Bispo defende que I República deu mais liberdade à Igreja

30-09-2010
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Debate inédito junta Carlos Azevedo e Fernando Rosas em Fátima para falar da Igreja na I República

O bispo auxiliar de Lisboa, D. Carlos Azevedo, defende que "a I República deu à Igreja mais liberdade, mesmo cortando algumas liberdades". Num debate inédito ontem à tarde, em Fátima, onde também participou o historiador Fernando Rosas, Carlos Azevedo recordou os "muitos custos" que os privilégios da Igreja tinham durante a Monarquia constitucional: o governo controlava as dioceses, os dirigentes e os compêndios dos seminários ou os professores, entre outros factores.

Utilizando palavras mais duras em relação à posição da Igreja Católica na época, Fernando Rosas alinhou pela mesma avaliação positiva: "A obra de laicização da República, com os seus desvios, com os seus exageros jacobinos, com as suas perversões, é uma das obras modernizadoras mais importantes do século XX português."

O dirigente do Bloco de Esquerda acrescentou que a Igreja da época "estava transformada numa espécie de repartição pública" e que a separação do Estado e da Igreja é "uma reforma fundamental da modernidade".

Mas que Igreja Católica era esta? Aqui, notou-se mais divergência entre os dois intervenientes. Fernando Rosas, que fez questão de referir várias vezes a sua posição de ateu, descreveu o catolicismo do início do século XX português como muito diferente do actual: "Apesar de variada e plural, a Igreja era em muitos aspectos, no seu discurso doutrinário e nas posições dos principais responsáveis, subsidiária da Sillabus", disse o historiador, numa referência ao documento do Papa Pio IX, do final do século XIX, em que se condenava a modernidade. Era uma Igreja "ultramontana, desconfiada da democracia e da modernidade".

Carlos Azevedo, também historiador - dirigiu a História Religiosa de Portugal -, olha para o catolicismo da época de forma menos negativa: a Igreja não atacou a República, antes se defendeu dos ataques; nem se moveu para "restaurar a monarquia"; "havia bispos amigos da família real, havia abades minhotos que aderiram à monarquia do Norte, a imprensa católica tinha um fundo monárquico, mas a realidade era muito mais vasta que isso", defendeu.

Carlos Azevedo citou a propósito uma intervenção do patriarca de Lisboa, António Mendes Belo, em Setembro de 1909, na Câmara dos Pares, em que lamentava a "triste, tristíssima situação do episcopado português, cuja jurisdição" estava "quase extinta".

Perante cerca de duas centenas de participantes nas jornadas do Secretariado das Comunicações Sociais da Igreja Católica, Rosas defendeu que a Igreja de há 100 anos tinha um "carácter subversivo" contra a República. E citou, entre outros exemplos, os "muitos párocos envolvidos em manobras" contra o regime implantado em 5 de Outubro de 1910.

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Rosas admitiu que havia muitos padres republicanos, mas acentuou: "A Igreja, na voz de muitos dos seus principais dirigentes, era hostil ao republicanismo." Mesmo se parte da Igreja "não põe em causa" o regime republicano" e se nunca houve uma posição oficial contra a República, "o espírito da coisa era muito anti-republicano: houve padres que pegaram em armas contra a República e a cultura anti-republicana e monárquica era largamente dominante na Igreja".

Neste quadro, o historiador e dirigente do Bloco de Esquerda Fernando Rosas identifica um "erro mortal" da I República: "Permitir que a questão da laicidade do Estado, que era uma justa prioridade, se convertesse em questão religiosa. O governo republicano tratou não de criar um ambiente de separação, mas de restaurar muitos dos privilégios que existiam na Monarquia a favor da República." Com isso, criou-se uma questão religiosa, apaziguada a partir de 1918.

Debate inédito junta Carlos Azevedo e Fernando Rosas em Fátima para falar da Igreja na I República

O bispo auxiliar de Lisboa, D. Carlos Azevedo, defende que "a I República deu à Igreja mais liberdade, mesmo cortando algumas liberdades". Num debate inédito ontem à tarde, em Fátima, onde também participou o historiador Fernando Rosas, Carlos Azevedo recordou os "muitos custos" que os privilégios da Igreja tinham durante a Monarquia constitucional: o governo controlava as dioceses, os dirigentes e os compêndios dos seminários ou os professores, entre outros factores.

Utilizando palavras mais duras em relação à posição da Igreja Católica na época, Fernando Rosas alinhou pela mesma avaliação positiva: "A obra de laicização da República, com os seus desvios, com os seus exageros jacobinos, com as suas perversões, é uma das obras modernizadoras mais importantes do século XX português."

O dirigente do Bloco de Esquerda acrescentou que a Igreja da época "estava transformada numa espécie de repartição pública" e que a separação do Estado e da Igreja é "uma reforma fundamental da modernidade".

Mas que Igreja Católica era esta? Aqui, notou-se mais divergência entre os dois intervenientes. Fernando Rosas, que fez questão de referir várias vezes a sua posição de ateu, descreveu o catolicismo do início do século XX português como muito diferente do actual: "Apesar de variada e plural, a Igreja era em muitos aspectos, no seu discurso doutrinário e nas posições dos principais responsáveis, subsidiária da Sillabus", disse o historiador, numa referência ao documento do Papa Pio IX, do final do século XIX, em que se condenava a modernidade. Era uma Igreja "ultramontana, desconfiada da democracia e da modernidade".

Carlos Azevedo, também historiador - dirigiu a História Religiosa de Portugal -, olha para o catolicismo da época de forma menos negativa: a Igreja não atacou a República, antes se defendeu dos ataques; nem se moveu para "restaurar a monarquia"; "havia bispos amigos da família real, havia abades minhotos que aderiram à monarquia do Norte, a imprensa católica tinha um fundo monárquico, mas a realidade era muito mais vasta que isso", defendeu.

Carlos Azevedo citou a propósito uma intervenção do patriarca de Lisboa, António Mendes Belo, em Setembro de 1909, na Câmara dos Pares, em que lamentava a "triste, tristíssima situação do episcopado português, cuja jurisdição" estava "quase extinta".

Perante cerca de duas centenas de participantes nas jornadas do Secretariado das Comunicações Sociais da Igreja Católica, Rosas defendeu que a Igreja de há 100 anos tinha um "carácter subversivo" contra a República. E citou, entre outros exemplos, os "muitos párocos envolvidos em manobras" contra o regime implantado em 5 de Outubro de 1910.

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Rosas admitiu que havia muitos padres republicanos, mas acentuou: "A Igreja, na voz de muitos dos seus principais dirigentes, era hostil ao republicanismo." Mesmo se parte da Igreja "não põe em causa" o regime republicano" e se nunca houve uma posição oficial contra a República, "o espírito da coisa era muito anti-republicano: houve padres que pegaram em armas contra a República e a cultura anti-republicana e monárquica era largamente dominante na Igreja".

Neste quadro, o historiador e dirigente do Bloco de Esquerda Fernando Rosas identifica um "erro mortal" da I República: "Permitir que a questão da laicidade do Estado, que era uma justa prioridade, se convertesse em questão religiosa. O governo republicano tratou não de criar um ambiente de separação, mas de restaurar muitos dos privilégios que existiam na Monarquia a favor da República." Com isso, criou-se uma questão religiosa, apaziguada a partir de 1918.

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