Valentim Loureiro: O povo às vezes zanga-se

17-10-2009
marcar artigo

O povo às vezes zanga-se

A política portuguesa, senão mesmo a democracia, merecem reflexões sérias.

Mas sérias mesmo. Não falo dos comentários redondos e politicamente correctos, que se decalcam uns aos outros, e se espalham pelos jornais ditos de referência.

Nem falo dos debates com os mesmos, que se plagiam a eles próprios.

Falo de uma reflexão própria.

Estas Eleições Autárquicas ficaram marcadas por golpes baixos. Marques Mendes, por exemplo, resolveu, no mais puro populismo político, descartar dois dos autarcas que mais contribuíram para o engradecimento do Partido. Disse-se por esse País, que o fez com coragem. Mas, afinal, o que é a coragem? É agir pela calada, virando a cara para não ver os estragos? É esse o conceito de imagem de credibilidade que o “político” Marques Mendes quer deixar ao Partido, às bases, aos portugueses, aos jovens? A imagem do “punhal das costas”, que não se assume, que não se enfrenta, que não se explica, é a imagem que Marques Mendes quer que faça escola do PSD?

Marques Mendes nunca teve a coragem de pegar num telefone, de ir ter com Valentim Loureiro, de mandar um dos seus acólitos a Gondomar e explicar onde estava o cisco no olho de Valentim, que os carreiristas de Lisboa não têm.

Passou.

Valentim Loureiro obteve em Gondomar um resultado esmagador. Esmagador mesmo. Pois os Partidos – todos – quase se pulverizaram. PS, PSD e CDU obtiveram os piores resultados de sempre em Gondomar, e não estou a falar só de Autárquicas, estou a contar também com as Legislativas.

Mas, o mais curioso é a reacção do “Portugal Democrático”. Ironicamente, chamo assim ao Portugal do Parlamento, ao Portugal dos Partidos, ao Portugal televisivo. Esse Portugal - que não é o Portugal do povo - em lugar de olhar para Gondomar e tentar perceber o que ali se passou, onde falharam os Partidos, o que não disseram aos gondomarenses que eles queriam ouvir, o que não fizeram em 12 anos, que os gondomarenses gostariam que tivessem feito, viraram-se contra o seu próprio sistema.

Primeira reacção, levar ao Parlamento a discussão: “como é que se proíbe Valentim de Ganhar”. E lá se discutiu, então, as candidaturas independentes.

Mas, eu recordo, esta Lei foi feita pelos Partidos. Foram eles que a fizeram, estudaram, discutiram e aprovaram. Foi o Presidente da República que a promulgou. Não foi Valentim nem Isaltino.

Perante o resultado expresso pelo povo, em voto tão livre e democrático como o do restante Portugal, a reacção: “isto está errado. O povo é estúpido”... mas só o de Gondomar é estúpido, pois o que elegeu candidatos dos Partidos... é inteligente!

Dá, por isso, ideia, que esta Lei era boa, mas só era boa se os independentes perdessem. Como ganharam, passou a ser má e muda-se.

É como se as regras da Fórmula 1 fossem boas: “todos os carros têm quatro rodas”. Mas... perante sete campeonatos ganhos por Schumacher, há que mudar os regulamentos e obrigar os carros vermelhos a correrem só com três rodas. Chamar a isto democracia, é um exercício de uma preocupante falta de lucidez, que comentadores, cronistas, políticos e sábios resolveram ignorar.

Outra curiosidade destes “rescaldos eleitorais” está no facto desta “coisa” das candidaturas independentes estar a ser discutida exclusivamente por... “partidários”. E... ora bolas, ainda ninguém ouviu os independentes sobre o assunto! Mais, ninguém sequer ouviu o povo! Se é que a sua expressão pelo voto é insuficiente!

A imprensa, a dada altura tão empenhada em explorar a campanha em Gondomar, ainda não teve a habilidade de vir ao terreno perguntar... aos gondomarenses, porque votaram em Valentim! Como decidiu ignorar que a vitória de Valentim em Gondomar é a mais expressiva e evidente do País.

Em Câmaras de média e grande dimensão, isto é, com mais de 100 mil habitantes, Valentim obteve a maior percentagem de votos, averbando mais de 48 mil. Isaltino, que ganhou em Oeiras, obteve 26 mil. Só para dar uma ideia.

Mais, Valentim foi um dos dois vencedores a eleger oito Vereadores. E elegeu oito em 11. Carmona elegeu o mesmo número, mas falhou a maioria absoluta, pois Lisboa elege 17. Em Gaia, Meneses elegeu 7 em 11 e ficou com 55% dos votos, menos 2,5% que Valentim.

