Nesta hora: Poemas de Natal (12)

21-01-2011
marcar artigo


O "Natal dos Hospitais" é programa já tradicional nos hábitos portugueses. O que nem toda a gente saberá é que essa tradição começou com o "Natal das Crianças dos Hospitais", iniciativa devida à poetisa Lutgarda Guimarães de Caires (1873-1935), algarvia, de Vila Real de Santo António.No seu primeiro livro, Glicínias (Lisboa: Livraria Ferreira Editora, 1910), o poema "Noite de Natal", que reproduzo, eivado de um total sentimento cristão, faz-me lembrar uma outra história associada ao Natal, devida a Hans Christian Andersen. Lembram-se de "A menina dos fósforos"?Noite de NatalTudo são cantos, tudo alacridade:É noite de Natal, repicam sinos, –A grande noite em que se entoam hinos,Enaltecendo a santa caridade.No degrau duma porta já dormiamDois pequeninos, muito abraçadinhos;O frio era cortante, e os seus bracinhos,De enregelados, não se desuniam.Através dessa porta ouve-se o riso.Lá dentro festejava-se o Natal,A noite santa, a noite sem igual,Que às criancinhas traz o paraíso.Mas essas que vagueiam sem ter pão,Que dormem sem um tecto protector,A essas, já sem mãe, sem um amor,A neve cai-lhes sobre o coração!...Há quanto aquele sono duraria,Sabiam-no, talvez, só as estrelas,Que os pobrezinhos tinham-nas a elas,E a ninguém mais, naquela noite fria.A meia-noite acaba de soar,Nasceu Jesus, o nosso Redentor.Hinos de graça e divinal amorEstão no céu os anjos a cantar.De súbito, uma luz bela e fulgenteComo chuva de estrelas luminosas,Transforma a branca neve em lindas rosasE a pedra fria em leito brando e quente.E, então, naquele berço vaporoso,No perfume das rosas nacaradas,As duas cabecinhas desmaiadasDescansam num remanso misterioso.Caía a neve em flocos, de mansinho,Em volta do seu berço encantador,Estendendo um tapete de esplendor,Como um manto real de níveo arminho.Doce visão celeste ajoelhou,Curvada sobre o berço alvinitente,E o manto que levava, docemente,Sobre os dois pezinhos desdobrou.E o pranto de seus olhos deslizava,Caindo no seu manto redentor, –Estrelas deslumbrantes de fulgorAs lágrimas que a Virgem derramava.Depois, ao envolvê-los nesse manto,De estrelas fulgurando recamado,Estreita-os ao seu seio imaculado.No calor do seu peito sacrossanto.…………………………………………………………E os anjos entoando um coro alado,Em mística doçura celestial,Cantavam essa noite de Natal,No céu, de luz divina iluminado:“A meia-noite acaba de soar, –Ajoelhai, cristãos! Nasceu Jesus,Aquele que, pregado numa cruz,Só por amor de vós veio a expirar.Nossa Senhora, a Sua Santa Mãe,Celeste e pura Mãe de abandonados,Foi socorrer os pobres enjeitados,Porque essa Mãe nunca enjeitou ninguém.A Caridade, que Jesus pregou,Exercê-la, no mundo, mal sabeis!Vede as crianças, como as esqueceis,Essas crianças que ele tanto amou.Bem-vindos sejam nossos irmãozinhosQue a Virgem Santa à terra foi buscar:A vida eterna aqui virão gozar,Porque no céu jamais há pobrezinhos.Ajoelhai, cristãos, nasceu Jesus!E Sua Mãe, a Santa Virgem pura,À terra foi livrar da desventuraAqueles por quem Deus morreu na cruz.”…………………………………………………………E foi assim, em noite abençoada,À hora Santa em que Jesus nasceu,Que os pobrezinhos foram para o CéuNo manto azul da Mãe imaculada.


O "Natal dos Hospitais" é programa já tradicional nos hábitos portugueses. O que nem toda a gente saberá é que essa tradição começou com o "Natal das Crianças dos Hospitais", iniciativa devida à poetisa Lutgarda Guimarães de Caires (1873-1935), algarvia, de Vila Real de Santo António.No seu primeiro livro, Glicínias (Lisboa: Livraria Ferreira Editora, 1910), o poema "Noite de Natal", que reproduzo, eivado de um total sentimento cristão, faz-me lembrar uma outra história associada ao Natal, devida a Hans Christian Andersen. Lembram-se de "A menina dos fósforos"?Noite de NatalTudo são cantos, tudo alacridade:É noite de Natal, repicam sinos, –A grande noite em que se entoam hinos,Enaltecendo a santa caridade.No degrau duma porta já dormiamDois pequeninos, muito abraçadinhos;O frio era cortante, e os seus bracinhos,De enregelados, não se desuniam.Através dessa porta ouve-se o riso.Lá dentro festejava-se o Natal,A noite santa, a noite sem igual,Que às criancinhas traz o paraíso.Mas essas que vagueiam sem ter pão,Que dormem sem um tecto protector,A essas, já sem mãe, sem um amor,A neve cai-lhes sobre o coração!...Há quanto aquele sono duraria,Sabiam-no, talvez, só as estrelas,Que os pobrezinhos tinham-nas a elas,E a ninguém mais, naquela noite fria.A meia-noite acaba de soar,Nasceu Jesus, o nosso Redentor.Hinos de graça e divinal amorEstão no céu os anjos a cantar.De súbito, uma luz bela e fulgenteComo chuva de estrelas luminosas,Transforma a branca neve em lindas rosasE a pedra fria em leito brando e quente.E, então, naquele berço vaporoso,No perfume das rosas nacaradas,As duas cabecinhas desmaiadasDescansam num remanso misterioso.Caía a neve em flocos, de mansinho,Em volta do seu berço encantador,Estendendo um tapete de esplendor,Como um manto real de níveo arminho.Doce visão celeste ajoelhou,Curvada sobre o berço alvinitente,E o manto que levava, docemente,Sobre os dois pezinhos desdobrou.E o pranto de seus olhos deslizava,Caindo no seu manto redentor, –Estrelas deslumbrantes de fulgorAs lágrimas que a Virgem derramava.Depois, ao envolvê-los nesse manto,De estrelas fulgurando recamado,Estreita-os ao seu seio imaculado.No calor do seu peito sacrossanto.…………………………………………………………E os anjos entoando um coro alado,Em mística doçura celestial,Cantavam essa noite de Natal,No céu, de luz divina iluminado:“A meia-noite acaba de soar, –Ajoelhai, cristãos! Nasceu Jesus,Aquele que, pregado numa cruz,Só por amor de vós veio a expirar.Nossa Senhora, a Sua Santa Mãe,Celeste e pura Mãe de abandonados,Foi socorrer os pobres enjeitados,Porque essa Mãe nunca enjeitou ninguém.A Caridade, que Jesus pregou,Exercê-la, no mundo, mal sabeis!Vede as crianças, como as esqueceis,Essas crianças que ele tanto amou.Bem-vindos sejam nossos irmãozinhosQue a Virgem Santa à terra foi buscar:A vida eterna aqui virão gozar,Porque no céu jamais há pobrezinhos.Ajoelhai, cristãos, nasceu Jesus!E Sua Mãe, a Santa Virgem pura,À terra foi livrar da desventuraAqueles por quem Deus morreu na cruz.”…………………………………………………………E foi assim, em noite abençoada,À hora Santa em que Jesus nasceu,Que os pobrezinhos foram para o CéuNo manto azul da Mãe imaculada.

marcar artigo