Esquerda Republicana: Aqui, Luke Skywalker

19-12-2009
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Descobri a acção humorística do 31 da Armada ontem à tarde, quando uma jornalista me telefonou. Tentei explicar que a implantação da República fora muito mais do que um hastear de bandeira, e que os objectivos dos neo-monárquicos me parecem misteriosos. A Eva Cabral reproduziu assim a conversa que tivemos:«Ricardo Alves, presidente da Associação República e Laicidade, frisou que não compreende "o que significa este tipo de acção". Ao DN, diz que"não se percebe se em causa está restaurar a monarquia que caiu a 5 de Outubro, se restaurar o Estado Novo ou defender uma ligação com Espanha que é quem neste momento na Península Ibérica é uma monarquia". Com ironia, Ricardo Alves questiona mesmo "quem foi o rei durante as varias horas em que a bandeira esteve hasteada?"». (Diário de Notícias)Efectivamente, já uma vez comentei isso mesmo para um monárquico frequentador deste blogue: «não se entende se os monárquicos querem debater os acontecimentos de há cem anos, restaurar a monarquia do século 19 (ou a do século 15?) no século 21, se querem "vingar" o 25 de Abril e a descolonização, [ou] se querem garantir um "ethos" conservador através do monarca». A acção de ontem permite manter estas indefinições. Não explica se o objectivo do movimento é criticar as condições da implantação da República, restaurar a monarquia dos Braganças ou outra (qual?), ou apenas irritar a «esquerda». A impressão que fica é de que nem os monárquicos levam a sério a ideia de restauração da monarquia. Eis aqui um consenso nacional, mesmo que eles não o admitam.Mas o mais importante seria que esclarecessem, exactamente, qual o projecto de sociedade que entendem avançar com a hipotética restauração da monarquia. É que a República implantada em 1910 tinha um projecto de laicização do Estado, descentralização da administração e igualitarização dos direitos cívicos. Pode-se não concordar, mas sabe-se qual era. A República actual tem também um projecto: democrático, europeísta, com garantias de assistência social e alguma laicidade. O projecto dos monárquicos de 2009, se é que existe, parece reduzir-se a missas, touradas e fotografias do Duarte nas revistas de foto-reportagens. Eu prefiro melhorar a República que tenho, mas enfim, os monárquicos que se fiquem com o passado.Finalmente, temos a máscara do Darth Vader, símbolo da acção. O que está certíssimo: Vader batia-se por um regime autoritário, centralizado e militarista. Muito bem. Se eles são o Darth Vader, eu serei o Luke Skywalker, que combatia por uma República constitucional. Por mim, está perfeito.Etiquetas: ARL, Diário, república


Descobri a acção humorística do 31 da Armada ontem à tarde, quando uma jornalista me telefonou. Tentei explicar que a implantação da República fora muito mais do que um hastear de bandeira, e que os objectivos dos neo-monárquicos me parecem misteriosos. A Eva Cabral reproduziu assim a conversa que tivemos:«Ricardo Alves, presidente da Associação República e Laicidade, frisou que não compreende "o que significa este tipo de acção". Ao DN, diz que"não se percebe se em causa está restaurar a monarquia que caiu a 5 de Outubro, se restaurar o Estado Novo ou defender uma ligação com Espanha que é quem neste momento na Península Ibérica é uma monarquia". Com ironia, Ricardo Alves questiona mesmo "quem foi o rei durante as varias horas em que a bandeira esteve hasteada?"». (Diário de Notícias)Efectivamente, já uma vez comentei isso mesmo para um monárquico frequentador deste blogue: «não se entende se os monárquicos querem debater os acontecimentos de há cem anos, restaurar a monarquia do século 19 (ou a do século 15?) no século 21, se querem "vingar" o 25 de Abril e a descolonização, [ou] se querem garantir um "ethos" conservador através do monarca». A acção de ontem permite manter estas indefinições. Não explica se o objectivo do movimento é criticar as condições da implantação da República, restaurar a monarquia dos Braganças ou outra (qual?), ou apenas irritar a «esquerda». A impressão que fica é de que nem os monárquicos levam a sério a ideia de restauração da monarquia. Eis aqui um consenso nacional, mesmo que eles não o admitam.Mas o mais importante seria que esclarecessem, exactamente, qual o projecto de sociedade que entendem avançar com a hipotética restauração da monarquia. É que a República implantada em 1910 tinha um projecto de laicização do Estado, descentralização da administração e igualitarização dos direitos cívicos. Pode-se não concordar, mas sabe-se qual era. A República actual tem também um projecto: democrático, europeísta, com garantias de assistência social e alguma laicidade. O projecto dos monárquicos de 2009, se é que existe, parece reduzir-se a missas, touradas e fotografias do Duarte nas revistas de foto-reportagens. Eu prefiro melhorar a República que tenho, mas enfim, os monárquicos que se fiquem com o passado.Finalmente, temos a máscara do Darth Vader, símbolo da acção. O que está certíssimo: Vader batia-se por um regime autoritário, centralizado e militarista. Muito bem. Se eles são o Darth Vader, eu serei o Luke Skywalker, que combatia por uma República constitucional. Por mim, está perfeito.Etiquetas: ARL, Diário, república

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