Macroscopio: "Depois de mim virá... ". A "seta" de Meneses à dona Ferreira leite

19-12-2009
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Nota prévia: O sublinhado é nosso, a imagem é da n/ responsabilidade. O texto - ressentido - é de Luís Filipe Meneses, mas não deixa de ser uma peça realista, autentica que encerra muitas verdades nas quais se devem meditar. Ou seja, diz o roto ao nú, por que não te vestes tu...

DEPOIS DE MIM VIRÁ... [in dn]

Luís Filipe Menezes presidente da Câmara de Gaia e ex-presidente do PSD
No início desta semana, uma sondagem publicada no JN e divulgada pela Antena 1 e pela RTP, com a chancela de credibilidade da Universidade Católica, colocava de novo o PS e José Sócrates muito próximo da maioria absoluta. Pelo contrário, o PSD, principal partido da oposição, via alargar-se o fosso percentual para os socialistas. Os sociais-democratas não aproveitavam assim o facto de a crise social alastrar e, com ela, o PS e o Governo estarem a passar por maus bocados. Mas essa sondagem revelava mais. Revelava que a nova líder do PSD não era uma mais-valia para o partido na situação político-social em curso. Em Fevereiro passado, outra sondagem com a mesma chancela de credibilidade da Universidade Católica punha PS e PSD com escassos sete pontos a separá-los. Este facto serviu para fazer manchetes que arrasavam de vez as possibilidades de afirmação da anterior Direcção do PSD! Mas havia e há uma diferença substancial entre as duas sondagens: em Fevereiro, Sócrates usufruía ainda da auréola resultante dos bons resultados da presidência portuguesa da UE e a crise ainda estava num estado embrionário. Hoje, o que é mais espantoso nesta mais recente sondagem é verificar que o PSD não usufrui do estado de graça de uma líder recém-eleita, nem sequer recolhe os dividendos políticos da "crise" dos camionistas, do abrandamento da economia, da tensão no mundo do trabalho por causa do novo código laboral, da "guerra" no sector das pescas e da agricultura, e da "crise" do petróleo e como ela afecta o dia-a-dia das pessoas, da subida das taxas de juro e da anunciada recessão dos nossos principais parceiros comerciais.

Nem quero imaginar o que se escreveria sobre o anterior líder social-democrata se ele, em escassas seis semanas, não tivesse divulgado uma proposta, estivesse em hibernação enquanto os camiões bloqueavam o País e culminasse tal período de ausência com a pomposa declaração de que o casamento era um magistério virado em exclusivo para a procriação!

Aquando da sondagem de Fevereiro, o anterior líder do PSD afrontava o pico de uma campanha negra, interna e externa, nunca vista antes em mais de trinta anos da nossa democracia. Ao invés, nestes 45 dias ninguém criticou as omissões, os silêncios, o discurso generalista, ou o conservadorismo radical da actual direcção do partido. Ainda bem, todos merecem o seu estado de graça. E isto de ser líder tem que se lhe diga.

Contudo, muito do que quis provocar com a minha demissão está atingido. Não houve uma eleição eufórica e já está provado que não é a mudança de "chefe", por mais que um substituto seja levado ao colo pelos interesses instalados e pela intelligentsia que parasita o statu quo, que resolve as entorses estruturais do PSD.
Em trinta anos, o PSD especializou-se em dizimar presidentes. Menos tempo, ou tão pouco quanto eu próprio, passaram por S. Caetano à Lapa, Emídio Guerreiro, Rui Machete, Sousa Franco, Menéres Pimentel, Santana Lopes. Pouco mais tempo, exclusivamente por "culpa" da inércia dos calendários eleitorais, estiveram Mota Pinto, Fernando Nogueira e Marques Mendes. Saíram ainda sem glória Marcelo Rebelo de Sousa e Durão Barroso!!!

O PSD só "tolerou" dois líderes em três décadas: Sá Carneiro e Cavaco Silva. É decisivo que os seus militantes e apoiantes entendam o porquê de tal bizarria.
Porque o PSD nasceu com uma matriz ideológica difusa, privilegiando sempre a metodologia de ascensão ao poder, em detrimento do discurso substantivo que faça de cada ascensão um modo de reformar a comunidade.
É um magnífico e musculado predador, mas tão frágil na substância quanto impressionante é o seu "músculo". Até por isso, porque aí o mais importante é o carisma pessoal e depois a capacidade de realizar, o PSD sempre se sentiu melhor no poder local.

