PADRES INQUIETOS: Cesaropapismo dissimulado

18-12-2009
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A grande deficiência da cristologia hoje é a cristologia política da Igreja antiga, isto é, influência dos interesses políticos na teologia. Compreende-se que isto tenha acontecido num determinado tempo da história, na época da decadencia do Imperio. Aquilo estava a afundar-se e era necessário agarrar-se a alguma coisa. Como se aperceberam que o cristianismo estava a crescer, os imperadores agarraram-se a ele. Mas, claro, a eles não lhes interessava um Deus crucificado. E o grande problema com que se depararam foi que o cristianismo pregava que o Deus no qual acreditavam era um crucificado, isto é, um escravo, ou um extrangeiro, ou um subversivo. Como resolveram o problema? Criando um Deus Todo-poderoso. El pantocrator, que era um título imperial que acrescentaram a Jesus Cristo. Porém, o o Deus que encontramos nos Evangelhos é um Deus misericordioso. Na verdade, as pessoas não precisam de poderes que as dominem, mas de compreensão, misericórdia, respeito, tolerância, ajuda diante da debilidade. Este é o melhor serviço que a Igreja pode prestar. E isso não o pode fazer uma Igreja de poder. E ao olharmos para o Vaticano dá a sensação de que estamos diante de um grande poder. Porém, isto não é só uma sensação, mas é uma realidade. A cúpula e a praça de São Pedro, a magestuosidade dum cardenal revestido com todos seus ornamentos, são uma expressão simbólica duma realidade. A Igreja prega continuamente o Evangelho. Existem muitas pessoas na Igreja que o pregam, vivem, e sofren por causa do Evangelho. Existem bispos, sacerdotes e religiosas e religiosos que o fazem em sitios onde niguém quer ir. Padres que passam verdadeiramente mal, nos piores sitios. No entanto, isso não é notícia. O que é notícia são as grandes reuniões na Praça de São Pedro, as viagens do Papa que a qualquer sítio onde vai tem de ser recibido como um grande deste mundo, como um chefe de estado!E as pessoas não entendem. Porquê? Como associar estas imagens com aquelas que se leêm no Evangelho? Jesus, quando mandou os apostolos a evangelizar disse-lhes: "Não leveis dinheiro, nem cajado, nem sandálias; não leveis duas túnicas". Porque é assim que se evangeliza. Eu creio que evangelizou mais São Francisco de Assis com a sua humildade e a sua simplicidade, ou muitas outras pessoas por ai perdidas, padres, monjas, leigos... do que estas personagens que aparecem com esta pompa. E o pior é que esta tendencia está crescendo ultimamente. Caminhamos a passos largos para uma Igreja da pompa e da liturgia e afastamo-nos cada vez mais dos pobres. E isto acontece na medida em que a Igreja perde poder no tecido social. Quanto menos poder, mais tendência a agarrar-se a estas coisas. É por isso que vemos a Igreja cada vez nais agarradada ao integrismo dogmático...O Decisivo seria o Sermão da Montanha, mas esse exigiria outra postura...Fonte: O teólogo José María Castillo: "La humanización de Dios".


A grande deficiência da cristologia hoje é a cristologia política da Igreja antiga, isto é, influência dos interesses políticos na teologia. Compreende-se que isto tenha acontecido num determinado tempo da história, na época da decadencia do Imperio. Aquilo estava a afundar-se e era necessário agarrar-se a alguma coisa. Como se aperceberam que o cristianismo estava a crescer, os imperadores agarraram-se a ele. Mas, claro, a eles não lhes interessava um Deus crucificado. E o grande problema com que se depararam foi que o cristianismo pregava que o Deus no qual acreditavam era um crucificado, isto é, um escravo, ou um extrangeiro, ou um subversivo. Como resolveram o problema? Criando um Deus Todo-poderoso. El pantocrator, que era um título imperial que acrescentaram a Jesus Cristo. Porém, o o Deus que encontramos nos Evangelhos é um Deus misericordioso. Na verdade, as pessoas não precisam de poderes que as dominem, mas de compreensão, misericórdia, respeito, tolerância, ajuda diante da debilidade. Este é o melhor serviço que a Igreja pode prestar. E isso não o pode fazer uma Igreja de poder. E ao olharmos para o Vaticano dá a sensação de que estamos diante de um grande poder. Porém, isto não é só uma sensação, mas é uma realidade. A cúpula e a praça de São Pedro, a magestuosidade dum cardenal revestido com todos seus ornamentos, são uma expressão simbólica duma realidade. A Igreja prega continuamente o Evangelho. Existem muitas pessoas na Igreja que o pregam, vivem, e sofren por causa do Evangelho. Existem bispos, sacerdotes e religiosas e religiosos que o fazem em sitios onde niguém quer ir. Padres que passam verdadeiramente mal, nos piores sitios. No entanto, isso não é notícia. O que é notícia são as grandes reuniões na Praça de São Pedro, as viagens do Papa que a qualquer sítio onde vai tem de ser recibido como um grande deste mundo, como um chefe de estado!E as pessoas não entendem. Porquê? Como associar estas imagens com aquelas que se leêm no Evangelho? Jesus, quando mandou os apostolos a evangelizar disse-lhes: "Não leveis dinheiro, nem cajado, nem sandálias; não leveis duas túnicas". Porque é assim que se evangeliza. Eu creio que evangelizou mais São Francisco de Assis com a sua humildade e a sua simplicidade, ou muitas outras pessoas por ai perdidas, padres, monjas, leigos... do que estas personagens que aparecem com esta pompa. E o pior é que esta tendencia está crescendo ultimamente. Caminhamos a passos largos para uma Igreja da pompa e da liturgia e afastamo-nos cada vez mais dos pobres. E isto acontece na medida em que a Igreja perde poder no tecido social. Quanto menos poder, mais tendência a agarrar-se a estas coisas. É por isso que vemos a Igreja cada vez nais agarradada ao integrismo dogmático...O Decisivo seria o Sermão da Montanha, mas esse exigiria outra postura...Fonte: O teólogo José María Castillo: "La humanización de Dios".

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