Clube de Reflexão Política: Paulo Ferreira: Lacrimosa

18-12-2009
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Um artigo de opinião nasce por vezes de um assunto fortuito, simples o bastante para não passar de mero pormenor, mas importuno o suficiente para desencadear uma reflexão. Sucede que ontem recebi na minha caixa de correio electrónico um ficheiro power point, daqueles habituais que circulam por aí, versando a biografia e sobretudo, a morte do Rei de Portugal, D. Carlos I. O mail, sob o título "D. Carlos (Lacrimosa)” é composto de fotografias, música (de Mozart) e algum texto, terminando com a seguinte mensagem:
"Dois anos depois, a Maçonaria derrubava a Monarquia Constitucional e proclamava a República. Desde então ninguém perguntou aos portugueses em que regime queriam viver."

Pareceu-me bom ensejo para alguns comentários, quando faltam apenas 5 semanas para a entrada no ano das comemorações do centenário da República.

A propósito da pretensão ali implícita de realização de um referendo acerca do regime político, correspondente aliás a uma proposta amiúde formulada pelos defensores da causa monárquica, merecerá a pena recordar alguns factos:

1º - Não foi o regicídio de 1908 que instaurou a república. Efectivamente, em 1910, Portugal tinha um monarca reinante, D. Manuel II. Outro regicídio, o de D. João VI, que recentes provas forenses revelaram ter morrido envenenado, não levou à queda do regime, tal como o assassinato do Presidente Sidónio Pais não fez retornar à monarquia. O que provocou a mudança de regime foi o estado de degradação do país e a falta de credibilidade da monarquia para resolver os problemas com que o Portugal do início do séc. XX se defrontava.

2º - A realização do referendo de regime, que até parece soar bem à normal sensibilidade democrática, seria, porém, algo de praticamente inédito. Aliás, com excepção do exemplo habitualmente citado, da Austrália em 1999, tanto quanto consegui apurar nenhuma monarquia no poder se submeteu a tal prova de legitimidade. E convém salvar as devidas proporções: a implantação do partido monárquico em Portugal não tem termo de comparação com o peso político que o partido republicano Labor, actualmente no poder, alcançou na Austrália, sem falar em outros partidos como os Australian Democrats e os Australian Greens, também defensores do republicanismo.

Portugal é hoje uma república consolidada, onde vigoram a liberdade de expressão e o respeito pelas minorias. A comprová-lo, o respeito e a estima com que o pretendente ao trono, D. Duarte Nuno de Bragança tem contado por parte das instituições do Estado e do povo republicano.

A Monarquia portuguesa dispôs de uma existência de quase oito séculos. Possa também a República Portuguesa prosseguir por outros tantos, no sentido do seu aperfeiçoamento, extraindo as suas próprias lições da História e dando provas dos seus melhores méritos, que são os de todos os que devotam o seu amor à egrégia pátria lusitana.

Viva a República!
Viva Portugal!


Um artigo de opinião nasce por vezes de um assunto fortuito, simples o bastante para não passar de mero pormenor, mas importuno o suficiente para desencadear uma reflexão. Sucede que ontem recebi na minha caixa de correio electrónico um ficheiro power point, daqueles habituais que circulam por aí, versando a biografia e sobretudo, a morte do Rei de Portugal, D. Carlos I. O mail, sob o título "D. Carlos (Lacrimosa)” é composto de fotografias, música (de Mozart) e algum texto, terminando com a seguinte mensagem:
"Dois anos depois, a Maçonaria derrubava a Monarquia Constitucional e proclamava a República. Desde então ninguém perguntou aos portugueses em que regime queriam viver."

Pareceu-me bom ensejo para alguns comentários, quando faltam apenas 5 semanas para a entrada no ano das comemorações do centenário da República.

A propósito da pretensão ali implícita de realização de um referendo acerca do regime político, correspondente aliás a uma proposta amiúde formulada pelos defensores da causa monárquica, merecerá a pena recordar alguns factos:

1º - Não foi o regicídio de 1908 que instaurou a república. Efectivamente, em 1910, Portugal tinha um monarca reinante, D. Manuel II. Outro regicídio, o de D. João VI, que recentes provas forenses revelaram ter morrido envenenado, não levou à queda do regime, tal como o assassinato do Presidente Sidónio Pais não fez retornar à monarquia. O que provocou a mudança de regime foi o estado de degradação do país e a falta de credibilidade da monarquia para resolver os problemas com que o Portugal do início do séc. XX se defrontava.

2º - A realização do referendo de regime, que até parece soar bem à normal sensibilidade democrática, seria, porém, algo de praticamente inédito. Aliás, com excepção do exemplo habitualmente citado, da Austrália em 1999, tanto quanto consegui apurar nenhuma monarquia no poder se submeteu a tal prova de legitimidade. E convém salvar as devidas proporções: a implantação do partido monárquico em Portugal não tem termo de comparação com o peso político que o partido republicano Labor, actualmente no poder, alcançou na Austrália, sem falar em outros partidos como os Australian Democrats e os Australian Greens, também defensores do republicanismo.

Portugal é hoje uma república consolidada, onde vigoram a liberdade de expressão e o respeito pelas minorias. A comprová-lo, o respeito e a estima com que o pretendente ao trono, D. Duarte Nuno de Bragança tem contado por parte das instituições do Estado e do povo republicano.

A Monarquia portuguesa dispôs de uma existência de quase oito séculos. Possa também a República Portuguesa prosseguir por outros tantos, no sentido do seu aperfeiçoamento, extraindo as suas próprias lições da História e dando provas dos seus melhores méritos, que são os de todos os que devotam o seu amor à egrégia pátria lusitana.

Viva a República!
Viva Portugal!

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