Sentidos da vida: Os polivalentes (e o “e-governement”) (fim)

10-11-2009
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Os polivalentes (e o “e-governement”) (fim)

Está composto e empossado o novo Governo, agora com 19 ministros, ou seja com mais dois ministros do que o anterior. Desta feita, os polivalentes não se reconduzem apenas àqueles que trocam de pasta ministerial com enorme mestria mas também aos que assumem pastas em cujas áreas não são reconhecidos quaisquer méritos curriculares. É o caso de Nobre Guedes, a quem não se conhece nem reconhece qualquer conhecimento particular acerca do ambiente. Talvez Santana Lopes não entenda necessário, nos dias de hoje, defender o ambiente, e daí que tenha entregue a pasta ao CDS/PP e este, sem grandes possibilidades de recrutamentos, lá escolheu Nobre Guedes. Matérias como a reestruturação do sector das águas ou o tratamento dos resíduos indústrias continuam a aguardar solução. Adivinha-se que a matéria ecológica não constitui grande preocupação para Santana Lopes, mais ligado aos ambientes nocturnos de fumo, luzes, barulho e copos. Compreende-se.

Mas Nobre Guedes não é o único caso, temos também Fernando Negrão que finalmente vê o seu percurso político ganhar verdadeiro relevo, após um percurso na magistratura que deixou muito a desejar em avanços e recuos e em acusações e pedidos de desculpa. O que é certo é que Fernando Negrão atinge um cargo ministerial numa área em que ninguém lhe reconhece qualquer competência concreta. Ainda para mais vai substituir Bagão Félix, com provas dadas no terreno. Numa altura em que a eficácia e a racionalidade dos serviços prestados pelo Estado se afere, em muito, pela máquina que compõe a Segurança Social, é, no mínimo, de estranhar a escolha de Fernando Negrão.

Mas temos também os polivalentes em sentido clássico. É o caso de Costa Neves.

Mas enfim, nem vale a pena aprofundar muito mais esta matéria. Apenas valerá atentar para o facto de que Luís Filipe Pereira continua como Ministro da Saúde. Pelos visto o seu trabalho ainda não está concluído daí a sua continuidade. O que seria interessante saber (perante as listas de espera, o descalabro dos hospitais S.A., e as polémicas da Novartis e do INFARMED) é a favor de quem e de que interesses trabalha.

Temos um Governo composto, mas cujos ministros ainda estão na dúvida onde vão ficar sedeados. Será que o Ministério da Economia irá para o Porto? Haveria uma certa lógica que assim fosse, afinal de contas é no Distrito do Porto que se encontram as três maiores marcas portuguesas de sucesso internacional: Futebol Clube do Porto, Vinho do Porto e SONAE (isto, se pusermos de parte o Santuário de Fátima).

Com a ideia de deslocalização dos ministérios, Santana Lopes tentou confundir e seduzir. Tentou confundir descentralização com deslocalização, dando ares de artes mágicas, como se fosse exequível fazer alterações geográficas de ministérios num espaço de tempo que possibilitasse a implementação de medidas concretas para solucionar os problemas que importam realmente resolver. Ao mesmo tempo que tentou seduzir as populações com o engodo de que assim o Governo fica mais à beira do povo e pode resolver melhor os seus problemas. É a lógica do “e-governement”, um termo que para Santana Lopes certamente é bem português (como d.j., girls ou house music). Admira que Santana Lopes não tenha adoptado o estilo do Governo itinerante, percorrendo o país, ficando uns meses num Distrito, outros meses noutro, e por aí fora. Assim éramos capazes de ter um Portugal em acção, em movimento. Quando os ministérios forem colocados em outras cidades que não Lisboa, talvez depois seja necessário requalificar o Terreiro do Paço. E talvez assim já haja sítio para o casino de Stanley Ho.

É este o populismo perigoso a que se referia Pacheco Pereira quando falava, e certamente falará, acerca de Santana Lopes. O que é preciso é estar atento aos sinais.

