Almanaque Republicano

28-05-2010
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JOÃO FIEL STOCKLER (Parte II)Considerado um benemérito da Pátria, ao abrigo da lei de 30 de Abril de 1921.Por decreto de 1 de Maio de 1925 foi nomeado para o cargo de Secretário do Conselho Superior de Disciplina da Armada.Bibliófilo e coleccionador, juntou uma biblioteca que foi vendida à Livraria Morais e depois colocada em leilão, com o objectivo de se angariar fundos para um prémio monetário com o seu nome que ainda actualmente existe na Escola Naval. No prefácio do catálogo, assinado pelo camilista Dr. Júlio Dias da Costa, refere-se : “Stockler coleccionava as publicações da Grande Guerra, os inúmeros livros e folhetos que os aliados distribuíam, e dava-lhe quantos recebia, e não poucos eram”. Na sua biblioteca era possível encontrar para além de muitas obras sobre marinha, mas também livros de arte e valiosas edições de clássicos entre as quais o prefaciador salientava O Caleche, O Juízo Final, as Inspiraçoens, o Matricídio sem exemplo e primeiras edições de Carlota Ângela, da Caveira da Martyr e do Marquez de Torres Novas, bem como o Summario, de Cristóvão Rodrigues de Oliveira. O catálogo era constituído por um total de 1006 volumes, que foram a leilão em Novembro de 1929, promovido pela Livraria Moraes, mas que decorreu na Casa Liquidadora, em Lisboa.Tinha as seguintes condecorações:- Cavaleiro da Real Ordem de São Bento de Aviz;- Medalha Militar de prata da classe de comportamento exemplar;- Comendador da Ordem Militar de Aviz;- Medalha de ouro comemorativa das campanhas do exército português Moçambique. 1914-1918;- Medalha da Vitória.Louvores:- Foi louvado pelo comandante da Divisão Naval do Índico, pela sua acção como comandante do vapor Batista de Andrade, pela sua coragem e dedicação, pelo seu extenuante trabalho durante o período em que o navio esteve sob a acção da monomocaia (desde 19 de Fevereiro de 1906).- O Ministro da Marinha concedeu-lhe também um louvor pela dedicação e energia aquando do levantamento do Baixo de Pinda também em 1906.Pertencia à Maçonaria.Faleceu a 24 de Maio de 1925.A propósito do seu falecimento, veja-se o que afirmaram no Parlamento, à época dos acontecimentos: [Discurso de Ginestal Machado]Não me leve V. Exa., Sr. Presidente, a mal, nem o pode estranhar a Câmara, como não estranharia o próprio espírito do João Chagas, se pudesse baixar até à terra e vir a entre nós, que eu desde já associe o faça envolver na mesma homenagem um outro republicano não menos dedicado, e que foi também incluído entre os nomes por V. Exa. enumerados: refiro-me ao capitão de fragata João Fiel Stockler.Se João Chagas foi o apóstolo da República, Fiel Stockler pertenceu àquele grupo do oficiais da nossa heróica marinha do guerra, que em 5 de Outubro fizeram com que a República deixasse de ser um ideal apenas para se tornar numa realidade.[Discurso de Ernesto Sá Cardoso]Além da homenagem a prestar a João Chagas, quero ainda dizer algumas palavras sobre Fiel Stockler.Fiel Stockler era um revolucionário de 5 de Outubro, e dos mais distintos.Quando ontem se foi prestar homenagem a João Chagas, ladeavam o seu cadáver os revolucionários de 31 de Janeiro e de 5 de Outubro. Se Fiel Stockler fôsse vivo, de incorporar-se-ia no préstito para dar a João Chagas o seu último adeus.Sr. Presidente: os revolucionários de 5 de Outubro, com Fiel Stockler à fronte, têm naturalmente direito