Unidade POVO/MFA

17-10-2009
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Quando questionados acerca do valor da verdade, muitos serão, certamente, aqueles que dirão que o limiar entre a verdade e a mentira é ténue, curto, difícil de definir. Os donos desse tipo de resposta podem ser muita coisa, mas não são, ao certo, comunistas.

Este é o principal ensinamento que retiramos ao ler a obra "A verdade e a mentira na Revolução de Abril - A contra-revolução confessa-se", escrita aquando do 25º aniversário do 25 de Abril, pelo camarada Álvaro Cunhal.

Aqui evidenciam-se, de forma notável, os podres, as contradições e as mentiras que os mais amplos sectores da social-democracia portuguesa (e não só, dada a ingerência da CIA e outras forças internacionais) veicularam e veiculam sobre tudo o que envolve o processo revolucionário, desde o próprio fascismo até aos dias de hoje, passando pelos agitados dias do Processo Revolucionário Em Curso.

Porém, é simplesmente incrível como cruzando discursos, afirmações e factos se chega a conclusões que, infelizmente, de surpreendente têm pouco, dada a traição que a Revolução Portuguesa sofreu, acabando por gerar este sistema em que vivemos hoje, que de democrático tem apenas a alcunha, pois já pouco resta das enormes conquistas que a Revolução de Abril nos trouxe.

Com efeito, Cunhal presenteia-nos com um conjunto de citações de figuras da história, mas também da actualidade portuguesas, que deixam "cla-rinho como água" (para quem ainda tivesse dúvidas), o carácter viscoso, mentiroso, anti-democrá-tcio e anti-comunista de personalidades que insistem em auto-catalogar-se como "de esquerda" ou "democratas", como Francisco Sá Carneiro, Marcelo Rebelo de Sousa, Mário Soares, Diogo Freitas do Amaral ou Fernando Rosas (sim, esse mesmo, o do Bloco "de Esquerda"!), entre outros, cujo papel na destruição (na altura) e no branqueamento (agora) da Revolução, lhes valerá o eterno agradecimento de famílias (ou grupos empresariais - neste caso é difícil de distinguir) como os Mello's e os Champalimaud's. Perante isto, é papel dos comunistas não deixar cair as assinaláveis mudanças que Abril permitiu, quer pelos extraordinários avanços sociais verificados nas mais diferentes áreas - direitos laborais, reforma agrária, saúde, educação, etc. -, quer pela forma como estes avanços se registaram: a luta. Na verdade, a noção que apenas a luta de massas, consequente e revolucionária, é o caminho para as vitórias populares, é uma lição que o 25 de Abril, experiência revolucionária única pelas suas particularidades, nos deve para sempre deixar. Com efeito, apenas a luta permitiu, não só os avanços acima descritos, como a resistência à feroz investida que o Capital estrangeiro e nacional fizeram à revolução portuguesa, realizando golpes (como o 28 de Setembro ou o 25 de Novembro), perseguindo os comunistas e os progressistas, e até criando e promovendo fenómenos de distracção e distanciamento do essencial como eram os grupelhos esquerdistas ou, noutro plano, o PS e o PSD.

Assim, podemos com firmeza afirmar que de 74 aos nossos dias a estratégia do Capital não se alterou muito, apenas se adaptou criativamente aos dias que vivemos e às batalhas que foi ganhando e perdendo, senão vejamos: em 74, os esquerdistas apelidavam o PCP de revisionista, recuado, cúmplice do Capital; hoje continuam a fazê-lo sem grandes alterações... Em 74, o PS escrevia no seu programa palavras como "nacionalizações", "reforma agrária" e outras coisas por que os comunistas sempre lutaram e pugnaram, sendo que quando se apanhou no poder não fez nada para isso (aliás, bem pelo contrário), acusando o PCP de tentar impor outras formas de ditadura; hoje afirma-se "de esquerda" e governa claramente com medidas de direita, apelidando os comunistas de "idealistas", "utópicos", etc.; quanto ao PSD, também só no vocabulário houve alterações, pois continua a afirmar fazer o melhor para os trabalhadores e as populações, acabando sempre por os prejudicar, em detrimento dos grandes grupos económicos.

Com certeza e convicção podemos afirmar que estas preocupações de tipo social só eram escritas e anunciadas como forma de distracção das massas, pois como em "A verdade e a mentira na Revolução de Abril" se desmascara, é o próprio Mário Soares quem desvaloriza o conteúdo programático do seu próprio partido (!). É caso para perguntar se o subtítulo "A contra-revolução confessa-se" poderia fazer mais sentido Em suma, nesta brilhante obra, de que esta curta análise não pretende, nem poderia nunca ser um resumo, Cunhal demonstra de forma científica o cunho de classe que o relato da História assume cada vez que é narrada e construída, mediante quem a escreve e organiza. Tanto assim é que, no que ao 25 de Abril se refere, as forças defensoras do capitalismo se viram forçadas, não apenas a sobrevalorizar factos e personalidades de forma romanceada (como habitualmente fazem), como necessitaram de branquear, apagar e distorcer factos para criar uma versão "aceitável" da nossa Revolução para vender às gerações futuras.

Mas, como tudo o que é produzido pelo capital, também esta versão tem contradições, quer na estrutura, quer na forma, acabando por cair como um baralho de cartas quando confrontada com factos e depoimentos dos próprios produtores dessa versão. Como diz o nosso sábio povo: "a verdade vem sempre ao de cima"... é uma chatice para alguns, mas é mesmo assim... Texto originalmente publicado no Agit, n.º 69 de Abril de 2005

Tiago Vieira

Membro da Direcção Nacional da JCP Imprimir Enviar a um amigo

extraído do site da: Juventude Comunista Portuguesa

Quando questionados acerca do valor da verdade, muitos serão, certamente, aqueles que dirão que o limiar entre a verdade e a mentira é ténue, curto, difícil de definir. Os donos desse tipo de resposta podem ser muita coisa, mas não são, ao certo, comunistas.