Quando assumi funções comecei de imediato a trabalhar no sentido de alterar este estado de coisas.
O PSD precisava de sair da idade da pedra organizativa, profissionalizando e encorpando o staff técnico e administrativo de apoio à actividade política. O PSD precisava de produzir um discurso de apoio a uma ideia de projecto nacional - tarefa hercúlea, já que passava também pela inevitabilidade de dar conteúdo, de uma vez por todas, ao tal programa partidário excessivamente "pragmático". O PSD necessitava ainda de se transformar no primeiro partido português com coragem para correr o risco de destruir o centralismo de um Estado absurdo, repartindo o poder com todos os que o representam, do Minho ao Algarve.

A anterior equipa foi recebida com a inversão do símbolo do partido, qual "bandeira de luto" içada pelo ideólogo da actual liderança. Depois foi um non stop. Um dia era a recusa de ceder o lugar no Conselho de Estado ao líder do partido, no dia seguinte a crítica à escolha do líder parlamentar, depois o ataque à ideia do partido-empresa - mero reforço do funcionalismo qualificado -, a seguir era a denúncia desse crime lesa-pátria, decorrente da contratação de uma empresa de comunicação.

Na calha seguia-se o combate a alterações a regulamentos internos, a denúncia de que o pagamento em numerário de quotas no valor de 12 euros podia servir para "lavagem de dinheiro", na curva seguinte um grupo alargado de ex-dirigentes "indignava-se" por assistir a alterações regulamentares com que muitos haviam convivido. Adiante, dramatizava-se a simples substituição de dois ou três parlamentares, na enxurrada fazia-se a revolução contra o sacrilégio de ter um fundo de palco azul nas festas partidárias.

Dos actuais vice-presidentes e apoiantes de topo da actual maioria, foram vários os que deram a cara em 50 (!) entrevistas televisivas nos primeiros 60 dias do meu mandato. Todas a criticar e a pedir a substituição da direcção mais representativa da história do PSD. "Nem que fosse à bomba!"

Para além do citado Carnaval, acusavam-nos de não fazer oposição, de não dinamizar as bases e de não ter um discurso e propostas estruturadas!!!

Em seis meses, definimos uma nova orientação para a política económica. Demos consistência ao choque fiscal com a ideia da harmonização fiscal ibérica. Definimos um modelo de desenvolvimento competitivo do interior. Avançámos com a ideia do Polis Social para combater assimetrias sociais graves. Defendemos o fim da publicidade na televisão pública. Apontamos para a separação das águas entre medicina pública e privada, apresentámos um programa de formação para jovens licenciados desempregados, construímos um pacote de medidas descentralizadoras a favor do municipalismo. Pouca coisa para quem nos criticava. Um almanaque das páginas amarelas face ao actual vazio.

Quanto a fazer oposição, fala por nós a forma como combatemos a política de abandono do interior, o papel que desempenhámos na viragem da política de saúde, o modo como denunciámos a falência da política de segurança, a forma como acompanhámos, em diálogo, a actividade do sindicalismo e das associações patronais, a voz que levantámos contra a forma como foi conduzido o affaire BCP/CGD.

Quanto à dinamização do partido, algo de fundamental num partido pesado com a vontade de poder que tem o PSD, fomos radicais. Mobilizámos mais de 50 mil pessoas em iniciativas de Viana a Monchique, da Régua a Viseu, de Bragança e Mirandela, a Ourique, de Vila Verde à Terceira, de Alvaiázere ao Funchal. 70 mil quilómetros, 300 sessões de trabalho, cem jantares partidários de afecto, disponibilidade e respeito pelos dirigentes e pelas bases.

Agora, construtivamente, aguardamos as propostas, as críticas, e o recriar do entusiasmo.