ao nosso reconhecimento; e, por consequência, pela morte deste distinto oficial que foi um brilhante ornamento da armada portuguesa, a Acção Republicana não podia deixar do se associar, e com pesar ao voto de sentimento proposto por V. Exa.Segue-se o Sr. Campos Melo, que foi nosso colega, nesta Câmara, ocupando a extrema esquerda.Creio que a Câmara conserva a mais grata recordação da sua companhia e não é, portanto favor, antes é um acto de justiça. associarmo-nos ao voto de sentimento proposto pela sua morte.[Sessão de 1 de Junho de 1925, p. 17][Vitorino Guimarães]O Governo não conhecia a situação em que se encontrava a mãe desse grande militar e prestimoso cidadão.Soube depois que essa proposta seria apresentada por parte dos seus correligionários, e, assim, o Governo entendeu que não devia antecipar-se, deixando, por isso, aos amigos políticos do falecido a satisfação, que certamente teriam, de que essa proposta fosse enviada para a Mesa por esse lado da Câmara.Foi essa a única razão por que a proposta não foi apresentada pelo Governo, mas, nós fazemo-la nossa, e, procedendo assim, pena é que seja esta a única homenagem que podemos prestar a esse grande republicano, que foi o comandante Stockler. (…)Devo dizer que é com profunda mágoa que o dever me impõe fazer oposição à proposta do Sr. Ginestal Machado, e digo com profunda mágoa, porque o Sr. comandante João Fiel Stockler foi meu condiscípulo e a ele me ligaram relações de muita e sincera amizade.Sinto muito e muito a sua morte.Tenho muita saudade dos tempos em que juntos andávamos, e não há nada para mim mais penoso, desde que se trata de votar uma pensão para a mãe de João Fiel Stockler, do que não poder dar-lhe o meu voto.Mas S. Exa. era um oficial de marinha, e, nessa qual idade, tinha seguramente o seu montepio.Não vejo, portanto, razão para só continuar o péssimo sistema de se concederem pensões às famílias daqueles que morrem simplesmente pelo facto de terem feito parte de uma revolução.[Sessão de 1 de Junho de 1925, p. 28]Realizou/Publicou:- Reconhecimento hydrográphico da barra do rio Meige (Kinga) [ Material cartográfico : província de Moçambique / Commissão de Cartografia ; levantado sob a dir. de Joäo Fiel Stockler, Escala 1:5000, [Lisboa] : C.C., 1903, 1 carta : imp. em papel ; 29,80x39,00 cm em folha de 33,20x54,00 cm; [Levantado em 1901 pelos guarda-marinhas da canhoneira Liberal sob a direcção do 2º tenente João Fiel Stockler] Pode ser visualizada Aqui. - Reconhecimento hydrographico de Porto Velhaco [ Material cartográfico : Namalungo : província de Moçambique / Comissão de Cartographia ; levantado por Joäo Stockler e José Torres, Escala 1:15000, Lisboa : C. C., 1908, 1 carta : imp. em papel ; 39,30x34,40 cm em folha de 43,80x41,20 cm- Catálogo da biblioteca que pertenceu ao ilustre oficial de marinha João Fiel Stockler / pref. do Dr. Julio Dias da Costa, Lisboa, Livr. Moraes, 1929;Sobre esta personalidade ver ainda:-FERREIRA, Raúl César, O comandante João Fiel Stockler, Lisboa : Imprensa da Armada, 1930;- CABEÇADAS, José Mendes, “Capitão de Fragata João Fiel Stockler”, Anais do Club Militar Naval, Tomo LVI, nº 4, 5 e 6, Abril, Maio e Junho de 1925, Lisboa, 1925, p. 94-101.- - MARQUES, A. H. Oliveira (Coord.), Parlamentares e Ministros da 1ª República (1910-1926), Col. Parlamento, Edições Afrontamento, 2000.- SANTOS, Machado, A Revolução Portuguesa. 1907-1910, Assírio & Alvim, Lisboa, 1982.A.A.B.M.


