Escritos do Douro: Poema a PORTO AMÉLIA

03-08-2010
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POEMA A PORTO AMÉLIA(À Memória de Jaime Ferraz Rodrigues Gabão, escrito em Junho/70)
Terra suada pelo fogo do sol e esquecida lá no norte,onde tantos ganharam a coragem para refazer a vidae teimam em ficar, unidos e em comunhão com os lá nascidos.Terra que ouve tiros ecoando na selvae sepulta corpos vestidos com sangue de guerra,poetas gritando justiça e paz, mesmo que ninguém os ouça,nem os que trincam a alma no amanho da machamba,nem os que mastigam o tempo no amanho da esperança.Terra vermelha com cemitério debruçado sobre o mar,cruzes escurecendo no desfilar da memória,epitáfios de números e de nomes esquecidos além.Terra que sente os espaços limitados,as angústias das palmeiras seculares,abrigando a sombra de olhos fixos nos coraise suspirando horizontes na quietude triste de um cais.Terra que ajudou a criar o poeta, a fazer o poemae a construir a filosofia do abraço e do sorriso.Terra que também é minha porque nela chorei de solidão,chorei amigos que foram mortos sem razãoe nela joguei sem deserções o xadrez da vida;vi crianças de olhos esbugalhados pelo espantoe homens hipnotizados pelo minuto seguinte.
Ó terra excitada pelos batuques das gentes negras,sons perdidos na cumplicidade das tembas!Eu te lembro deste continente que se chama Europa,meto o poema numa carta e pergunto quantos selos leva,sem selos a palavra escrita não salta mares,deito-a num saco de correio azul – azul como o teu céue espero, meu AMIGO, que me respondas do outro lado.Seria bom – ó terra dos ecos nocturnos! – voltar às tuas manhãs de luz,aos teus entardeceres como quem fecha os olhos para sonhar,perder-me nas picadas de fins ignorados e ouvir o eco do meu grito,aliviar o meu alvoroço oprimido e poder dizer: «Viva a vida!».
M. Nogueira Borges* – Porto, Junho/1970Outros post's neste blogue que falam de Jaime Ferraz Rodrigues Gabão, cidadão português nascido na cidade de Peso da Régua em 13 de Abril de 1924, falecido em 18 de Junho de 1992, dia do Corpo de Deus e sepultado no Cemitério do Peso.
*Manuel Coutinho Nogueira Borges é escritor nascido no Douro - Peso da Régua. Pode ler também os textos deste autor no blog ForEver PEMBA. Outros textos de Manuel Coutinho Nogueira Borges neste blogue!


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POEMA A PORTO AMÉLIA(À Memória de Jaime Ferraz Rodrigues Gabão, escrito em Junho/70)
Terra suada pelo fogo do sol e esquecida lá no norte,onde tantos ganharam a coragem para refazer a vidae teimam em ficar, unidos e em comunhão com os lá nascidos.Terra que ouve tiros ecoando na selvae sepulta corpos vestidos com sangue de guerra,poetas gritando justiça e paz, mesmo que ninguém os ouça,nem os que trincam a alma no amanho da machamba,nem os que mastigam o tempo no amanho da esperança.Terra vermelha com cemitério debruçado sobre o mar,cruzes escurecendo no desfilar da memória,epitáfios de números e de nomes esquecidos além.Terra que sente os espaços limitados,as angústias das palmeiras seculares,abrigando a sombra de olhos fixos nos coraise suspirando horizontes na quietude triste de um cais.Terra que ajudou a criar o poeta, a fazer o poemae a construir a filosofia do abraço e do sorriso.Terra que também é minha porque nela chorei de solidão,chorei amigos que foram mortos sem razãoe nela joguei sem deserções o xadrez da vida;vi crianças de olhos esbugalhados pelo espantoe homens hipnotizados pelo minuto seguinte.
Ó terra excitada pelos batuques das gentes negras,sons perdidos na cumplicidade das tembas!Eu te lembro deste continente que se chama Europa,meto o poema numa carta e pergunto quantos selos leva,sem selos a palavra escrita não salta mares,deito-a num saco de correio azul – azul como o teu céue espero, meu AMIGO, que me respondas do outro lado.Seria bom – ó terra dos ecos nocturnos! – voltar às tuas manhãs de luz,aos teus entardeceres como quem fecha os olhos para sonhar,perder-me nas picadas de fins ignorados e ouvir o eco do meu grito,aliviar o meu alvoroço oprimido e poder dizer: «Viva a vida!».
M. Nogueira Borges* – Porto, Junho/1970Outros post's neste blogue que falam de Jaime Ferraz Rodrigues Gabão, cidadão português nascido na cidade de Peso da Régua em 13 de Abril de 1924, falecido em 18 de Junho de 1992, dia do Corpo de Deus e sepultado no Cemitério do Peso.
*Manuel Coutinho Nogueira Borges é escritor nascido no Douro - Peso da Régua. Pode ler também os textos deste autor no blog ForEver PEMBA. Outros textos de Manuel Coutinho Nogueira Borges neste blogue!

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