Mas, a minha preocupação alarga-se ainda mais à medida que os dias passam. Se a reacção inicial foi tentar proibir, a seguinte foi fingir que não aconteceu.

Como é possível ler crónicas e ouvir debates inteiros sobre estas Autárquicas sem tocar neste assunto?

Concorrendo só em Gondomar, Valentim Loureiro obteve mais votos do que: PCPT/MRPP; PH, PND, PRN, PPM, MPT, PSN e várias coligações entre PSD, CDS e outros pequenos Partidos, A NÍVEL NACIONAL.

Concorrendo só em Gondomar, Valentim Loureiro obteve um terço dos votos do Bloco de Esquerda A NÍVEL NACIONAL, mas conseguiu MAIS MANDATOS DO QUE O PARTIDO DE FRANCISCO LOUÇà (oito contra sete) e conseguiu uma Câmara, tal como o Bloco, mas uma Câmara muito maior e muito mais importante. Curiosamente, tal como Valentim, também a Presidente de Câmara do pequeno Município onde o Bloco ganhou... é arguida! Era, portanto, segundo o líder do Bloco, um dos “candidatos bandido”.

Apesar disto, os “balanços” que os políticos fazem, ignoram estrategicamente Gondomar. Mas dão voz a Fernando Rosas, Louçã, Teixeira Lopes. Tudo, derrotados de 9 de Outubro.

E vemos PSD a dizer que os resultados provam que houve uma censura ao Governo, a CDU a dizer que os seus bons resultados se devem à qualidade dos seus autarcas, o CDS PP a dizer que os portugueses mantiveram o Partido representado nos órgãos autárquicos, Louçã a dizer que os portugueses estão receptivos à mensagem do Bloco e, por isso, subiram, e vemos ainda o PS a dizer que as Eleições Autárquicas são isso mesmo, escolhas individuais.

Ou seja, para os sábios do PSD, o povo “nacional” é um povo sábio que lhe deu a vitória... menos o de Gondomar que é estúpido... porque votou diferente.

E, no discurso dos outros Partidos, lá vamos dar ao mesmo!

Por populismo, entende-se a “carta de Valentim”, entende-se o discurso de campanha de Valentim.

Pela minha parte, recuso-me a aceitar como mais populistas as cartas de Valentim, do que as canetas de Bárbara Guimarães, ou a lista de promessas de Assis. Como me recuso a aceitar que as sondagens da TVI sejam menos relevantes que qualquer outra coisa que Valentim Loureiro possa ter dito aos gondomarenses. Sendo que as sondagens mentiam e Valentim falava verdade.

Como me recuso a aceitar que as carrinhas cheias de eleitores, que não foram exclusivo de Oeiras e aconteceram também em Gondomar (e não eram de Valentim), sejam menos importantes e populistas do que os “pins” distribuídos por alguém. Como não acredito que a distribuição de milhares de panfletos pelas ruas de Gondomar, em período de reflexão, contendo insultos e difamação, seja mais democrático do que uma inauguração.

Em Gondomar não houve tiros, nem pedradas nem insultos na via pública por parte dos gondomarenses. Os insultos resumiram-se ao discurso da oposição a Valentim, que terminou com uma derrota histórica e esmagadora.

A política é o que é. E Valentim Loureiro não ganhou por escrever cartas ou dar “pins”. Se assim fosse, Ferreira Torres era Presidente de Câmara, Carrilho também e Assis igualmente.

Os gondomarenses, que deram a Valentim, num Concelho com 170 mil habitantes (o 10º do País), eminentemente urbano e livre, uma vitória histórica, sabem o que fazem. Conhecem-no há 12 anos e não são masoquistas.

O Portugal político está um pouco distraído deste conjunto importante de eleitores. Em lugar de tentar perceber o que não lhes tem dado, que Valentim dá, afasta-se deles, ignora-os, passa-lhes diariamente atestados da mais pura estupidez, numa demonstração escandalosa de falta de cultura democrática e ostracismo, apenas própria do Terceiro Mundo.

Este comportamento dos políticos e dos Partidos é perigoso, e esquece que em Gondomar mandam os gondomarenses. Mandam mesmo! Mas é ainda mais perigoso (para os Partidos) porque esquece igualmente que os Gaienses mandam em Gaia, que os portuenses mandam no Porto e que os lisboetas mandam em Lisboa. Em suma, que os portugueses mandam em Portugal.

E não é proibindo a livre expressão do voto em “independentes candidatos”, puros ou impuros, que a democracia e que a política partidária vai reconquistar a credibilidade.

É que, caso não tenham ainda reparado, o povo, às vezes, zanga-se.