Vamos procurar ajudar, mas sem ingenuidades. A nossa substituição decorreu de um conjunto de acções concertadas, que no seu conjunto consubstanciaram um verdadeiro golpe palaciano. Uma direcção que prometia dar às regiões o direito de escolher os seus deputados e os seus autarcas, uma direcção que ia renovar a maioria dos seus representantes no Parlamento Europeu, uma direcção que tinha do seu lado a idiossincrasia de um humanismo reformista podia mesmo vir a ter sucesso.
Isso significaria o fim do cartão de identificação para muitos para quem a política e o PSD são um mero livre-trânsito para embaixadas, recepções e visitas de Estado ao estrangeiro. Sempre com um cartão de um gabinete de consultadoria no bolso.
Hoje é claro que a substituição de Ângelo Correia por António Capucho não deu mais credibilidade à liderança do Conselho Nacional, que a substituição de Amorim Pereira por Morais Sarmento não trouxe nada de novo. Finalmente é óbvio que a substituição de Santana Lopes por Paulo Rangel diminuiu substancialmente a capacidade de afirmação parlamentar.

Não tenho dúvidas de que éramos mais representativos, intelectualmente mais sólidos, culturalmente mais bem preparados, politicamente mais experientes, ideologicamente mais esclarecidos, mais carismáticos e melhores comunicadores.

Saímos porque quisemos, quando quisemos. Para provar o que já provámos, mas também para provar que se já é possível liderar um partido contra os interesses instalados, ainda não é possível conduzi-lo em paz e contra os mesmo interesses.

O PSD pode derrotar o PS em 2009, pode, de novo, ganhar as eleições autárquicas e europeias; pode e deve ganhar nos Açores. É para isso que dei, dou e darei o meu contributo. Sempre foi assim, nunca me resguardei dos combates. Vai ser assim.

Mas para que o PSD possa regressar aos tempos altos da militância como com Sá Carneiro e Cavaco Silva, e daí chegar ao poder com solidez e capacidade reformista, é preciso que o partido se modernize e se repense ideologicamente. Isso só será possível se o caminho que a minha direcção estava a trilhar possa ser retomado. Um partido de bases para voltar a reformar o País.

Obs: Quando os media perguntavam aos apoiantes do PSD no XXXI Congresso do partido em Guimarães o que alí estavam a fazer, respondiam que gostavam que Pedro Passos Coelho assumisse a liderança do partido.
Por outro lado, é óbvio reconhecer que Meneses - mercê de características muito pessoais, nunca beneficiou do estado de graça dos media, talvez pelas maldades, leia-se, pela linguagem pérfida que utilizou para depôr Marques Mendes da liderança do psd. Esse registo de virulência dentro do partido passa cá para fora, e depois os media não perdoam.
Quer isto dizer que Meneses tem razão no que diz, de facto. Leite não tem qualidades políticas que justifiquem a liderança do maior partido da oposição e ser candidata a PM de Portugal. Mas santana exauriu-se naqueles 6 meses de desgovernação em 2005, Meneses, com rigor, nunca passou de um chefe tribal do Norte do País - e assim o país do PSD andou iludido elegendo "bonecos políticos" quando já não era do Lego que se tratava, mas de Portugal.

Compreendo perfeitamente o ressentimento hiper-realista de Meneses, um homem sincero e autentico, mas que fez um péssimo negócio ao contratar Santana para seu líder parlamentar e, assim, depôr MMendes da liderança do psd na sequência da perda de Lisboa para António Costa do PS.
Dito isto, ocorre-me pensar algo comesinho: a política hoje é povoada destas banalidades, uma espécie de jogo em que a realidade se aproxima das regras desse jogo - "do dá e do tira".
Ou seja, a política contemporânea não tem hoje qualquer marca d' água, não é portadora de visão, limita-se a gerir o dia-a-dia, como se de uma vidinha privada se tratasse, depende da opinião pública e do embrulho das sondagens realizadas regularmente. Apesar disto nem as populações hoje são mais felizes ou melhor geridas, os políticos mais populares e o mundo um lugar mais aceitável para se viver e respirar.
Há até mesmo quem diga que hoje o mundo está mais poluído. E, de certo, que Ferreira leite, com tudo de mau (e de passadista) que representa, contribui para aumentar a poluição no mundo.
Há pessoas que nem para elas, nem para o partido que representam, sabem ser boazinhas... Também aqui o psd tem um défice maior do que os 6% que deixou ao País ao tempo do Governo barroso que, se calhar por isso, executou a sua fuga para Bruxelas...

