto a sua reeleição em causa. Nada fazendo, mantém-se à espera. O jackpot vai ser quando o PSD precisar dele para ter maioria na Assembleia da República.O PCP ficou como estava: a defender o seu reduto que, cada vez, vai sendo mais exíguo. Num momento com condições que pareciam ideais para uma abertura do seu espaço político, o candidato do PCP conseguiu um resultado muito abaixo do que conseguiu Jerónimo de Sousa há 5 anos, quando se teve que confrontar com um Manuel Alegre sem apoios partidários. É um PCP em perda, que tenta segurar os dedos, depois de já lhe terem levado as jóias.A abstenção e os votos nulos e brancos. Foi o que foi.  Apesar de eu achar que o direito ao voto universal foi uma grande conquista da Humanidade - e por assim o achar - considero que o não voto pode ser usado como instrumento político. Por isso, considero que a abstenção ainda ficou abaixo do que - face ao panorama dos candidatos, do país e do que nos apresentam como futuro e como escolhas - deveria ter ficado.

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