Este é o principal ensinamento que retiramos ao ler a obra "A verdade e a mentira na Revolução de Abril - A contra-revolução confessa-se", escrita aquando do 25º aniversário do 25 de Abril, pelo camarada Álvaro Cunhal.

Aqui evidenciam-se, de forma notável, os podres, as contradições e as mentiras que os mais amplos sectores da social-democracia portuguesa (e não só, dada a ingerência da CIA e outras forças internacionais) veicularam e veiculam sobre tudo o que envolve o processo revolucionário, desde o próprio fascismo até aos dias de hoje, passando pelos agitados dias do Processo Revolucionário Em Curso.

Porém, é simplesmente incrível como cruzando discursos, afirmações e factos se chega a conclusões que, infelizmente, de surpreendente têm pouco, dada a traição que a Revolução Portuguesa sofreu, acabando por gerar este sistema em que vivemos hoje, que de democrático tem apenas a alcunha, pois já pouco resta das enormes conquistas que a Revolução de Abril nos trouxe.

Com efeito, Cunhal presenteia-nos com um conjunto de citações de figuras da história, mas também da actualidade portuguesas, que deixam "cla-rinho como água" (para quem ainda tivesse dúvidas), o carácter viscoso, mentiroso, anti-democrá-tcio e anti-comunista de personalidades que insistem em auto-catalogar-se como "de esquerda" ou "democratas", como Francisco Sá Carneiro, Marcelo Rebelo de Sousa, Mário Soares, Diogo Freitas do Amaral ou Fernando Rosas (sim, esse mesmo, o do Bloco "de Esquerda"!), entre outros, cujo papel na destruição (na altura) e no branqueamento (agora) da Revolução, lhes valerá o eterno agradecimento de famílias (ou grupos empresariais - neste caso é difícil de distinguir) como os Mello's e os Champalimaud's. Perante isto, é papel dos comunistas não deixar cair as assinaláveis mudanças que Abril permitiu, quer pelos extraordinários avanços sociais verificados nas mais diferentes áreas - direitos laborais, reforma agrária, saúde, educação, etc. -, quer pela forma como estes avanços se registaram: a luta. Na verdade, a noção que apenas a luta de massas, consequente e revolucionária, é o caminho para as vitórias populares, é uma lição que o 25 de Abril, experiência revolucionária única pelas suas particularidades, nos deve para sempre deixar. Com efeito, apenas a luta permitiu, não só os avanços acima descritos, como a resistência à feroz investida que o Capital estrangeiro e nacional fizeram à revolução portuguesa, realizando golpes (como o 28 de Setembro ou o 25 de Novembro), perseguindo os comunistas e os progressistas, e até criando e promovendo fenómenos de distracção e distanciamento do essencial como eram os grupelhos esquerdistas ou, noutro plano, o PS e o PSD.

Assim, podemos com firmeza afirmar que de 74 aos nossos dias a estratégia do Capital não se alterou muito, apenas se adaptou criativamente aos dias que vivemos e às batalhas que foi ganhando e perdendo, senão vejamos: em 74, os esquerdistas apelidavam o PCP de revisionista, recuado, cúmplice do Capital; hoje continuam a fazê-lo sem grandes alterações... Em 74, o PS escrevia no seu programa palavras como "nacionalizações", "reforma agrária" e outras coisas por que os comunistas sempre lutaram e pugnaram, sendo que quando se apanhou no poder não fez nada para isso (aliás, bem pelo contrário), acusando o PCP de tentar impor outras formas de ditadura; hoje afirma-se "de esquerda" e governa claramente com medidas de direita, apelidando os comunistas de "idealistas", "utópicos", etc.; quanto ao PSD, também só no vocabulário houve alterações, pois continua a afirmar fazer o melhor para os trabalhadores e as populações, acabando sempre por os prejudicar, em detrimento dos grandes grupos económicos.

Com certeza e convicção podemos afirmar que estas preocupações de tipo social só eram escritas e anunciadas como forma de distracção das massas, pois como em "A verdade e a mentira na Revolução de Abril" se desmascara, é o próprio Mário Soares quem desvaloriza o conteúdo programático do seu próprio partido (!). É caso para perguntar se o subtítulo "A contra-revolução confessa-se" poderia fazer mais sentido Em suma, nesta brilhante obra, de que esta curta análise não pretende, nem poderia nunca ser um resumo, Cunhal demonstra de forma científica o cunho de classe que o relato da História assume cada vez que é narrada e construída, mediante quem a escreve e organiza. Tanto assim é que, no que ao 25 de Abril se refere, as forças defensoras do capitalismo se viram forçadas, não apenas a sobrevalorizar factos e personalidades de forma romanceada (como habitualmente fazem), como necessitaram de branquear, apagar e distorcer factos para criar uma versão "aceitável" da nossa Revolução para vender às gerações futuras.

Mas, como tudo o que é produzido pelo capital, também esta versão tem contradições, quer na estrutura, quer na forma, acabando por cair como um baralho de cartas quando confrontada com factos e depoimentos dos próprios produtores dessa versão. Como diz o nosso sábio povo: "a verdade vem sempre ao de cima"... é uma chatice para alguns, mas é mesmo assim... Texto originalmente publicado no Agit, n.º 69 de Abril de 2005

Tiago Vieira

Membro da Direcção Nacional da JCP Imprimir Enviar a um amigo

extraído do site da: Juventude Comunista Portuguesa

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