O Acidental: Distracções acidentais

19-12-2009
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Ontem andei um pouco distraído. Os meus amigos já sabem que tenho dias desses. Por andar distraído, só hoje tive oportunidade de ler o extraordinário artigo publicado por Fernando Rosas no "Público".O texto é um conjunto de deturpações e de meias verdades. Não vou maçar os leitores do Acidental com a “refutação” do artigo. Limito-me ao dois primeiros parágrafos.
Rosas escreve: “Sabemos hoje que o Presidente Bush e os círculos mais extremistas da sua Administração (chefiados pelo secretário da Defesa, Rumsfeld) há muito, desde antes do 11 de Setembro de 2001, planeavam a invasão do Iraque no quadro de um plano estratégico com o duplo propósito de deitar a mão às imensas riquezas petrolíferas daquele país e de obter um reordenamento político-estratégico do Médio Oriente sob a hegemonia dos EUA e do Estado de Israel, seu principal aliado na região”.
Reparem na palavra “sabemos”, como se de uma certeza se tratasse. Rosas não utiliza “eu julgo”, “eu penso”, “eu creio”. Nada que possa apontar para uma avaliação dele, pessoal, subjectiva, política. Arremata com o “sabemos”, o “sabemos” colectivo. Todos “sabem”, e quem não “sabe” aquilo que Rosas “sabe”, nada “sabe”. E quando todos “sabem”, não é necessário provar o que se diz. Basta afirmar. Porque todos já “sabem”.
Mas o que é que Rosas “sabe” que nós “sabemos”? Primeiro, a invasão foi planeada antes de 11 de Setembro. Como é que Rosas “sabe”? Não sei, ele não nos diz. É verdade que, desde a primeira guerra do Golfo, o Pentágono desenvolveu planos para fazer guerra ao Iraque. Mas – e isto é essencial - são planos de contingência, de antecipação. Também existem planos desses relativamente ao Irão, Coreia do Norte e outros países que poderão constituir ameaças. Rússia e China, por exemplo, fazem o mesmo. Países que enfrentam ameaças planeiam para eventualidades. Onde está a novidade?
Mas a existência de planos de contingência não significa que alguma vez serão accionados. No caso do Iraque, a decisão de invadir o Iraque foi tomada depois do 11 de Setembro (como relata Bob Woodward, em The War Plan). Qual a razão que levou à invasão? Rosas “sabe” que nós “sabemos” que as verdadeiras razões foram o saque ao petróleo e a entrega da região aos tenebrosos judeus. Mas como é que ele “sabe” que foram estas as verdadeiras razões. Ninguém sabe porque Rosas não diz quando é que Bush lhe confessou estas intenções. O historiador afirma, mas não produz provas. Curiosa metodologia.
No segundo parágrafo, Rosas escreve: “Sabemos hoje que as "provas" da existência daquelas armas foram deliberadamente forjadas para enganar os parlamentos e as opiniões públicas de todos os países cujos governos alinharam atrás do carro de guerra norte-americano e, por isso, são cúmplices, não só nos EUA e na Inglaterra, mas em Portugal, na Espanha, na Itália, etc... com essa política de mentira e manipulação. Aznar foi a primeira vítima dessa vergonha, após a resposta exemplar que lhe deram os eleitores do Estado espanhol.” “Sabemos” que as provas foram deliberadamente forjadas? Deliberadamente? Como é que Rosas “sabe"? Diz que foram deliberadamente forjadas para enganar “opiniões públicas de todos os países cujos governos alinharam atrás do carro de guerra”? Só poderia ser. Mais uma conspiração de Bush. Mas se Bush é, como afirma Rosas, um unilateralista, porque razão se deu ao trabalho de forjar provas para obter apoios? E se as provas foram deliberadamente forjadas, porque razão é que o célebre cartaz do Bloco Esquerda afirma que “eles mentem”. Se Rosas tem razão, eles não “mentiram”. Foram vítimas da mentira. E se Barroso e Blair foram vítimas da mentira, porque razão é que devem perder? Não entendo a dialéctica do raciocínio. Ou será que as vítimas da mentira são os leitores do professor Rosas? [Vasco Rato]

