B.B. King: Houve blues no Douro

01-06-2010
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A música está no ar mal saímos do carro. Há festa na vila, não há dúvida. Não sabíamos é que eram duas. Uma é habitual e já lá iremos. A outra é um ovni que aterrou em Sabrosa, ali quase às portas de Vila Real. O Douro vinhateiro está por todo o lado e a Rota do Vinho do Porto faz uma operação de charme e coloca Sabrosa na boca do mundo. "Agora já todos sabem onde é Sabrosa", diz António Parafita, proprietário do café Fora d"Horas, bem no centro. Nem que para isso tenham tido, primeiro, que enviar faxes. "Queriam saber onde era, que hotéis havia e qual o preço dos bilhetes do concerto."

O concerto é de B. B. King - "Não é o primeiro rei em Sabrosa", alerta Judite Mesquita, 70 anos, proprietária do café Mariju, "o rei D. Carlos também esteve cá". Agora que a monarquia é história, é o "rei dos blues" que passa por Sabrosa. Falar de lenda é redundante, mas todos o fazem. "É o maior, um ícone", diz Pedro Coutinho, 34 anos, vindo de Viseu com amigos - e agora num piquenique improvisado na paragem de camionetas: pão, queijo, salpicão, vinho, para todos os que vierem por bem.

Um ícone que, a caminho dos 85 anos, aterra em Trás-os-Montes vindo de Marrocos e a caminho de Madrid. Para um concerto gratuito. "B. B. King em Sabrosa é estranho. Grátis passa a ser surreal", sublinha Cândido Lopes, 29 anos, também de Viseu.

É grátis porque está incluído no projecto Douro Charme, iniciativa puramente promocional, comparticipada por fundos comunitários, que representa um investimento de 355 mil euros, em que 248 mil vêm do Programa Operacional Regional do Norte (ON.2 - O Novo Norte). O concerto de B. B. King (que leva uma verba de 120 mil euros) é o terceiro da série que roda por vários locais. A Câmara de Sabrosa é "parceiro" na organização deste concerto: "assegura a logística e o espaço", declara José Marques, presidente da autarquia, num total de "cerca de 26 mil euros" investidos. "É um evento estratégico para a promoção do Douro, nacional e internacionalmente", considera o autarca, "e também para Sabrosa, enquanto região e destino turístico". Depois, "envolveu a população" - e as dezenas de barracas de comes e bebes, de associações várias, são prova disso.

Como veio B. B. King dar um concerto grátis em Sabrosa poucos sabem, alguns interrogam-se, a maior parte só quer aproveitar. Areias, 18 anos, diz que "é tudo marketing". "Os hotéis estão cheios." Ele e os amigos, portuenses, dormirão no carro. "Vale a pena, B. B. King é um dos reis." Estão na Praça D. António Valente da Fonseca, onde há blues, guitarra, harmónica e vozes - palco informal para os Molly Lou (de Areias) e Tiago Cruz, 17 anos (do Purple Blues Trio), perdido a dedilhar a guitarra. Ao lado Ricardo Reis, 17 anos, vestido de preto, chapéu e franja substancial, deixa-se levar na harmónica: "É um lugar perfeito. É sossegado, tem boas paisagens e um povo acolhedor."

Sabrosa caprichou na recepção. "Preparou-se, embelezou-se. Só é pena que não se mantenha sempre assim", lamenta Judite Mesquita. É que este é "o maior acontecimento" da vila até hoje, diz António Parafita. "Para o negócio foi muito bom, devíamos era ter muitos braços", secunda-o o irmão e sócio, Manuel Parafita - já o esperavam, tanto que abriram a um sábado, dia normal de encerramento. Além disso, é o fecho do mês de Maria: há tapetes de flores nas ruas e procissão de velas à noite, que começa e acaba ali na praça. O sagrado e o profano: "As pessoas, hoje, em vez de rezarem e irem para a cama, ainda vão ver o B. B. King", graceja Judite Mesquita.

É o que fazem Francisco Lopes, 77 anos, e a mulher, Isaura Azevedo, 76 anos, ainda com a vela na mão. O concerto de B. B. King está prestes a começar (daqui a pouco ouvir-se-á um sonoro "Thank you for coming"), a noite está cerrada e eles ganham balanço no muro do coreto, abaixo do "jardim dos Almeidas", onde o palco foi construído. "Dizem que é o Bê Bê King", avança Francisco. "Não conheço, mas vamos ver."

Horas antes, era difícil encontrar alguém de Sabrosa nas ruas em volta. Pedro Pinho, a mulher e a filha, de quatro anos, chegam já passa das 20h00. Conhece B. B. King só da televisão, mas não ia faltar, "até é de graça". Não se lembra de alguma vez ter visto tanta gente por ali - "nem na festa", em Setembro, sublinha Isabel, a mulher. Nem tanta gente "de todos os estilos" - "que torna a festa ainda mais bonita" -,"novas e mais velhas, sérias e mais malucas".

The Ramblers já tocam no palco secundário quando Francisco Nascimento chega, de Braga, com a mulher e o filho de 26 anos. Todos fãs. Francisco lembra a única vez que viu B. B. King em Portugal, "em 1972, em Cascais". "Nunca esperei vê-lo em Sabrosa. É estranho um rei, com uma idade destas, vir aqui." Soube "casualmente" e o apelo foi irresistível.

A única concorrência, ouvimos, seria Jimi Hendrix. "Viemos ao concerto porque o Jimi Hendrix já morreu", brinca Pedro Coutinho. E por Sabrosa, diz, "um lugar fantástico". O concerto juntou perto de 20 mil pessoas, segundo a organização. João Canelas, 41 anos, no fim, vem de sorriso largo. "É um espectáculo, faz umas caras engraçadas e é simpático. Parece um sonho."

