Expulsão de ciganos marca rentrée política de Sarkozy, que enfrenta críticas da Igreja

15-09-2010
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O Vaticano apelou ao acolhimento "das legítimas diversidades humanas", e o jornal Le Monde tornou-se ontem no palco das opiniões críticas, de esquerda e de direita

Nicolas Sarkozy regressa hoje ao trabalho, depois de 20 dias de férias, com uma remodelação governamental prometida, mas o que o espera é uma chuva de críticas vinda da esquerda, de alguns líderes da direita e até da Igreja. O Presidente francês está a ser duramente contestado pelas suas políticas que, em nome da segurança, já levaram à expulsão de mais de 200 ciganos para a Roménia ou a Bulgária. Algumas sondagens indicam que a sua popularidade nunca foi tão baixa.

As críticas estão a chegar até do Vaticano: no domingo, o Papa Bento XVI recebeu um grupo de peregrinos franceses e, apesar de não referir explicitamente a expulsão de ciganos em França, apelou ao acolhimento "das legítimas diversidades humanas", naquela que foi considerada uma mensagem do Vaticano às autoridades francesas.

E o arcebispo Christophe Dufour, de Aix-de-Provence, no Sul do país, emitiu um comunicado em que diz ter assistido ao desmantelamento de um acampamento de ciganos. "As caravanas foram destruídas. (...) Apelo ao respeito pelas pessoas e a sua dignidade".

As críticas não chegam apenas da Igreja. Sarkozy já tinha anunciado no final de Julho que muitos acampamentos de ciganos iriam ser desmantelados e que cerca de 700 seriam repatriados para a Bulgária ou a Roménia. Os repatriamentos começaram na semana passada e durante o fim-de-semana mais de 200 ciganos tiveram de abandonar a França, ainda que as autoridades defendam que não foi violada qualquer lei sobre a liberdade de circulação na União Europeia.

Uma mancha na bandeira

Amanhã, Sarkozy irá presidir ao primeiro Conselho de Ministros após as férias, mas a rentrée está já a ser marcada pelas críticas que chegam dos vários quadrantes políticos, da oposição socialista à direita mais próxima do Governo.

O antigo primeiro-ministro Dominique Villepin escreveu no Le Monde que a política de segurança de Sarkozy é uma "indignidade nacional" e adiantou: "Há hoje uma mancha de vergonha na nossa bandeira". Villepin teve Sarkozy como ministro do Interior do seu Governo, entre 2005 e 2007, e é ainda membro da União para um Movimento Popular do Presidente francês, apesar de os dois se terem incompatibilizado e de Villepin ter fundado o República Solidária.

Também o antigo primeiro-ministro socialista Lionel Jospin defendeu no Le Monde que o objectivo do Governo "não é tanto reduzir a insegurança, mas sim explorá-la". Ao contrário do que tem sido defendido pelas autoridades, sublinhou, não houve um reforço dos meios de luta contra a insegurança, mas até "uma redução, em três anos, de 9000 postos de polícia".

A ex-ministra da Justiça de Sarkozy, Rachida Dati, que hoje é eurodeputada, assinou também um artigo no Le Monde em que apela a "reencontrar a unidade perdida nos valores da República". Ela, que é de origem marroquina e filha de imigrantes, considerou que, para os filhos da imigração, "a igualdade é o vector e a finalidade de uma integração de sucesso".

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Sarkozy tem prometida uma remodelação governamental para o Outono - não se sabe quem sai, mas ontem o Libération especulava sobre a possível saída do próprio primeiro-ministro, François Fillon, que se tem mantido silencioso nesta polémica da política securitária.

Popularidade em baixo

A popularidade de Sarkozy atingiu os níveis mais baixos desde a sua chegada ao poder, entre 34 e 36 por cento, segundo algumas sondagens, o que não o coloca na melhor posição para as presidenciais de 2012. Para além das políticas de segurança, o descontentamento deve-se também à proposta para o aumento da idade da reforma dos 60 para os 62 anos, o que já levou os sindicatos a convocar uma greve para 7 de Setembro. E o Governo irá também aplicar medidas de austeridade para reduzir o défice dos actuais oito por cento para três por cento até 2013. Uma sondagem divulgada ontem pelo instituto Ipsos, feita após o início das expulsões dos ciganos, diz que a popularidade de Sarkozy desceu para 34 por cento. E outra, da Viavoice, publicada pelo Libération, conclui que 55 por cento dos eleitores preferem agora outro candidato e coloca-o com 24 por cento, atrás do director do Fundo Monetário Internacional Dominique Strauss-Kahn, com 44 por cento, da líder do PS Martine Aubry, com 31 por cento, e mesmo de Ségolène Royal, com 25 por cento, derrotada por Sarkozy em 2007.