Colocado por Nuno Santos

Posted by valentimloureiro at outubro 14, 2005 12:08 PM

O povo às vezes zanga-se

A política portuguesa, senão mesmo a democracia, merecem reflexões sérias.

Mas sérias mesmo. Não falo dos comentários redondos e politicamente correctos, que se decalcam uns aos outros, e se espalham pelos jornais ditos de referência.

Nem falo dos debates com os mesmos, que se plagiam a eles próprios.

Falo de uma reflexão própria.

Estas Eleições Autárquicas ficaram marcadas por golpes baixos. Marques Mendes, por exemplo, resolveu, no mais puro populismo político, descartar dois dos autarcas que mais contribuíram para o engradecimento do Partido. Disse-se por esse País, que o fez com coragem. Mas, afinal, o que é a coragem? É agir pela calada, virando a cara para não ver os estragos? É esse o conceito de imagem de credibilidade que o “político” Marques Mendes quer deixar ao Partido, às bases, aos portugueses, aos jovens? A imagem do “punhal das costas”, que não se assume, que não se enfrenta, que não se explica, é a imagem que Marques Mendes quer que faça escola do PSD?

Marques Mendes nunca teve a coragem de pegar num telefone, de ir ter com Valentim Loureiro, de mandar um dos seus acólitos a Gondomar e explicar onde estava o cisco no olho de Valentim, que os carreiristas de Lisboa não têm.

Passou.

Valentim Loureiro obteve em Gondomar um resultado esmagador. Esmagador mesmo. Pois os Partidos – todos – quase se pulverizaram. PS, PSD e CDU obtiveram os piores resultados de sempre em Gondomar, e não estou a falar só de Autárquicas, estou a contar também com as Legislativas.

Mas, o mais curioso é a reacção do “Portugal Democrático”. Ironicamente, chamo assim ao Portugal do Parlamento, ao Portugal dos Partidos, ao Portugal televisivo. Esse Portugal - que não é o Portugal do povo - em lugar de olhar para Gondomar e tentar perceber o que ali se passou, onde falharam os Partidos, o que não disseram aos gondomarenses que eles queriam ouvir, o que não fizeram em 12 anos, que os gondomarenses gostariam que tivessem feito, viraram-se contra o seu próprio sistema.

Primeira reacção, levar ao Parlamento a discussão: “como é que se proíbe Valentim de Ganhar”. E lá se discutiu, então, as candidaturas independentes.

Mas, eu recordo, esta Lei foi feita pelos Partidos. Foram eles que a fizeram, estudaram, discutiram e aprovaram. Foi o Presidente da República que a promulgou. Não foi Valentim nem Isaltino.

Perante o resultado expresso pelo povo, em voto tão livre e democrático como o do restante Portugal, a reacção: “isto está errado. O povo é estúpido”... mas só o de Gondomar é estúpido, pois o que elegeu candidatos dos Partidos... é inteligente!

Dá, por isso, ideia, que esta Lei era boa, mas só era boa se os independentes perdessem. Como ganharam, passou a ser má e muda-se.

É como se as regras da Fórmula 1 fossem boas: “todos os carros têm quatro rodas”. Mas... perante sete campeonatos ganhos por Schumacher, há que mudar os regulamentos e obrigar os carros vermelhos a correrem só com três rodas. Chamar a isto democracia, é um exercício de uma preocupante falta de lucidez, que comentadores, cronistas, políticos e sábios resolveram ignorar.

Outra curiosidade destes “rescaldos eleitorais” está no facto desta “coisa” das candidaturas independentes estar a ser discutida exclusivamente por... “partidários”. E... ora bolas, ainda ninguém ouviu os independentes sobre o assunto! Mais, ninguém sequer ouviu o povo! Se é que a sua expressão pelo voto é insuficiente!

A imprensa, a dada altura tão empenhada em explorar a campanha em Gondomar, ainda não teve a habilidade de vir ao terreno perguntar... aos gondomarenses, porque votaram em Valentim! Como decidiu ignorar que a vitória de Valentim em Gondomar é a mais expressiva e evidente do País.

Em Câmaras de média e grande dimensão, isto é, com mais de 100 mil habitantes, Valentim obteve a maior percentagem de votos, averbando mais de 48 mil. Isaltino, que ganhou em Oeiras, obteve 26 mil. Só para dar uma ideia.

Mais, Valentim foi um dos dois vencedores a eleger oito Vereadores. E elegeu oito em 11. Carmona elegeu o mesmo número, mas falhou a maioria absoluta, pois Lisboa elege 17. Em Gaia, Meneses elegeu 7 em 11 e ficou com 55% dos votos, menos 2,5% que Valentim.

