Nesta hora: Cinco livros

22-05-2011
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Há um livro de Sebastião da Gama (1924-1952) que sempre me fascinou e de que nem sempre se fala – é O Segredo é Amar, publicação póstuma organizada por Matilde Rosa Araújo que teve estreia editorial em 1969. É um livro onde cabem textos em prosa multifacetados e de interesses diversos: o leitor ora se confronta com histórias, ora com páginas diarísticas, ora com notas de viagem (bem interessante o relato da visita a França, ainda que não narre toda a viagem, e, igualmente belo, “A Região dos Três Castelos”, o melhor que até hoje se escreveu sobre esta zona da Península de Setúbal em termos de divulgação e de proposta turística, ainda com actualidade), ora com artigos de jornal (aí havendo talvez dos mais afectuosos dizeres sobre Estremoz…), ora com textos de apreciação literária (agradável e de grande sensibilidade é o que se intitula “Lugar de Bocage na nossa Poesia de Amor”, que constituiu uma conferência, e não menos interessante é o texto “Apontamentos sobre a Poesia Social no Século XIX”, que constituiu a sua dissertação de licenciatura). Por aqui surgem experiências, estudo da poesia, capacidade de invento, simplicidade de escrita. E a gente percebe que Sebastião da Gama não era o poeta repentino e de acaso, mas um poeta em formação, sustentado no conhecimento das teorias e da tradição literária portuguesa.O Segredo é Amar contém ainda aquele que foi o último texto que Sebastião da Gama escreveu – uma pequena crónica intitulada “Encarcerar a Asa”, datada de 25 de Janeiro de 1952 (o poeta faleceria 13 dias depois), de Estremoz. Apesar da doença que já o dominava, Sebastião da Gama não desperdiçou a oportunidade de louvar a Vida e os homens – “Os meus vizinhos têm um bicho numa gaiola. Um pintassilgo. Pois se eu andasse zangado com a Vida, que não ando (apesar de tanto mal que me tem feito, há tantas coisas boas que a Vida dá e me dá!), era por causa do pintassilgo que me reconciliaria com ela. Com ela e com os homens – se eu andasse zangado com os homens…”


Há um livro de Sebastião da Gama (1924-1952) que sempre me fascinou e de que nem sempre se fala – é O Segredo é Amar, publicação póstuma organizada por Matilde Rosa Araújo que teve estreia editorial em 1969. É um livro onde cabem textos em prosa multifacetados e de interesses diversos: o leitor ora se confronta com histórias, ora com páginas diarísticas, ora com notas de viagem (bem interessante o relato da visita a França, ainda que não narre toda a viagem, e, igualmente belo, “A Região dos Três Castelos”, o melhor que até hoje se escreveu sobre esta zona da Península de Setúbal em termos de divulgação e de proposta turística, ainda com actualidade), ora com artigos de jornal (aí havendo talvez dos mais afectuosos dizeres sobre Estremoz…), ora com textos de apreciação literária (agradável e de grande sensibilidade é o que se intitula “Lugar de Bocage na nossa Poesia de Amor”, que constituiu uma conferência, e não menos interessante é o texto “Apontamentos sobre a Poesia Social no Século XIX”, que constituiu a sua dissertação de licenciatura). Por aqui surgem experiências, estudo da poesia, capacidade de invento, simplicidade de escrita. E a gente percebe que Sebastião da Gama não era o poeta repentino e de acaso, mas um poeta em formação, sustentado no conhecimento das teorias e da tradição literária portuguesa.O Segredo é Amar contém ainda aquele que foi o último texto que Sebastião da Gama escreveu – uma pequena crónica intitulada “Encarcerar a Asa”, datada de 25 de Janeiro de 1952 (o poeta faleceria 13 dias depois), de Estremoz. Apesar da doença que já o dominava, Sebastião da Gama não desperdiçou a oportunidade de louvar a Vida e os homens – “Os meus vizinhos têm um bicho numa gaiola. Um pintassilgo. Pois se eu andasse zangado com a Vida, que não ando (apesar de tanto mal que me tem feito, há tantas coisas boas que a Vida dá e me dá!), era por causa do pintassilgo que me reconciliaria com ela. Com ela e com os homens – se eu andasse zangado com os homens…”

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