Ontem andei um pouco distraído. Os meus amigos já sabem que tenho dias desses. Por andar distraído, só hoje tive oportunidade de ler o extraordinário artigo publicado por Fernando Rosas no "Público".O texto é um conjunto de deturpações e de meias verdades. Não vou maçar os leitores do Acidental com a “refutação” do artigo. Limito-me ao dois primeiros parágrafos.
Rosas escreve: “Sabemos hoje que o Presidente Bush e os círculos mais extremistas da sua Administração (chefiados pelo secretário da Defesa, Rumsfeld) há muito, desde antes do 11 de Setembro de 2001, planeavam a invasão do Iraque no quadro de um plano estratégico com o duplo propósito de deitar a mão às imensas riquezas petrolíferas daquele país e de obter um reordenamento político-estratégico do Médio Oriente sob a hegemonia dos EUA e do Estado de Israel, seu principal aliado na região”.
Reparem na palavra “sabemos”, como se de uma certeza se tratasse. Rosas não utiliza “eu julgo”, “eu penso”, “eu creio”. Nada que possa apontar para uma avaliação dele, pessoal, subjectiva, política. Arremata com o “sabemos”, o “sabemos” colectivo. Todos “sabem”, e quem não “sabe” aquilo que Rosas “sabe”, nada “sabe”. E quando todos “sabem”, não é necessário provar o que se diz. Basta afirmar. Porque todos já “sabem”.
Mas o que é que Rosas “sabe” que nós “sabemos”? Primeiro, a invasão foi planeada antes de 11 de Setembro. Como é que Rosas “sabe”? Não sei, ele não nos diz. É verdade que, desde a primeira guerra do Golfo, o Pentágono desenvolveu planos para fazer guerra ao Iraque. Mas – e isto é essencial - são planos de contingência, de antecipação. Também existem planos desses relativamente ao Irão, Coreia do Norte e outros países que poderão constituir ameaças. Rússia e China, por exemplo, fazem o mesmo. Países que enfrentam ameaças planeiam para eventualidades. Onde está a novidade?
Mas a existência de planos de contingência não significa que alguma vez serão accionados. No caso do Iraque, a decisão de invadir o Iraque foi tomada depois do 11 de Setembro (como relata Bob Woodward, em The War Plan). Qual a razão que levou à invasão? Rosas “sabe” que nós “sabemos” que as verdadeiras razões foram o saque ao petróleo e a entrega da região aos tenebrosos judeus. Mas como é que ele “sabe” que foram estas as verdadeiras razões. Ninguém sabe porque Rosas não diz quando é que Bush lhe confessou estas intenções. O historiador afirma, mas não produz provas. Curiosa metodologia.
No segundo parágrafo, Rosas escreve: “Sabemos hoje que as "provas" da existência daquelas armas foram deliberadamente forjadas para enganar os parlamentos e as opiniões públicas de todos os países cujos governos alinharam atrás do carro de guerra norte-americano e, por isso, são cúmplices, não só nos EUA e na Inglaterra, mas em Portugal, na Espanha, na Itália, etc... com essa política de mentira e manipulação. Aznar foi a primeira vítima dessa vergonha, após a resposta exemplar que lhe deram os eleitores do Estado espanhol.” “Sabemos” que as provas foram deliberadamente forjadas? Deliberadamente? Como é que Rosas “sabe"? Diz que foram deliberadamente forjadas para enganar “opiniões públicas de todos os países cujos governos alinharam atrás do carro de guerra”? Só poderia ser. Mais uma conspiração de Bush. Mas se Bush é, como afirma Rosas, um unilateralista, porque razão se deu ao trabalho de forjar provas para obter apoios? E se as provas foram deliberadamente forjadas, porque razão é que o célebre cartaz do Bloco Esquerda afirma que “eles mentem”. Se Rosas tem razão, eles não “mentiram”. Foram vítimas da mentira. E se Barroso e Blair foram vítimas da mentira, porque razão é que devem perder? Não entendo a dialéctica do raciocínio. Ou será que as vítimas da mentira são os leitores do professor Rosas? [Vasco Rato]

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