JOÃO FIEL STOCKLER (Parte II)Considerado um benemérito da Pátria, ao abrigo da lei de 30 de Abril de 1921.Por decreto de 1 de Maio de 1925 foi nomeado para o cargo de Secretário do Conselho Superior de Disciplina da Armada.Bibliófilo e coleccionador, juntou uma biblioteca que foi vendida à Livraria Morais e depois colocada em leilão, com o objectivo de se angariar fundos para um prémio monetário com o seu nome que ainda actualmente existe na Escola Naval. No prefácio do catálogo, assinado pelo camilista Dr. Júlio Dias da Costa, refere-se : “Stockler coleccionava as publicações da Grande Guerra, os inúmeros livros e folhetos que os aliados distribuíam, e dava-lhe quantos recebia, e não poucos eram”. Na sua biblioteca era possível encontrar para além de muitas obras sobre marinha, mas também livros de arte e valiosas edições de clássicos entre as quais o prefaciador salientava O Caleche, O Juízo Final, as Inspiraçoens, o Matricídio sem exemplo e primeiras edições de Carlota Ângela, da Caveira da Martyr e do Marquez de Torres Novas, bem como o Summario, de Cristóvão Rodrigues de Oliveira. O catálogo era constituído por um total de 1006 volumes, que foram a leilão em Novembro de 1929, promovido pela Livraria Moraes, mas que decorreu na Casa Liquidadora, em Lisboa.Tinha as seguintes condecorações:- Cavaleiro da Real Ordem de São Bento de Aviz;- Medalha Militar de prata da classe de comportamento exemplar;- Comendador da Ordem Militar de Aviz;- Medalha de ouro comemorativa das campanhas do exército português Moçambique. 1914-1918;- Medalha da Vitória.Louvores:- Foi louvado pelo comandante da Divisão Naval do Índico, pela sua acção como comandante do vapor Batista de Andrade, pela sua coragem e dedicação, pelo seu extenuante trabalho durante o período em que o navio esteve sob a acção da monomocaia (desde 19 de Fevereiro de 1906).- O Ministro da Marinha concedeu-lhe também um louvor pela dedicação e energia aquando do levantamento do Baixo de Pinda também em 1906.Pertencia à Maçonaria.Faleceu a 24 de Maio de 1925.A propósito do seu falecimento, veja-se o que afirmaram no Parlamento, à época dos acontecimentos: [Discurso de Ginestal Machado]Não me leve V. Exa., Sr. Presidente, a mal, nem o pode estranhar a Câmara, como não estranharia o próprio espírito do João Chagas, se pudesse baixar até à terra e vir a entre nós, que eu desde já associe o faça envolver na mesma homenagem um outro republicano não menos dedicado, e que foi também incluído entre os nomes por V. Exa. enumerados: refiro-me ao capitão de fragata João Fiel Stockler.Se João Chagas foi o apóstolo da República, Fiel Stockler pertenceu àquele grupo do oficiais da nossa heróica marinha do guerra, que em 5 de Outubro fizeram com que a República deixasse de ser um ideal apenas para se tornar numa realidade.[Discurso de Ernesto Sá Cardoso]Além da homenagem a prestar a João Chagas, quero ainda dizer algumas palavras sobre Fiel Stockler.Fiel Stockler era um revolucionário de 5 de Outubro, e dos mais distintos.Quando ontem se foi prestar homenagem a João Chagas, ladeavam o seu cadáver os revolucionários de 31 de Janeiro e de 5 de Outubro. Se Fiel Stockler fôsse vivo, de incorporar-se-ia no préstito para dar a João Chagas o seu último adeus.Sr. Presidente: os revolucionários de 5 de Outubro, com Fiel Stockler à fronte, têm naturalmente direito ao nosso reconhecimento; e, por consequência, pela morte deste distinto oficial que foi um brilhante ornamento da armada portuguesa, a Acção Republicana não podia deixar do se associar, e com pesar ao voto de sentimento proposto por V. Exa.Segue-se o Sr. Campos Melo, que foi nosso colega, nesta Câmara, ocupando a extrema esquerda.Creio que a Câmara conserva a mais grata recordação da sua companhia e não é, portanto favor, antes é um acto de justiça. associarmo-nos ao voto de sentimento proposto pela sua morte.