(Arteixei Rioma)

Posted by Agildo at julho 19, 2004 11:35 AM

Os polivalentes (e o “e-governement”) (fim)

Está composto e empossado o novo Governo, agora com 19 ministros, ou seja com mais dois ministros do que o anterior. Desta feita, os polivalentes não se reconduzem apenas àqueles que trocam de pasta ministerial com enorme mestria mas também aos que assumem pastas em cujas áreas não são reconhecidos quaisquer méritos curriculares. É o caso de Nobre Guedes, a quem não se conhece nem reconhece qualquer conhecimento particular acerca do ambiente. Talvez Santana Lopes não entenda necessário, nos dias de hoje, defender o ambiente, e daí que tenha entregue a pasta ao CDS/PP e este, sem grandes possibilidades de recrutamentos, lá escolheu Nobre Guedes. Matérias como a reestruturação do sector das águas ou o tratamento dos resíduos indústrias continuam a aguardar solução. Adivinha-se que a matéria ecológica não constitui grande preocupação para Santana Lopes, mais ligado aos ambientes nocturnos de fumo, luzes, barulho e copos. Compreende-se.

Mas Nobre Guedes não é o único caso, temos também Fernando Negrão que finalmente vê o seu percurso político ganhar verdadeiro relevo, após um percurso na magistratura que deixou muito a desejar em avanços e recuos e em acusações e pedidos de desculpa. O que é certo é que Fernando Negrão atinge um cargo ministerial numa área em que ninguém lhe reconhece qualquer competência concreta. Ainda para mais vai substituir Bagão Félix, com provas dadas no terreno. Numa altura em que a eficácia e a racionalidade dos serviços prestados pelo Estado se afere, em muito, pela máquina que compõe a Segurança Social, é, no mínimo, de estranhar a escolha de Fernando Negrão.

Mas temos também os polivalentes em sentido clássico. É o caso de Costa Neves.

Mas enfim, nem vale a pena aprofundar muito mais esta matéria. Apenas valerá atentar para o facto de que Luís Filipe Pereira continua como Ministro da Saúde. Pelos visto o seu trabalho ainda não está concluído daí a sua continuidade. O que seria interessante saber (perante as listas de espera, o descalabro dos hospitais S.A., e as polémicas da Novartis e do INFARMED) é a favor de quem e de que interesses trabalha.

Temos um Governo composto, mas cujos ministros ainda estão na dúvida onde vão ficar sedeados. Será que o Ministério da Economia irá para o Porto? Haveria uma certa lógica que assim fosse, afinal de contas é no Distrito do Porto que se encontram as três maiores marcas portuguesas de sucesso internacional: Futebol Clube do Porto, Vinho do Porto e SONAE (isto, se pusermos de parte o Santuário de Fátima).

Com a ideia de deslocalização dos ministérios, Santana Lopes tentou confundir e seduzir. Tentou confundir descentralização com deslocalização, dando ares de artes mágicas, como se fosse exequível fazer alterações geográficas de ministérios num espaço de tempo que possibilitasse a implementação de medidas concretas para solucionar os problemas que importam realmente resolver. Ao mesmo tempo que tentou seduzir as populações com o engodo de que assim o Governo fica mais à beira do povo e pode resolver melhor os seus problemas. É a lógica do “e-governement”, um termo que para Santana Lopes certamente é bem português (como d.j., girls ou house music). Admira que Santana Lopes não tenha adoptado o estilo do Governo itinerante, percorrendo o país, ficando uns meses num Distrito, outros meses noutro, e por aí fora. Assim éramos capazes de ter um Portugal em acção, em movimento. Quando os ministérios forem colocados em outras cidades que não Lisboa, talvez depois seja necessário requalificar o Terreiro do Paço. E talvez assim já haja sítio para o casino de Stanley Ho.

É este o populismo perigoso a que se referia Pacheco Pereira quando falava, e certamente falará, acerca de Santana Lopes. O que é preciso é estar atento aos sinais.

(Arteixei Rioma)

Posted by Agildo at julho 19, 2004 11:35 AM

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