Nota prévia: O sublinhado é nosso, a imagem é da n/ responsabilidade. O texto - ressentido - é de Luís Filipe Meneses, mas não deixa de ser uma peça realista, autentica que encerra muitas verdades nas quais se devem meditar. Ou seja, diz o roto ao nú, por que não te vestes tu...

DEPOIS DE MIM VIRÁ... [in dn]

Luís Filipe Menezes presidente da Câmara de Gaia e ex-presidente do PSD
No início desta semana, uma sondagem publicada no JN e divulgada pela Antena 1 e pela RTP, com a chancela de credibilidade da Universidade Católica, colocava de novo o PS e José Sócrates muito próximo da maioria absoluta. Pelo contrário, o PSD, principal partido da oposição, via alargar-se o fosso percentual para os socialistas. Os sociais-democratas não aproveitavam assim o facto de a crise social alastrar e, com ela, o PS e o Governo estarem a passar por maus bocados. Mas essa sondagem revelava mais. Revelava que a nova líder do PSD não era uma mais-valia para o partido na situação político-social em curso. Em Fevereiro passado, outra sondagem com a mesma chancela de credibilidade da Universidade Católica punha PS e PSD com escassos sete pontos a separá-los. Este facto serviu para fazer manchetes que arrasavam de vez as possibilidades de afirmação da anterior Direcção do PSD! Mas havia e há uma diferença substancial entre as duas sondagens: em Fevereiro, Sócrates usufruía ainda da auréola resultante dos bons resultados da presidência portuguesa da UE e a crise ainda estava num estado embrionário. Hoje, o que é mais espantoso nesta mais recente sondagem é verificar que o PSD não usufrui do estado de graça de uma líder recém-eleita, nem sequer recolhe os dividendos políticos da "crise" dos camionistas, do abrandamento da economia, da tensão no mundo do trabalho por causa do novo código laboral, da "guerra" no sector das pescas e da agricultura, e da "crise" do petróleo e como ela afecta o dia-a-dia das pessoas, da subida das taxas de juro e da anunciada recessão dos nossos principais parceiros comerciais.

Nem quero imaginar o que se escreveria sobre o anterior líder social-democrata se ele, em escassas seis semanas, não tivesse divulgado uma proposta, estivesse em hibernação enquanto os camiões bloqueavam o País e culminasse tal período de ausência com a pomposa declaração de que o casamento era um magistério virado em exclusivo para a procriação!

Aquando da sondagem de Fevereiro, o anterior líder do PSD afrontava o pico de uma campanha negra, interna e externa, nunca vista antes em mais de trinta anos da nossa democracia. Ao invés, nestes 45 dias ninguém criticou as omissões, os silêncios, o discurso generalista, ou o conservadorismo radical da actual direcção do partido. Ainda bem, todos merecem o seu estado de graça. E isto de ser líder tem que se lhe diga.

Contudo, muito do que quis provocar com a minha demissão está atingido. Não houve uma eleição eufórica e já está provado que não é a mudança de "chefe", por mais que um substituto seja levado ao colo pelos interesses instalados e pela intelligentsia que parasita o statu quo, que resolve as entorses estruturais do PSD.
Em trinta anos, o PSD especializou-se em dizimar presidentes. Menos tempo, ou tão pouco quanto eu próprio, passaram por S. Caetano à Lapa, Emídio Guerreiro, Rui Machete, Sousa Franco, Menéres Pimentel, Santana Lopes. Pouco mais tempo, exclusivamente por "culpa" da inércia dos calendários eleitorais, estiveram Mota Pinto, Fernando Nogueira e Marques Mendes. Saíram ainda sem glória Marcelo Rebelo de Sousa e Durão Barroso!!!

O PSD só "tolerou" dois líderes em três décadas: Sá Carneiro e Cavaco Silva. É decisivo que os seus militantes e apoiantes entendam o porquê de tal bizarria.
Porque o PSD nasceu com uma matriz ideológica difusa, privilegiando sempre a metodologia de ascensão ao poder, em detrimento do discurso substantivo que faça de cada ascensão um modo de reformar a comunidade.
É um magnífico e musculado predador, mas tão frágil na substância quanto impressionante é o seu "músculo". Até por isso, porque aí o mais importante é o carisma pessoal e depois a capacidade de realizar, o PSD sempre se sentiu melhor no poder local.