Mas, a minha preocupação alarga-se ainda mais à medida que os dias passam. Se a reacção inicial foi tentar proibir, a seguinte foi fingir que não aconteceu.

Como é possível ler crónicas e ouvir debates inteiros sobre estas Autárquicas sem tocar neste assunto?

Concorrendo só em Gondomar, Valentim Loureiro obteve mais votos do que: PCPT/MRPP; PH, PND, PRN, PPM, MPT, PSN e várias coligações entre PSD, CDS e outros pequenos Partidos, A NÍVEL NACIONAL.

Concorrendo só em Gondomar, Valentim Loureiro obteve um terço dos votos do Bloco de Esquerda A NÍVEL NACIONAL, mas conseguiu MAIS MANDATOS DO QUE O PARTIDO DE FRANCISCO LOUÇà (oito contra sete) e conseguiu uma Câmara, tal como o Bloco, mas uma Câmara muito maior e muito mais importante. Curiosamente, tal como Valentim, também a Presidente de Câmara do pequeno Município onde o Bloco ganhou... é arguida! Era, portanto, segundo o líder do Bloco, um dos “candidatos bandido”.

Apesar disto, os “balanços” que os políticos fazem, ignoram estrategicamente Gondomar. Mas dão voz a Fernando Rosas, Louçã, Teixeira Lopes. Tudo, derrotados de 9 de Outubro.

E vemos PSD a dizer que os resultados provam que houve uma censura ao Governo, a CDU a dizer que os seus bons resultados se devem à qualidade dos seus autarcas, o CDS PP a dizer que os portugueses mantiveram o Partido representado nos órgãos autárquicos, Louçã a dizer que os portugueses estão receptivos à mensagem do Bloco e, por isso, subiram, e vemos ainda o PS a dizer que as Eleições Autárquicas são isso mesmo, escolhas individuais.

Ou seja, para os sábios do PSD, o povo “nacional” é um povo sábio que lhe deu a vitória... menos o de Gondomar que é estúpido... porque votou diferente.

E, no discurso dos outros Partidos, lá vamos dar ao mesmo!

Por populismo, entende-se a “carta de Valentim”, entende-se o discurso de campanha de Valentim.

Pela minha parte, recuso-me a aceitar como mais populistas as cartas de Valentim, do que as canetas de Bárbara Guimarães, ou a lista de promessas de Assis. Como me recuso a aceitar que as sondagens da TVI sejam menos relevantes que qualquer outra coisa que Valentim Loureiro possa ter dito aos gondomarenses. Sendo que as sondagens mentiam e Valentim falava verdade.

Como me recuso a aceitar que as carrinhas cheias de eleitores, que não foram exclusivo de Oeiras e aconteceram também em Gondomar (e não eram de Valentim), sejam menos importantes e populistas do que os “pins” distribuídos por alguém. Como não acredito que a distribuição de milhares de panfletos pelas ruas de Gondomar, em período de reflexão, contendo insultos e difamação, seja mais democrático do que uma inauguração.

Em Gondomar não houve tiros, nem pedradas nem insultos na via pública por parte dos gondomarenses. Os insultos resumiram-se ao discurso da oposição a Valentim, que terminou com uma derrota histórica e esmagadora.

A política é o que é. E Valentim Loureiro não ganhou por escrever cartas ou dar “pins”. Se assim fosse, Ferreira Torres era Presidente de Câmara, Carrilho também e Assis igualmente.

Os gondomarenses, que deram a Valentim, num Concelho com 170 mil habitantes (o 10º do País), eminentemente urbano e livre, uma vitória histórica, sabem o que fazem. Conhecem-no há 12 anos e não são masoquistas.

O Portugal político está um pouco distraído deste conjunto importante de eleitores. Em lugar de tentar perceber o que não lhes tem dado, que Valentim dá, afasta-se deles, ignora-os, passa-lhes diariamente atestados da mais pura estupidez, numa demonstração escandalosa de falta de cultura democrática e ostracismo, apenas própria do Terceiro Mundo.

Este comportamento dos políticos e dos Partidos é perigoso, e esquece que em Gondomar mandam os gondomarenses. Mandam mesmo! Mas é ainda mais perigoso (para os Partidos) porque esquece igualmente que os Gaienses mandam em Gaia, que os portuenses mandam no Porto e que os lisboetas mandam em Lisboa. Em suma, que os portugueses mandam em Portugal.

E não é proibindo a livre expressão do voto em “independentes candidatos”, puros ou impuros, que a democracia e que a política partidária vai reconquistar a credibilidade.

É que, caso não tenham ainda reparado, o povo, às vezes, zanga-se.

Colocado por Nuno Santos

Posted by valentimloureiro at outubro 14, 2005 12:08 PM

marcar artigo