Este ano comemoram-se os 650 passados desde a morte de Inês de Castro mandada assassinar pelo Rei D. Afonso IV, pai do seu amante, D. Pedro. Por causa desta morte, o filho moveu uma guerra ao pai e arrancou com as suas próprias mãos o coração a dois dos três assassinos da bela Inês. Depois de coroado, ordenou que o cadáver da amante fosse desenterrado e os nobres de Portugal lhe prestassem homenagem beijando a mão morta. Os versões que Camões lhe dedicou em «Os Lusíadas» estão entre os muitos e melhores textos que os escritores portugueses lhe dedicaram: «Passada esta tão próspera vitória,Tornada Afonso à lusitana terra,A se lograr da paz com tanta glória,Quanta soube ganhar na dura guerra,O caso triste e digno de memória,Que do sepulcro os homens desenterra,Aconteceu da mísera e mesquinhaQue despois de morta foi rainha.Tu, só tu, puro amor, com força crua,Que os corações humanos tanto obriga,Deste causa à molesta morte sua,Como se fora pérfida inimiga.Se dizem, fero Amor, que a sede tuaNem com lágrimas tristes se mitiga,É porque queres, áspero e tiranoTuas aras banhar em sangue humano.Estavas, linda Inês, posta em sossego,De teus anos colhendo o doce fruto,Naquele engano da alma, ledo e cego,Que a Fortuna não deixa durar muito;Nos saudosos campos do Mondego,De teus fermosos olhos nunca enxuto,Aos montes ensinando e às ervinhasO nome que no peito escrito tinhas.(...)Tirar Inês ao mundo determina,Por lhe tirar o filho que tem preso,Crendo co´o sangue só da morte indinaMatar do firme amor o fogo aceso.Que furor consentiu que a espada fina,Que pôde sustentar o grande pesoDo furor mauro, fosse alevantadaContra ua dama delicada ?(...)Tais contra Inês os brutos matadores,No colo de alabrastro, que sustinhaAs obras que despois a fez rainha,As espadas banhando e as brancas floresQue ela dos olhos seus regadas tinha,Se encarniçavam, fervidos e irosos,No futuro castigo não cuidosos.Bem puderas, ó Sol, da vista destes,Teus raios apartar naquele dia,Como da seva mesa de Tiestes,Quando os filhos por mão de Atreu comia!Vós, ó côncavos vales, que pudestesA voz extrema ouvir da boca fria,O nome do seu Pedro, que lhe ouvistes,Por muito grande espaço repetistes!»
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Este ano comemoram-se os 650 passados desde a morte de Inês de Castro mandada assassinar pelo Rei D. Afonso IV, pai do seu amante, D. Pedro. Por causa desta morte, o filho moveu uma guerra ao pai e arrancou com as suas próprias mãos o coração a dois dos três assassinos da bela Inês. Depois de coroado, ordenou que o cadáver da amante fosse desenterrado e os nobres de Portugal lhe prestassem homenagem beijando a mão morta. Os versões que Camões lhe dedicou em «Os Lusíadas» estão entre os muitos e melhores textos que os escritores portugueses lhe dedicaram: «Passada esta tão próspera vitória,Tornada Afonso à lusitana terra,A se lograr da paz com tanta glória,Quanta soube ganhar na dura guerra,O caso triste e digno de memória,Que do sepulcro os homens desenterra,Aconteceu da mísera e mesquinhaQue despois de morta foi rainha.Tu, só tu, puro amor, com força crua,Que os corações humanos tanto obriga,Deste causa à molesta morte sua,Como se fora pérfida inimiga.Se dizem, fero Amor, que a sede tuaNem com lágrimas tristes se mitiga,É porque queres, áspero e tiranoTuas aras banhar em sangue humano.Estavas, linda Inês, posta em sossego,De teus anos colhendo o doce fruto,Naquele engano da alma, ledo e cego,Que a Fortuna não deixa durar muito;Nos saudosos campos do Mondego,De teus fermosos olhos nunca enxuto,Aos montes ensinando e às ervinhasO nome que no peito escrito tinhas.(...)Tirar Inês ao mundo determina,Por lhe tirar o filho que tem preso,Crendo co´o sangue só da morte indinaMatar do firme amor o fogo aceso.Que furor consentiu que a espada fina,Que pôde sustentar o grande pesoDo furor mauro, fosse alevantadaContra ua dama delicada ?(...)Tais contra Inês os brutos matadores,No colo de alabrastro, que sustinhaAs obras que despois a fez rainha,As espadas banhando e as brancas floresQue ela dos olhos seus regadas tinha,Se encarniçavam, fervidos e irosos,No futuro castigo não cuidosos.Bem puderas, ó Sol, da vista destes,Teus raios apartar naquele dia,Como da seva mesa de Tiestes,Quando os filhos por mão de Atreu comia!Vós, ó côncavos vales, que pudestesA voz extrema ouvir da boca fria,O nome do seu Pedro, que lhe ouvistes,Por muito grande espaço repetistes!»