Diz a ciência que as atitudes humanas se fundamentam nos sistemas de crenças e de valores de cada indivíduo.Auto-analisando-me procuro aplicar estas noções à minha inequívoca opção pelo sim neste próximo referendo sobre a despenalização do aborto.No meu sistema de valores, a vida humana está num altíssimo grau, não admito, seja a quem for o direito de matar ninguém, mas precisamente por que prezo a vida humana e a sua dignidade admito o suicídio e a eutanásia.No meu sistema de valores Eu, qualquer Eu, vale ainda mais que a sua própria vida.Por outro lado a sociedade ou qualquer grupo organizado nunca pode valer mais que qualquer Eu, membro individual dessa ou de outra sociedade ou desse ou de outro grupo organizado, daí não aceitar nunca a guerra ou a pena de morte, que constrange, oprime ou suprime um indivíduo.As únicas excepções toleráveis inserem-se apenas em situações limites onde estes valores entrem em conflito, em situações de confronto em que nem todos possam sobreviver. Aí e apenas aí, admito que se possa tirar vidas para se salvar vidas.Posto isto, no meu sistema de valores o aborto deveria ser aparentemente, para mim, inaceitável em qualquer situação, ou talvez apenas em situações em que surja conflito entre a vida da mãe e a vida do filho.Todavia, como já disse, sou pelo sim no referendo e a razão é simples. Insere-se não no meu sistema de valores mas antes no meu sistema de crenças..E a minha crença é que um feto não é um ser humano.Por mais perfeito e morfologicamente idêntico a um ser humano que seja não pode ter ainda esse estatuto.A própria natureza lho retira ao fazê-lo biologicamente dependente da mãe, como um órgão desta.Não é ainda o seu sangue que circula. O seu coração já bate mas não sobreviveria sem o coração da mãe.É apenas um ser humano potencial. Se a mãe morrer o feto morrerá também, salvo se tiver já as condições necessárias para nascer, ou seja, para se tornar biologicamente independente e então poderá tornar-se um ser humano.Tornar-se um ser humano é um acto solene, e é o parto que o determina, é na desconexão do cordão umbilical, é no grito do primeiro choro, da primeira respiração que surge o Homem.Ouvi Emídio Guerreiro dizer, nos seus 105 lúcidos anos de idade que apenas se nasce quando nasce a consciência, e morre-se de facto quando esta se perde ainda que persistam todos os sinais vitais.O meu sistema de crenças começa estar cada vez mais próximo deste conceito.De qualquer forma, repito, tudo isto se insere nos meus sistema de valores e crenças, não porei nunca em causa nem criticarei quem baseie a sua posição diferente noutro sistema de valores e crenças diferente do meu.O que me custa a aceitar é apenas a incoerência, embora esta também seja própria do Homem.
Categorias
Entidades
Diz a ciência que as atitudes humanas se fundamentam nos sistemas de crenças e de valores de cada indivíduo.Auto-analisando-me procuro aplicar estas noções à minha inequívoca opção pelo sim neste próximo referendo sobre a despenalização do aborto.No meu sistema de valores, a vida humana está num altíssimo grau, não admito, seja a quem for o direito de matar ninguém, mas precisamente por que prezo a vida humana e a sua dignidade admito o suicídio e a eutanásia.No meu sistema de valores Eu, qualquer Eu, vale ainda mais que a sua própria vida.Por outro lado a sociedade ou qualquer grupo organizado nunca pode valer mais que qualquer Eu, membro individual dessa ou de outra sociedade ou desse ou de outro grupo organizado, daí não aceitar nunca a guerra ou a pena de morte, que constrange, oprime ou suprime um indivíduo.As únicas excepções toleráveis inserem-se apenas em situações limites onde estes valores entrem em conflito, em situações de confronto em que nem todos possam sobreviver. Aí e apenas aí, admito que se possa tirar vidas para se salvar vidas.Posto isto, no meu sistema de valores o aborto deveria ser aparentemente, para mim, inaceitável em qualquer situação, ou talvez apenas em situações em que surja conflito entre a vida da mãe e a vida do filho.Todavia, como já disse, sou pelo sim no referendo e a razão é simples. Insere-se não no meu sistema de valores mas antes no meu sistema de crenças..E a minha crença é que um feto não é um ser humano.Por mais perfeito e morfologicamente idêntico a um ser humano que seja não pode ter ainda esse estatuto.A própria natureza lho retira ao fazê-lo biologicamente dependente da mãe, como um órgão desta.Não é ainda o seu sangue que circula. O seu coração já bate mas não sobreviveria sem o coração da mãe.É apenas um ser humano potencial. Se a mãe morrer o feto morrerá também, salvo se tiver já as condições necessárias para nascer, ou seja, para se tornar biologicamente independente e então poderá tornar-se um ser humano.Tornar-se um ser humano é um acto solene, e é o parto que o determina, é na desconexão do cordão umbilical, é no grito do primeiro choro, da primeira respiração que surge o Homem.Ouvi Emídio Guerreiro dizer, nos seus 105 lúcidos anos de idade que apenas se nasce quando nasce a consciência, e morre-se de facto quando esta se perde ainda que persistam todos os sinais vitais.O meu sistema de crenças começa estar cada vez mais próximo deste conceito.De qualquer forma, repito, tudo isto se insere nos meus sistema de valores e crenças, não porei nunca em causa nem criticarei quem baseie a sua posição diferente noutro sistema de valores e crenças diferente do meu.O que me custa a aceitar é apenas a incoerência, embora esta também seja própria do Homem.