hermesnews: Paredes de Coura arrefeceu tanto que Jarvis ameaçou tirar a camisola

03-08-2010
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Por Hugo Torres in A BolaO festival de Paredes de Coura acabou. Ao contrário do que se poderia cogitar à partida, não foi perdendo força com os dias. Pelo contrário: é incerto que a culpa tenha sido da chuva e do frio que chegou do Norte, mas Jarvis Cocker conseguiu superar toda a gente e explicar que de grandes canções percebe ele bem.É inevitável renunciar a tudo o que foi dito até aqui. Nem Franz Ferdinand, nem Nine Inch Nails: esta edição de Paredes de Coura leva-a Jarvis no bolso, com uma classe de cavalheiro que só está ao alcance de certos ingleses. É na inteligência do antigo mentor dos Pulp que se encontra a melhor caracterização do que se viu ao largo da praia do Taboão.A interpretação das canções foi tudo menos branca. É rugosa, recortada, trepidante, mutante, sarcástica. Há um brilhantismo escondido a cada novo verso, a cada curva na música. Se o mundo fosse perfeito, Cocker teria sido aclamado, de pé ou a voar, entusiasticamente, com ou sem a promessa irónica de tirar a camisola.Não aconteceu, nem uma coisa nem outra. O festival acabou com uma média de 22 mil pessoas por dia no recinto e a enchente do quarto e derradeiro era para os suecos The Hives. (Era ver, na hora da abertura de portas, as gentes em debandada, pelo monte abaixo, para agarrar os lugares na grades.) Esses, sim, arrebataram o público.A pergunta que se impõe é a que fará saber se a um festival interessa cada vez mais – e apenas – o nome que está no topo do alinhamento. The Hives foram protagonistas de um espectáculo de endeusamento da banda, pelos próprios e graças à permissividade da grande massa.É verdade que não se discutem gostos. E foi aí que residiu o êxito retumbante do derivado punk dos autores de Tick tick boom. No entanto, o que se espera de um público aberto e consequente é que não se limite a estar presente para cantarolar as canções que levam decoradas e ouçam tudo o que daí sobeja, que se deixem cativar.Teriam assim percebido a eloquência de um contador de estórias como Jarvis Cocker. (Que fez lembrar Nick Cave, naquele mesmo palco, há anos.) A curiosidade ainda levou muitos até Foge Foge Bandido, com Manel Cruz ao leme, no primeiro concerto do dia. São da mesma turma. O antigo vocalista de Ornatos Violeta é um letrista como não deve haver igual no país, clarividente, e dono de uma voz ímpar, como é bem sabido.De resto, os madrilenos The Right Ons expuseram um rock de bom-tom, ao passo que os australianos Howling Bells, cuja actuação até era esperada com expectativa, deixaram o palco morno para a entrada de Coker. No palco secundário, coube aos electrizantes Sizo, do Porto, e a um Nuno Lopes versão DJ fechar o festival, depois do circo umbiguista dos The Hives. Já se sabe: para o ano, no sítio do costume.


Por Hugo Torres in A BolaO festival de Paredes de Coura acabou. Ao contrário do que se poderia cogitar à partida, não foi perdendo força com os dias. Pelo contrário: é incerto que a culpa tenha sido da chuva e do frio que chegou do Norte, mas Jarvis Cocker conseguiu superar toda a gente e explicar que de grandes canções percebe ele bem.É inevitável renunciar a tudo o que foi dito até aqui. Nem Franz Ferdinand, nem Nine Inch Nails: esta edição de Paredes de Coura leva-a Jarvis no bolso, com uma classe de cavalheiro que só está ao alcance de certos ingleses. É na inteligência do antigo mentor dos Pulp que se encontra a melhor caracterização do que se viu ao largo da praia do Taboão.A interpretação das canções foi tudo menos branca. É rugosa, recortada, trepidante, mutante, sarcástica. Há um brilhantismo escondido a cada novo verso, a cada curva na música. Se o mundo fosse perfeito, Cocker teria sido aclamado, de pé ou a voar, entusiasticamente, com ou sem a promessa irónica de tirar a camisola.Não aconteceu, nem uma coisa nem outra. O festival acabou com uma média de 22 mil pessoas por dia no recinto e a enchente do quarto e derradeiro era para os suecos The Hives. (Era ver, na hora da abertura de portas, as gentes em debandada, pelo monte abaixo, para agarrar os lugares na grades.) Esses, sim, arrebataram o público.A pergunta que se impõe é a que fará saber se a um festival interessa cada vez mais – e apenas – o nome que está no topo do alinhamento. The Hives foram protagonistas de um espectáculo de endeusamento da banda, pelos próprios e graças à permissividade da grande massa.É verdade que não se discutem gostos. E foi aí que residiu o êxito retumbante do derivado punk dos autores de Tick tick boom. No entanto, o que se espera de um público aberto e consequente é que não se limite a estar presente para cantarolar as canções que levam decoradas e ouçam tudo o que daí sobeja, que se deixem cativar.Teriam assim percebido a eloquência de um contador de estórias como Jarvis Cocker. (Que fez lembrar Nick Cave, naquele mesmo palco, há anos.) A curiosidade ainda levou muitos até Foge Foge Bandido, com Manel Cruz ao leme, no primeiro concerto do dia. São da mesma turma. O antigo vocalista de Ornatos Violeta é um letrista como não deve haver igual no país, clarividente, e dono de uma voz ímpar, como é bem sabido.De resto, os madrilenos The Right Ons expuseram um rock de bom-tom, ao passo que os australianos Howling Bells, cuja actuação até era esperada com expectativa, deixaram o palco morno para a entrada de Coker. No palco secundário, coube aos electrizantes Sizo, do Porto, e a um Nuno Lopes versão DJ fechar o festival, depois do circo umbiguista dos The Hives. Já se sabe: para o ano, no sítio do costume.

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