Quando assumi funções comecei de imediato a trabalhar no sentido de alterar este estado de coisas.
O PSD precisava de sair da idade da pedra organizativa, profissionalizando e encorpando o staff técnico e administrativo de apoio à actividade política. O PSD precisava de produzir um discurso de apoio a uma ideia de projecto nacional - tarefa hercúlea, já que passava também pela inevitabilidade de dar conteúdo, de uma vez por todas, ao tal programa partidário excessivamente "pragmático". O PSD necessitava ainda de se transformar no primeiro partido português com coragem para correr o risco de destruir o centralismo de um Estado absurdo, repartindo o poder com todos os que o representam, do Minho ao Algarve.

A anterior equipa foi recebida com a inversão do símbolo do partido, qual "bandeira de luto" içada pelo ideólogo da actual liderança. Depois foi um non stop. Um dia era a recusa de ceder o lugar no Conselho de Estado ao líder do partido, no dia seguinte a crítica à escolha do líder parlamentar, depois o ataque à ideia do partido-empresa - mero reforço do funcionalismo qualificado -, a seguir era a denúncia desse crime lesa-pátria, decorrente da contratação de uma empresa de comunicação.

Na calha seguia-se o combate a alterações a regulamentos internos, a denúncia de que o pagamento em numerário de quotas no valor de 12 euros podia servir para "lavagem de dinheiro", na curva seguinte um grupo alargado de ex-dirigentes "indignava-se" por assistir a alterações regulamentares com que muitos haviam convivido. Adiante, dramatizava-se a simples substituição de dois ou três parlamentares, na enxurrada fazia-se a revolução contra o sacrilégio de ter um fundo de palco azul nas festas partidárias.

Dos actuais vice-presidentes e apoiantes de topo da actual maioria, foram vários os que deram a cara em 50 (!) entrevistas televisivas nos primeiros 60 dias do meu mandato. Todas a criticar e a pedir a substituição da direcção mais representativa da história do PSD. "Nem que fosse à bomba!"

Para além do citado Carnaval, acusavam-nos de não fazer oposição, de não dinamizar as bases e de não ter um discurso e propostas estruturadas!!!

Em seis meses, definimos uma nova orientação para a política económica. Demos consistência ao choque fiscal com a ideia da harmonização fiscal ibérica. Definimos um modelo de desenvolvimento competitivo do interior. Avançámos com a ideia do Polis Social para combater assimetrias sociais graves. Defendemos o fim da publicidade na televisão pública. Apontamos para a separação das águas entre medicina pública e privada, apresentámos um programa de formação para jovens licenciados desempregados, construímos um pacote de medidas descentralizadoras a favor do municipalismo. Pouca coisa para quem nos criticava. Um almanaque das páginas amarelas face ao actual vazio.

Quanto a fazer oposição, fala por nós a forma como combatemos a política de abandono do interior, o papel que desempenhámos na viragem da política de saúde, o modo como denunciámos a falência da política de segurança, a forma como acompanhámos, em diálogo, a actividade do sindicalismo e das associações patronais, a voz que levantámos contra a forma como foi conduzido o affaire BCP/CGD.

Quanto à dinamização do partido, algo de fundamental num partido pesado com a vontade de poder que tem o PSD, fomos radicais. Mobilizámos mais de 50 mil pessoas em iniciativas de Viana a Monchique, da Régua a Viseu, de Bragança e Mirandela, a Ourique, de Vila Verde à Terceira, de Alvaiázere ao Funchal. 70 mil quilómetros, 300 sessões de trabalho, cem jantares partidários de afecto, disponibilidade e respeito pelos dirigentes e pelas bases.

Agora, construtivamente, aguardamos as propostas, as críticas, e o recriar do entusiasmo.