A música está no ar mal saímos do carro. Há festa na vila, não há dúvida. Não sabíamos é que eram duas. Uma é habitual e já lá iremos. A outra é um ovni que aterrou em Sabrosa, ali quase às portas de Vila Real. O Douro vinhateiro está por todo o lado e a Rota do Vinho do Porto faz uma operação de charme e coloca Sabrosa na boca do mundo. "Agora já todos sabem onde é Sabrosa", diz António Parafita, proprietário do café Fora d"Horas, bem no centro. Nem que para isso tenham tido, primeiro, que enviar faxes. "Queriam saber onde era, que hotéis havia e qual o preço dos bilhetes do concerto."

O concerto é de B. B. King - "Não é o primeiro rei em Sabrosa", alerta Judite Mesquita, 70 anos, proprietária do café Mariju, "o rei D. Carlos também esteve cá". Agora que a monarquia é história, é o "rei dos blues" que passa por Sabrosa. Falar de lenda é redundante, mas todos o fazem. "É o maior, um ícone", diz Pedro Coutinho, 34 anos, vindo de Viseu com amigos - e agora num piquenique improvisado na paragem de camionetas: pão, queijo, salpicão, vinho, para todos os que vierem por bem.

Um ícone que, a caminho dos 85 anos, aterra em Trás-os-Montes vindo de Marrocos e a caminho de Madrid. Para um concerto gratuito. "B. B. King em Sabrosa é estranho. Grátis passa a ser surreal", sublinha Cândido Lopes, 29 anos, também de Viseu.

É grátis porque está incluído no projecto Douro Charme, iniciativa puramente promocional, comparticipada por fundos comunitários, que representa um investimento de 355 mil euros, em que 248 mil vêm do Programa Operacional Regional do Norte (ON.2 - O Novo Norte). O concerto de B. B. King (que leva uma verba de 120 mil euros) é o terceiro da série que roda por vários locais. A Câmara de Sabrosa é "parceiro" na organização deste concerto: "assegura a logística e o espaço", declara José Marques, presidente da autarquia, num total de "cerca de 26 mil euros" investidos. "É um evento estratégico para a promoção do Douro, nacional e internacionalmente", considera o autarca, "e também para Sabrosa, enquanto região e destino turístico". Depois, "envolveu a população" - e as dezenas de barracas de comes e bebes, de associações várias, são prova disso.

Como veio B. B. King dar um concerto grátis em Sabrosa poucos sabem, alguns interrogam-se, a maior parte só quer aproveitar. Areias, 18 anos, diz que "é tudo marketing". "Os hotéis estão cheios." Ele e os amigos, portuenses, dormirão no carro. "Vale a pena, B. B. King é um dos reis." Estão na Praça D. António Valente da Fonseca, onde há blues, guitarra, harmónica e vozes - palco informal para os Molly Lou (de Areias) e Tiago Cruz, 17 anos (do Purple Blues Trio), perdido a dedilhar a guitarra. Ao lado Ricardo Reis, 17 anos, vestido de preto, chapéu e franja substancial, deixa-se levar na harmónica: "É um lugar perfeito. É sossegado, tem boas paisagens e um povo acolhedor."

Sabrosa caprichou na recepção. "Preparou-se, embelezou-se. Só é pena que não se mantenha sempre assim", lamenta Judite Mesquita. É que este é "o maior acontecimento" da vila até hoje, diz António Parafita. "Para o negócio foi muito bom, devíamos era ter muitos braços", secunda-o o irmão e sócio, Manuel Parafita - já o esperavam, tanto que abriram a um sábado, dia normal de encerramento. Além disso, é o fecho do mês de Maria: há tapetes de flores nas ruas e procissão de velas à noite, que começa e acaba ali na praça. O sagrado e o profano: "As pessoas, hoje, em vez de rezarem e irem para a cama, ainda vão ver o B. B. King", graceja Judite Mesquita.

É o que fazem Francisco Lopes, 77 anos, e a mulher, Isaura Azevedo, 76 anos, ainda com a vela na mão. O concerto de B. B. King está prestes a começar (daqui a pouco ouvir-se-á um sonoro "Thank you for coming"), a noite está cerrada e eles ganham balanço no muro do coreto, abaixo do "jardim dos Almeidas", onde o palco foi construído. "Dizem que é o Bê Bê King", avança Francisco. "Não conheço, mas vamos ver."

Horas antes, era difícil encontrar alguém de Sabrosa nas ruas em volta. Pedro Pinho, a mulher e a filha, de quatro anos, chegam já passa das 20h00. Conhece B. B. King só da televisão, mas não ia faltar, "até é de graça". Não se lembra de alguma vez ter visto tanta gente por ali - "nem na festa", em Setembro, sublinha Isabel, a mulher. Nem tanta gente "de todos os estilos" - "que torna a festa ainda mais bonita" -,"novas e mais velhas, sérias e mais malucas".

The Ramblers já tocam no palco secundário quando Francisco Nascimento chega, de Braga, com a mulher e o filho de 26 anos. Todos fãs. Francisco lembra a única vez que viu B. B. King em Portugal, "em 1972, em Cascais". "Nunca esperei vê-lo em Sabrosa. É estranho um rei, com uma idade destas, vir aqui." Soube "casualmente" e o apelo foi irresistível.

A única concorrência, ouvimos, seria Jimi Hendrix. "Viemos ao concerto porque o Jimi Hendrix já morreu", brinca Pedro Coutinho. E por Sabrosa, diz, "um lugar fantástico". O concerto juntou perto de 20 mil pessoas, segundo a organização. João Canelas, 41 anos, no fim, vem de sorriso largo. "É um espectáculo, faz umas caras engraçadas e é simpático. Parece um sonho."

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