[Sessão de 1 de Junho de 1925, p. 17][Vitorino Guimarães]O Governo não conhecia a situação em que se encontrava a mãe desse grande militar e prestimoso cidadão.Soube depois que essa proposta seria apresentada por parte dos seus correligionários, e, assim, o Governo entendeu que não devia antecipar-se, deixando, por isso, aos amigos políticos do falecido a satisfação, que certamente teriam, de que essa proposta fosse enviada para a Mesa por esse lado da Câmara.Foi essa a única razão por que a proposta não foi apresentada pelo Governo, mas, nós fazemo-la nossa, e, procedendo assim, pena é que seja esta a única homenagem que podemos prestar a esse grande republicano, que foi o comandante Stockler. (…)Devo dizer que é com profunda mágoa que o dever me impõe fazer oposição à proposta do Sr. Ginestal Machado, e digo com profunda mágoa, porque o Sr. comandante João Fiel Stockler foi meu condiscípulo e a ele me ligaram relações de muita e sincera amizade.Sinto muito e muito a sua morte.Tenho muita saudade dos tempos em que juntos andávamos, e não há nada para mim mais penoso, desde que se trata de votar uma pensão para a mãe de João Fiel Stockler, do que não poder dar-lhe o meu voto.Mas S. Exa. era um oficial de marinha, e, nessa qual idade, tinha seguramente o seu montepio.Não vejo, portanto, razão para só continuar o péssimo sistema de se concederem pensões às famílias daqueles que morrem simplesmente pelo facto de terem feito parte de uma revolução.[Sessão de 1 de Junho de 1925, p. 28]Realizou/Publicou:- Reconhecimento hydrográphico da barra do rio Meige (Kinga) [ Material cartográfico : província de Moçambique / Commissão de Cartografia ; levantado sob a dir. de Joäo Fiel Stockler, Escala 1:5000, [Lisboa] : C.C., 1903, 1 carta : imp. em papel ; 29,80x39,00 cm em folha de 33,20x54,00 cm; [Levantado em 1901 pelos guarda-marinhas da canhoneira Liberal sob a direcção do 2º tenente João Fiel Stockler] Pode ser visualizada Aqui. - Reconhecimento hydrographico de Porto Velhaco [ Material cartográfico : Namalungo : província de Moçambique / Comissão de Cartographia ; levantado por Joäo Stockler e José Torres, Escala 1:15000, Lisboa : C. C., 1908, 1 carta : imp. em papel ; 39,30x34,40 cm em folha de 43,80x41,20 cm- Catálogo da biblioteca que pertenceu ao ilustre oficial de marinha João Fiel Stockler / pref. do Dr. Julio Dias da Costa, Lisboa, Livr. Moraes, 1929;Sobre esta personalidade ver ainda:-FERREIRA, Raúl César, O comandante João Fiel Stockler, Lisboa : Imprensa da Armada, 1930;- CABEÇADAS, José Mendes, “Capitão de Fragata João Fiel Stockler”, Anais do Club Militar Naval, Tomo LVI, nº 4, 5 e 6, Abril, Maio e Junho de 1925, Lisboa, 1925, p. 94-101.- - MARQUES, A. H. Oliveira (Coord.), Parlamentares e Ministros da 1ª República (1910-1926), Col. Parlamento, Edições Afrontamento, 2000.- SANTOS, Machado, A Revolução Portuguesa. 1907-1910, Assírio & Alvim, Lisboa, 1982.A.A.B.M.

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