Notei, nos recentes debates sobre o Orçamento de Estado para 2010 e em diversas intervenções de responsáveis do Governo, que a planeada construção de um largo número de aproveitamentos hidroeléctricos passou a ser o eixo da política económica nacional.
Diz o 1º Ministro que a Energia é o eixo da sua aposta para o desenvolvimento económico, e na Energia a referida construção das hidroeléctricas é agora alegadamente o centro dessa estratégia.
Parece uma ideia consensual. Toda a gente acha bem que se aproveite a àgua da chuva, que é uma coisa limpa e renovável, e a construção das barragens parece algo capaz de criar muito emprego. Aliás, são anunciados muitos milhares de empregos, com essas barragens. E são também anunciados muitos MW de energia.
Infelizmente, tenho que vos dizer que vim aqui hoje fazer um bocadinho de "bota-abaixo". Se me quiserem seguir nos números, ficarão em condições de perceber porquê.
Tenho que começar por recordar que MW e energia não são a mesma coisa. Os MW são a capacidade de produzir energia de uma instalação, não a energia que ela efectivamente produz. Se eu fizer uma barragem de 1000 MW no deserto, terei "instalado" 1000 MW mas, obviamente, a energia que ela vai produzir será nula. Percebido? Então continuemos.
Se dermos uma vista de olhos nos números que acompanham a descrição dos 16 aproveitamentos hidroeléctricos em construção ou para construção próxima, constatamos o seguinte:
- Custo previsto: $4,85 mil milhões de €$;
- Potência média de origem hídrica: +175 MW;
- Potência média de origem eólica (armazenada): 525 MW;
- Perdas estimáveis no processo de armazenagem da energia eólica: - 175 MW (em média);
- Saldo energético médio produzido (origem hídrica menos as perdas na armazenagem da energia eólica): ~0 MW.
Pois é, a resposta à pergunta do título é: zero! Não acreditam? Os dados estão todos no site da EDP, e se não sabem fazer contas de somar e subtrair peçam a alguém que saiba. Acho que o Governo conta com a vossa inumeracia...
Como é que eles vos enganam? Primeiro, falam em energia "bruta", que é a soma de toda a energia que sai das centrais independentemente da origem. E essa irá ser 175+525= 700 MW, em média. Vocês nem reparam na palavra "bruta" e, ao mesmo tempo, eles "esquecem-se" de explicar que para produzir os 525 MW de origem eólica as centrais terão de dispender primeiro, a bombar àgua para cima, 700 MW adquiridos à rede eléctrica, vindos... das eólicas. A diferença entre estes 700 e os 525 devolvidos depois são as perdas do processo. Claro que se vocês subtrairem à tal energia eléctrica "bruta" produzida, a 700 MW em média, a consumida de que eles que se esquecem de falar, 700 MW em média, obtêm o saldo real das centrais, e é como vos digo: zero - se até não for menos...
Quanto aos milhares de empregos anunciados, como já notei aqui, são apenas durante o pico das obras durante os 4 anos de construção. Com uma diferença relativamente às barragens feitas até 1985: nesse tempo não havia imigrantes e a mão de obra da construção civil era portuguesa!...
Falta só acrescentar que ninguém teve em conta que quando fizer muito vento dias seguidos, no Inverno, também geralmente choverá muito dias seguidos, e não haverá espaço nas albufeiras para armazenar a energia eólica - como já se verificou este Inverno e ainda vamos só em 60% da quantidade de eólicas planeada pelo Governo...
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Notei, nos recentes debates sobre o Orçamento de Estado para 2010 e em diversas intervenções de responsáveis do Governo, que a planeada construção de um largo número de aproveitamentos hidroeléctricos passou a ser o eixo da política económica nacional.
Diz o 1º Ministro que a Energia é o eixo da sua aposta para o desenvolvimento económico, e na Energia a referida construção das hidroeléctricas é agora alegadamente o centro dessa estratégia.
Parece uma ideia consensual. Toda a gente acha bem que se aproveite a àgua da chuva, que é uma coisa limpa e renovável, e a construção das barragens parece algo capaz de criar muito emprego. Aliás, são anunciados muitos milhares de empregos, com essas barragens. E são também anunciados muitos MW de energia.
Infelizmente, tenho que vos dizer que vim aqui hoje fazer um bocadinho de "bota-abaixo". Se me quiserem seguir nos números, ficarão em condições de perceber porquê.
Tenho que começar por recordar que MW e energia não são a mesma coisa. Os MW são a capacidade de produzir energia de uma instalação, não a energia que ela efectivamente produz. Se eu fizer uma barragem de 1000 MW no deserto, terei "instalado" 1000 MW mas, obviamente, a energia que ela vai produzir será nula. Percebido? Então continuemos.
Se dermos uma vista de olhos nos números que acompanham a descrição dos 16 aproveitamentos hidroeléctricos em construção ou para construção próxima, constatamos o seguinte:
- Custo previsto: $4,85 mil milhões de €$;
- Potência média de origem hídrica: +175 MW;
- Potência média de origem eólica (armazenada): 525 MW;
- Perdas estimáveis no processo de armazenagem da energia eólica: - 175 MW (em média);
- Saldo energético médio produzido (origem hídrica menos as perdas na armazenagem da energia eólica): ~0 MW.
Pois é, a resposta à pergunta do título é: zero! Não acreditam? Os dados estão todos no site da EDP, e se não sabem fazer contas de somar e subtrair peçam a alguém que saiba. Acho que o Governo conta com a vossa inumeracia...
Como é que eles vos enganam? Primeiro, falam em energia "bruta", que é a soma de toda a energia que sai das centrais independentemente da origem. E essa irá ser 175+525= 700 MW, em média. Vocês nem reparam na palavra "bruta" e, ao mesmo tempo, eles "esquecem-se" de explicar que para produzir os 525 MW de origem eólica as centrais terão de dispender primeiro, a bombar àgua para cima, 700 MW adquiridos à rede eléctrica, vindos... das eólicas. A diferença entre estes 700 e os 525 devolvidos depois são as perdas do processo. Claro que se vocês subtrairem à tal energia eléctrica "bruta" produzida, a 700 MW em média, a consumida de que eles que se esquecem de falar, 700 MW em média, obtêm o saldo real das centrais, e é como vos digo: zero - se até não for menos...
Quanto aos milhares de empregos anunciados, como já notei aqui, são apenas durante o pico das obras durante os 4 anos de construção. Com uma diferença relativamente às barragens feitas até 1985: nesse tempo não havia imigrantes e a mão de obra da construção civil era portuguesa!...
Falta só acrescentar que ninguém teve em conta que quando fizer muito vento dias seguidos, no Inverno, também geralmente choverá muito dias seguidos, e não haverá espaço nas albufeiras para armazenar a energia eólica - como já se verificou este Inverno e ainda vamos só em 60% da quantidade de eólicas planeada pelo Governo...