O presidente da Câmara Municipal do Porto confessou que a sua «abertura ao sim à regionalização é hoje maior» do que no referendo de 1998, altura em que votou contra a criação de regiões administrativas em Portugal.Dez anos depois, Rui Rio tem uma opinião diferente. Desde que o processo não seja «atabalhoado», mas sim feito com «outra calma, outra sustentabilidade e outro pensamento», o autarca declara-se mais perto do sim se o assunto voltar a ser referendado.Estas afirmações foram proferidas quarta-feira à noite, no auditório da Biblioteca Almeida Garrett, no Porto, no arranque das «Conferências do Porto 2008/09» organizadas pela própria autarquia portuense.Na primeira conferência, «Regionalização: uma vantagem para Portugal?», Rio fez a intervenção inicial e apresentou os convidados: Alberto Castro, economista e professor universitário, e António Figueiredo, igualmente economista, ambos pró-regiões, e Ernâni Lopes, igualmente economista e ex-ministro, mas anti-regionalista.Excessos da capital fazem o autarca mudar de opiniãoO autarca explicou que uma das razões para a sua nova posição é a «concentração» de investimentos à volta da capital portuguesa, Lisboa.Rio apontou quatro exemplos: novo aeroporto, TGV, «em particular» a ligação Lisboa-Madrid, nova travessia sobre o Tejo e os 400 milhões de euros que o Governo anunciou para a frente ribeirinha lisboeta.Face a este excesso, como lhe chamou Rui Rio, o autarca portuense entende que é preciso ter «abertura para soluções diferentes» sobre a organização político-administrativa do país.Rui Rio não pretende uma campanha bairrista«Acresce que o sistema democrático está manifestamente em crise», sublinhou. O autarca deixou uma advertência: não contem com ele para uma campanha baseada em bairrismos ou discursos anti-Lisboa.Perante uma sala repleta, a tal ponto que algumas pessoas tiveram que ficar de pé e outras sentadas nas escadas laterais, Alberto Castro começou por lembrar que em 1998 tinha votado sim e agora votaria também.Por exemplo, segundo Alberto Castro a «concorrência inter territorial» e uma mais fácil «participação dos cidadãos no processo político, permitindo que tomada de decisões seja mais transparente».É em Lisboa que moram os adversários da regionalizaçãoAos que votaram não em 1998, com o argumento de que o exemplo a seguir era descentralizar em vez de regionalizar, o economista disse que «os últimos dados provaram que Portugal tem um excesso de capitalidade».António Figueiredo, que se definiu como um regionalista heterodoxo, criticou o actual modelo, porque «não foi capaz de alargar a base territorial de competitividade da economia portuguesa».Segundo este conferencista, «os serviços estão a reduzir a capacidade competitiva da nossa economia» e esses estão concentrados em Lisboa. É aí que moram «os grandes adversários da regionalização», que, para António Figueiredo são os interesses instalados.Interesses políticos podem «ameaçar a coesão nacionalSobre os «interesses instalados» que alegadamente combatem as regiões, Ernâni Lopes respondeu: «Há interesses? Claro que há. É por isso que isto é um problema político. Mas havendo interesses, há dos dois lados!».Ernâni Lopes foi o alvo de quase todas as questões colocadas pelos espectadores, na sua esmagadora maioria adeptos da regionalização e muito críticos do «centralismo» português.Rui Rio aproveitou este sentimento generalizado de «revolta» para confrontar Ernâni Lopes com a seguinte questão: Esse espírito não é ele próprio também perigoso para a unidade nacional?Ernâni Lopes admitiu que sim, que «este fervilhar» ameaça a coesão nacional e «é caríssimo».Fonte "Portugal Diário".
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O presidente da Câmara Municipal do Porto confessou que a sua «abertura ao sim à regionalização é hoje maior» do que no referendo de 1998, altura em que votou contra a criação de regiões administrativas em Portugal.Dez anos depois, Rui Rio tem uma opinião diferente. Desde que o processo não seja «atabalhoado», mas sim feito com «outra calma, outra sustentabilidade e outro pensamento», o autarca declara-se mais perto do sim se o assunto voltar a ser referendado.Estas afirmações foram proferidas quarta-feira à noite, no auditório da Biblioteca Almeida Garrett, no Porto, no arranque das «Conferências do Porto 2008/09» organizadas pela própria autarquia portuense.Na primeira conferência, «Regionalização: uma vantagem para Portugal?», Rio fez a intervenção inicial e apresentou os convidados: Alberto Castro, economista e professor universitário, e António Figueiredo, igualmente economista, ambos pró-regiões, e Ernâni Lopes, igualmente economista e ex-ministro, mas anti-regionalista.Excessos da capital fazem o autarca mudar de opiniãoO autarca explicou que uma das razões para a sua nova posição é a «concentração» de investimentos à volta da capital portuguesa, Lisboa.Rio apontou quatro exemplos: novo aeroporto, TGV, «em particular» a ligação Lisboa-Madrid, nova travessia sobre o Tejo e os 400 milhões de euros que o Governo anunciou para a frente ribeirinha lisboeta.Face a este excesso, como lhe chamou Rui Rio, o autarca portuense entende que é preciso ter «abertura para soluções diferentes» sobre a organização político-administrativa do país.Rui Rio não pretende uma campanha bairrista«Acresce que o sistema democrático está manifestamente em crise», sublinhou. O autarca deixou uma advertência: não contem com ele para uma campanha baseada em bairrismos ou discursos anti-Lisboa.Perante uma sala repleta, a tal ponto que algumas pessoas tiveram que ficar de pé e outras sentadas nas escadas laterais, Alberto Castro começou por lembrar que em 1998 tinha votado sim e agora votaria também.Por exemplo, segundo Alberto Castro a «concorrência inter territorial» e uma mais fácil «participação dos cidadãos no processo político, permitindo que tomada de decisões seja mais transparente».É em Lisboa que moram os adversários da regionalizaçãoAos que votaram não em 1998, com o argumento de que o exemplo a seguir era descentralizar em vez de regionalizar, o economista disse que «os últimos dados provaram que Portugal tem um excesso de capitalidade».António Figueiredo, que se definiu como um regionalista heterodoxo, criticou o actual modelo, porque «não foi capaz de alargar a base territorial de competitividade da economia portuguesa».Segundo este conferencista, «os serviços estão a reduzir a capacidade competitiva da nossa economia» e esses estão concentrados em Lisboa. É aí que moram «os grandes adversários da regionalização», que, para António Figueiredo são os interesses instalados.Interesses políticos podem «ameaçar a coesão nacionalSobre os «interesses instalados» que alegadamente combatem as regiões, Ernâni Lopes respondeu: «Há interesses? Claro que há. É por isso que isto é um problema político. Mas havendo interesses, há dos dois lados!».Ernâni Lopes foi o alvo de quase todas as questões colocadas pelos espectadores, na sua esmagadora maioria adeptos da regionalização e muito críticos do «centralismo» português.Rui Rio aproveitou este sentimento generalizado de «revolta» para confrontar Ernâni Lopes com a seguinte questão: Esse espírito não é ele próprio também perigoso para a unidade nacional?Ernâni Lopes admitiu que sim, que «este fervilhar» ameaça a coesão nacional e «é caríssimo».Fonte "Portugal Diário".