Vamos procurar ajudar, mas sem ingenuidades. A nossa substituição decorreu de um conjunto de acções concertadas, que no seu conjunto consubstanciaram um verdadeiro golpe palaciano. Uma direcção que prometia dar às regiões o direito de escolher os seus deputados e os seus autarcas, uma direcção que ia renovar a maioria dos seus representantes no Parlamento Europeu, uma direcção que tinha do seu lado a idiossincrasia de um humanismo reformista podia mesmo vir a ter sucesso.
Isso significaria o fim do cartão de identificação para muitos para quem a política e o PSD são um mero livre-trânsito para embaixadas, recepções e visitas de Estado ao estrangeiro. Sempre com um cartão de um gabinete de consultadoria no bolso.
Hoje é claro que a substituição de Ângelo Correia por António Capucho não deu mais credibilidade à liderança do Conselho Nacional, que a substituição de Amorim Pereira por Morais Sarmento não trouxe nada de novo. Finalmente é óbvio que a substituição de Santana Lopes por Paulo Rangel diminuiu substancialmente a capacidade de afirmação parlamentar.

Não tenho dúvidas de que éramos mais representativos, intelectualmente mais sólidos, culturalmente mais bem preparados, politicamente mais experientes, ideologicamente mais esclarecidos, mais carismáticos e melhores comunicadores.

Saímos porque quisemos, quando quisemos. Para provar o que já provámos, mas também para provar que se já é possível liderar um partido contra os interesses instalados, ainda não é possível conduzi-lo em paz e contra os mesmo interesses.

O PSD pode derrotar o PS em 2009, pode, de novo, ganhar as eleições autárquicas e europeias; pode e deve ganhar nos Açores. É para isso que dei, dou e darei o meu contributo. Sempre foi assim, nunca me resguardei dos combates. Vai ser assim.

Mas para que o PSD possa regressar aos tempos altos da militância como com Sá Carneiro e Cavaco Silva, e daí chegar ao poder com solidez e capacidade reformista, é preciso que o partido se modernize e se repense ideologicamente. Isso só será possível se o caminho que a minha direcção estava a trilhar possa ser retomado. Um partido de bases para voltar a reformar o País.

Obs: Quando os media perguntavam aos apoiantes do PSD no XXXI Congresso do partido em Guimarães o que alí estavam a fazer, respondiam que gostavam que Pedro Passos Coelho assumisse a liderança do partido.
Por outro lado, é óbvio reconhecer que Meneses - mercê de características muito pessoais, nunca beneficiou do estado de graça dos media, talvez pelas maldades, leia-se, pela linguagem pérfida que utilizou para depôr Marques Mendes da liderança do psd. Esse registo de virulência dentro do partido passa cá para fora, e depois os media não perdoam.
Quer isto dizer que Meneses tem razão no que diz, de facto. Leite não tem qualidades políticas que justifiquem a liderança do maior partido da oposição e ser candidata a PM de Portugal. Mas santana exauriu-se naqueles 6 meses de desgovernação em 2005, Meneses, com rigor, nunca passou de um chefe tribal do Norte do País - e assim o país do PSD andou iludido elegendo "bonecos políticos" quando já não era do Lego que se tratava, mas de Portugal.

Compreendo perfeitamente o ressentimento hiper-realista de Meneses, um homem sincero e autentico, mas que fez um péssimo negócio ao contratar Santana para seu líder parlamentar e, assim, depôr MMendes da liderança do psd na sequência da perda de Lisboa para António Costa do PS.
Dito isto, ocorre-me pensar algo comesinho: a política hoje é povoada destas banalidades, uma espécie de jogo em que a realidade se aproxima das regras desse jogo - "do dá e do tira".
Ou seja, a política contemporânea não tem hoje qualquer marca d' água, não é portadora de visão, limita-se a gerir o dia-a-dia, como se de uma vidinha privada se tratasse, depende da opinião pública e do embrulho das sondagens realizadas regularmente. Apesar disto nem as populações hoje são mais felizes ou melhor geridas, os políticos mais populares e o mundo um lugar mais aceitável para se viver e respirar.
Há até mesmo quem diga que hoje o mundo está mais poluído. E, de certo, que Ferreira leite, com tudo de mau (e de passadista) que representa, contribui para aumentar a poluição no mundo.
Há pessoas que nem para elas, nem para o partido que representam, sabem ser boazinhas... Também aqui o psd tem um défice maior do que os 6% que deixou ao País ao tempo do Governo barroso que, se calhar por isso, executou a sua fuga para Bruxelas...

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