Entre as brumas da memória: A asfixia demagógica

25-05-2011
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Há uma frase conhecida de Hegel que reza mais ou menos assim: «se a teoria é desmentida pelos factos, pior para os factos». Lembrei-me dela ao ler hoje o artigo de opinião de José Pacheco Pereira (JPP) no Público. A pretexto do debate Jerónimo-Louçã (que tem sido mal «lido», na minha opinião, mas isso é outra história), JPP aproxima Bloco e PCP na sua condição de «sociais-democratas de má consciência». É desde logo curioso que a expressão venha de alguém que faz parte de um partido que se denomina «social-democrata» e que oscila entre o liberalismo e o neo-conservadorismo. Mas essa é (também) outra história.A história que aqui importa referir é a da raiva ideológica de quem vê o Bloco (o artigo centra-se sobretudo em Louçã e no BE) como uma agremiação intrinsecamente mal-intencionada, monolítica e dissimulada. Sabemos que JPP não é tão ignorante quanto à identidade do Bloco como quer parecer; sabemos que JPP sabe que o Bloco tem feito um trabalho no Parlamento que é tudo menos consentâneo com quem entende as eleições como um mero fenómeno «burguês» e a acção parlamentar como sinónimo de «cretinismo»; sabemos que JPP associa o imposto sobre as grandes fortunas a um imposto que atingiria toda a classe média (!), porque no fundo deve imaginar Portugal como uma grande marina onde cada cidadão guarda o seu iate.A terminar o artigo, JPP ainda tem tempo para responsabilizar Louçã, então um jovem de 19 anos, pela terrível catástrofe que terá sido o PREC. Talvez fosse bom recordar que quem quis suspender a democracia por seis meses foi uma senhora que agora se passeia sorridente e zelosa na denúncia da asfixia democrática. Mas essa é também uma outra história, bem mais recente, aliás, e com actores que ora se refugiam no teleponto, ora fogem das ruas onde está essa coisa estranha a que por vezes se chama povo.Um texto de Miguel Cardina


Há uma frase conhecida de Hegel que reza mais ou menos assim: «se a teoria é desmentida pelos factos, pior para os factos». Lembrei-me dela ao ler hoje o artigo de opinião de José Pacheco Pereira (JPP) no Público. A pretexto do debate Jerónimo-Louçã (que tem sido mal «lido», na minha opinião, mas isso é outra história), JPP aproxima Bloco e PCP na sua condição de «sociais-democratas de má consciência». É desde logo curioso que a expressão venha de alguém que faz parte de um partido que se denomina «social-democrata» e que oscila entre o liberalismo e o neo-conservadorismo. Mas essa é (também) outra história.A história que aqui importa referir é a da raiva ideológica de quem vê o Bloco (o artigo centra-se sobretudo em Louçã e no BE) como uma agremiação intrinsecamente mal-intencionada, monolítica e dissimulada. Sabemos que JPP não é tão ignorante quanto à identidade do Bloco como quer parecer; sabemos que JPP sabe que o Bloco tem feito um trabalho no Parlamento que é tudo menos consentâneo com quem entende as eleições como um mero fenómeno «burguês» e a acção parlamentar como sinónimo de «cretinismo»; sabemos que JPP associa o imposto sobre as grandes fortunas a um imposto que atingiria toda a classe média (!), porque no fundo deve imaginar Portugal como uma grande marina onde cada cidadão guarda o seu iate.A terminar o artigo, JPP ainda tem tempo para responsabilizar Louçã, então um jovem de 19 anos, pela terrível catástrofe que terá sido o PREC. Talvez fosse bom recordar que quem quis suspender a democracia por seis meses foi uma senhora que agora se passeia sorridente e zelosa na denúncia da asfixia democrática. Mas essa é também uma outra história, bem mais recente, aliás, e com actores que ora se refugiam no teleponto, ora fogem das ruas onde está essa coisa estranha a que por vezes se chama povo.Um texto de Miguel Cardina

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