O Vaticano apelou ao acolhimento "das legítimas diversidades humanas", e o jornal Le Monde tornou-se ontem no palco das opiniões críticas, de esquerda e de direita

Nicolas Sarkozy regressa hoje ao trabalho, depois de 20 dias de férias, com uma remodelação governamental prometida, mas o que o espera é uma chuva de críticas vinda da esquerda, de alguns líderes da direita e até da Igreja. O Presidente francês está a ser duramente contestado pelas suas políticas que, em nome da segurança, já levaram à expulsão de mais de 200 ciganos para a Roménia ou a Bulgária. Algumas sondagens indicam que a sua popularidade nunca foi tão baixa.

As críticas estão a chegar até do Vaticano: no domingo, o Papa Bento XVI recebeu um grupo de peregrinos franceses e, apesar de não referir explicitamente a expulsão de ciganos em França, apelou ao acolhimento "das legítimas diversidades humanas", naquela que foi considerada uma mensagem do Vaticano às autoridades francesas.

E o arcebispo Christophe Dufour, de Aix-de-Provence, no Sul do país, emitiu um comunicado em que diz ter assistido ao desmantelamento de um acampamento de ciganos. "As caravanas foram destruídas. (...) Apelo ao respeito pelas pessoas e a sua dignidade".

As críticas não chegam apenas da Igreja. Sarkozy já tinha anunciado no final de Julho que muitos acampamentos de ciganos iriam ser desmantelados e que cerca de 700 seriam repatriados para a Bulgária ou a Roménia. Os repatriamentos começaram na semana passada e durante o fim-de-semana mais de 200 ciganos tiveram de abandonar a França, ainda que as autoridades defendam que não foi violada qualquer lei sobre a liberdade de circulação na União Europeia.

Uma mancha na bandeira

Amanhã, Sarkozy irá presidir ao primeiro Conselho de Ministros após as férias, mas a rentrée está já a ser marcada pelas críticas que chegam dos vários quadrantes políticos, da oposição socialista à direita mais próxima do Governo.

O antigo primeiro-ministro Dominique Villepin escreveu no Le Monde que a política de segurança de Sarkozy é uma "indignidade nacional" e adiantou: "Há hoje uma mancha de vergonha na nossa bandeira". Villepin teve Sarkozy como ministro do Interior do seu Governo, entre 2005 e 2007, e é ainda membro da União para um Movimento Popular do Presidente francês, apesar de os dois se terem incompatibilizado e de Villepin ter fundado o República Solidária.

Também o antigo primeiro-ministro socialista Lionel Jospin defendeu no Le Monde que o objectivo do Governo "não é tanto reduzir a insegurança, mas sim explorá-la". Ao contrário do que tem sido defendido pelas autoridades, sublinhou, não houve um reforço dos meios de luta contra a insegurança, mas até "uma redução, em três anos, de 9000 postos de polícia".

A ex-ministra da Justiça de Sarkozy, Rachida Dati, que hoje é eurodeputada, assinou também um artigo no Le Monde em que apela a "reencontrar a unidade perdida nos valores da República". Ela, que é de origem marroquina e filha de imigrantes, considerou que, para os filhos da imigração, "a igualdade é o vector e a finalidade de uma integração de sucesso".

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Popularidade em baixo

A popularidade de Sarkozy atingiu os níveis mais baixos desde a sua chegada ao poder, entre 34 e 36 por cento, segundo algumas sondagens, o que não o coloca na melhor posição para as presidenciais de 2012. Para além das políticas de segurança, o descontentamento deve-se também à proposta para o aumento da idade da reforma dos 60 para os 62 anos, o que já levou os sindicatos a convocar uma greve para 7 de Setembro. E o Governo irá também aplicar medidas de austeridade para reduzir o défice dos actuais oito por cento para três por cento até 2013. Uma sondagem divulgada ontem pelo instituto Ipsos, feita após o início das expulsões dos ciganos, diz que a popularidade de Sarkozy desceu para 34 por cento. E outra, da Viavoice, publicada pelo Libération, conclui que 55 por cento dos eleitores preferem agora outro candidato e coloca-o com 24 por cento, atrás do director do Fundo Monetário Internacional Dominique Strauss-Kahn, com 44 por cento, da líder do PS Martine Aubry, com 31 por cento, e mesmo de Ségolène Royal, com 25 por cento, derrotada por Sarkozy em 2007.

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