Cravo de Abril: BRANQUEAMENTO DO FASCISMO (2)

29-05-2010
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Uma última anotação sobre o livro de Irene Flunser Pimentel (IFP), «A História da PIDE».Na Segunda Parte da obra - «A PIDE/DGS e os seus principais adversários» - nos capítulos V e VI, a autora aborda «as relações entre a polícia política e o Partido Comunista Português, o principal adversário político do regime até ao final da década de 60».IFP recorre a curiosos métodos e caminhos de investigação e de análise.Em matéria de fontes, ela vai beber essencialmente, aos historiadores de serviço (Pacheco Pereira, Fernando Rosas, etc); ao omnipresente Mário Soares; e, naturalmente, à própria PIDE e ao inevitável inspector Fernando Gouveia - e, embora citando dois ou três livros de militantes comunistas, é visível que IFP não achou necessário (ela bem saberá porquê...) consultar o muito que sobre essa matéria foi escrito pelo PCP e, especialmente, por Álvaro Cunhal...Depois, IFP apresenta-nos a resistência antifascista do PCP como um combate entre pides e comunistas em que os primeiros tentam prender os segundos e os segundos tentam não ser presos pelos primeiros - tudo isto muito à margem das lutas organizadas e dirigidas pelo PCP, lutas que, para IFP, parece não terem nada a ver com a resistência...Assim sendo, nesse combate PIDE/PCP a polícia fascista sai sempre «vitoriosa»: porque prende comunistas e os comunistas não prendem pides...E é com particular deleite que IFP vai descrevendo essas «derrotas» e «vitórias» - entendendo-se que cada comunista preso é uma «derrota» do PCP e uma «vitória» da PIDE...Vejamos, a título de exemplo, alguns dos títulos dos vários sub-capítulos: «A hecatombe de 1945: os "desastres" do Norte e do Sul»; «"Desastres" em Ovar, no Alentejo, Ribatejo e em Coimbra»; «Annus horribilis para o PCP. A direcção é atingida (1949)»; «Prossegue a "colheita" da PIDE»; «1959, o ano de todas as prisões» - e, mesmo quando as coisas estão mal para os fascistas, IFP tem o cuidado de dividir os males, assim: «1961, annus horribilis para o regime mas também para o PCP»...O prazer de IFP em realçar as «derrotas» do PCP perpassa por todo o livro em todos os aspectos: até quando refere o número de militantes comunistas, a autora fá-lo sempre pela negativa, género: o PCP que em tal data tinha x militantes, tem agora apenas y...Um último exemplo: a dada altura, IFP fala dos «anos 50»: «Os anos 50 foram duros para o PCP, que se fechou sectariamente e endureceu a sua disciplina» - e, em abono da sua tese, cita... Pacheco Pereira e Fernando Rosas, pois claro.Depois, pega na palavra desavergonhada de Mário Soares: «O PCP transformou-se numa organização fechada, numa quase seita esotérica, donde os melhores militantes fugiam até por razões de simples bom senso»...Finalmente, conclui o que... antes mesmo de escrever o livro, já tinha concluído: «Os primeiros anos da década de 50 foram os de todas as purgas e, mesmo, como se verá, de algumas execuções no seio do PCP».Ora, como se verá, IFP repete as estórias bolsadas por Pacheco Pereira sobre a matéria - estórias que não passam de repetições das versões difundidas pela PIDE.Assim vai a operação de branqueamento do fascismo.


Uma última anotação sobre o livro de Irene Flunser Pimentel (IFP), «A História da PIDE».Na Segunda Parte da obra - «A PIDE/DGS e os seus principais adversários» - nos capítulos V e VI, a autora aborda «as relações entre a polícia política e o Partido Comunista Português, o principal adversário político do regime até ao final da década de 60».IFP recorre a curiosos métodos e caminhos de investigação e de análise.Em matéria de fontes, ela vai beber essencialmente, aos historiadores de serviço (Pacheco Pereira, Fernando Rosas, etc); ao omnipresente Mário Soares; e, naturalmente, à própria PIDE e ao inevitável inspector Fernando Gouveia - e, embora citando dois ou três livros de militantes comunistas, é visível que IFP não achou necessário (ela bem saberá porquê...) consultar o muito que sobre essa matéria foi escrito pelo PCP e, especialmente, por Álvaro Cunhal...Depois, IFP apresenta-nos a resistência antifascista do PCP como um combate entre pides e comunistas em que os primeiros tentam prender os segundos e os segundos tentam não ser presos pelos primeiros - tudo isto muito à margem das lutas organizadas e dirigidas pelo PCP, lutas que, para IFP, parece não terem nada a ver com a resistência...Assim sendo, nesse combate PIDE/PCP a polícia fascista sai sempre «vitoriosa»: porque prende comunistas e os comunistas não prendem pides...E é com particular deleite que IFP vai descrevendo essas «derrotas» e «vitórias» - entendendo-se que cada comunista preso é uma «derrota» do PCP e uma «vitória» da PIDE...Vejamos, a título de exemplo, alguns dos títulos dos vários sub-capítulos: «A hecatombe de 1945: os "desastres" do Norte e do Sul»; «"Desastres" em Ovar, no Alentejo, Ribatejo e em Coimbra»; «Annus horribilis para o PCP. A direcção é atingida (1949)»; «Prossegue a "colheita" da PIDE»; «1959, o ano de todas as prisões» - e, mesmo quando as coisas estão mal para os fascistas, IFP tem o cuidado de dividir os males, assim: «1961, annus horribilis para o regime mas também para o PCP»...O prazer de IFP em realçar as «derrotas» do PCP perpassa por todo o livro em todos os aspectos: até quando refere o número de militantes comunistas, a autora fá-lo sempre pela negativa, género: o PCP que em tal data tinha x militantes, tem agora apenas y...Um último exemplo: a dada altura, IFP fala dos «anos 50»: «Os anos 50 foram duros para o PCP, que se fechou sectariamente e endureceu a sua disciplina» - e, em abono da sua tese, cita... Pacheco Pereira e Fernando Rosas, pois claro.Depois, pega na palavra desavergonhada de Mário Soares: «O PCP transformou-se numa organização fechada, numa quase seita esotérica, donde os melhores militantes fugiam até por razões de simples bom senso»...Finalmente, conclui o que... antes mesmo de escrever o livro, já tinha concluído: «Os primeiros anos da década de 50 foram os de todas as purgas e, mesmo, como se verá, de algumas execuções no seio do PCP».Ora, como se verá, IFP repete as estórias bolsadas por Pacheco Pereira sobre a matéria - estórias que não passam de repetições das versões difundidas pela PIDE.Assim vai a operação de branqueamento do fascismo.

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