Clube de Reflexão Política: Comemorações (modos de usar), II

28-05-2010
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Os discursos oficiais no 31 de Janeiro foram cifrados, mas pouco. A convocatória do Conselho de Estado apenas sugere continuação de episódios. Nada de surpreendente nisto, são modos de usar previsíveis, previstos.
Curioso foi ver como o historiador Rui Ramos, nova esperança do pensamento político laranja, se desdobra também aqui em declarações.Poucos dias depois de afirmar (no Público) que a implantação da República não se compara ao triunfo do liberalismo no século XIX, que já fizera tudo o que era importante, eslareceu agora os leitores do Expresso que o 31 de Janeiro não teve grande relação com o 5 de Outubro.
A primeira tese é curiosa vinda de quem escreveu um volume da História de Portugal coordenada por Mattoso (Círculo de Leitores) e o intitulou A Segunda Fundação. O volume foca justamente este período histórico (séculos XIX e XX) e toma seu título do insuspeito Sardinha, que via na República a refundação do país. Dizer agora que isto é de somenos face ao que acontecera 90 anos antes...
Terá mudado de ideias, dir-se-á, desde a História de Portugal de Mattoso já lá vão uns anos. Seja. Pena é que não explique porque mudou, nem por que carga de água o 31 de Janeiro, com todo o seu insucesso imediato, não se integra logicamente na acidentada História da queda da Monarquia e afirmação da República em Portugal.
Afinal, Rui Ramos escreveu (e logo num suplemento ao Dicionário de História de Portugal de Joel Serrão...) que a Obra de António Sérgio apenas revela uma vontade de ter razão em tudo, contra todos. Ora, as declarações de Ramos manifestam uma vontade de ter razão contra todos, incluindo a suas próprias teses.
Bem sei que os seus leitores devotos são da estirpe de um José Manuel Fernandes, esse exemplo de seriedade e coerência. Mas ainda assim... se não a bem da República, ao menos a bem da História.Carlos Leone


Os discursos oficiais no 31 de Janeiro foram cifrados, mas pouco. A convocatória do Conselho de Estado apenas sugere continuação de episódios. Nada de surpreendente nisto, são modos de usar previsíveis, previstos.
Curioso foi ver como o historiador Rui Ramos, nova esperança do pensamento político laranja, se desdobra também aqui em declarações.Poucos dias depois de afirmar (no Público) que a implantação da República não se compara ao triunfo do liberalismo no século XIX, que já fizera tudo o que era importante, eslareceu agora os leitores do Expresso que o 31 de Janeiro não teve grande relação com o 5 de Outubro.
A primeira tese é curiosa vinda de quem escreveu um volume da História de Portugal coordenada por Mattoso (Círculo de Leitores) e o intitulou A Segunda Fundação. O volume foca justamente este período histórico (séculos XIX e XX) e toma seu título do insuspeito Sardinha, que via na República a refundação do país. Dizer agora que isto é de somenos face ao que acontecera 90 anos antes...
Terá mudado de ideias, dir-se-á, desde a História de Portugal de Mattoso já lá vão uns anos. Seja. Pena é que não explique porque mudou, nem por que carga de água o 31 de Janeiro, com todo o seu insucesso imediato, não se integra logicamente na acidentada História da queda da Monarquia e afirmação da República em Portugal.
Afinal, Rui Ramos escreveu (e logo num suplemento ao Dicionário de História de Portugal de Joel Serrão...) que a Obra de António Sérgio apenas revela uma vontade de ter razão em tudo, contra todos. Ora, as declarações de Ramos manifestam uma vontade de ter razão contra todos, incluindo a suas próprias teses.
Bem sei que os seus leitores devotos são da estirpe de um José Manuel Fernandes, esse exemplo de seriedade e coerência. Mas ainda assim... se não a bem da República, ao menos a bem da História.Carlos Leone

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