TIMOR LOROSAE NAÇÃO: “ESTÃO A EMPURRAR-ME PARA A MORTE”

24-12-2009
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.Francisca Gorjão Henriques – Público – 06 Dezembro 2009Activista sarauí denuncia governos Espanhol e MarroquinoDepois de 22 dias de greve de fome, e a ingerir apenas água com açúcar, a activista para a independência do Sara Ocidental Aminatu Haidar pode estar a dias, ou até mesmo horas, de ver o seu estado de saúde deteriorar-se de forma irreversível. Os avisos dos médicos não foram seguidos de palavras animadoras do executivo espanhol. “Deve prevalecer o interesse geral”, disse o primeiro-ministro.“Volto a dizer, o Governo de Espanha é cúmplice de Marrocos e ambos os governos querem empurrar-me para a morte”, denunciou Haidar.A activista recorreu à greve de fome como protesto contra a proibição de um regresso a casa, e aos seus filhos, imposta por Marrocos – de onde foi expulsa no dia 14 de Novembro, depois de ter assinado um documento em que escrevia “Sara Ocidental” no espaço reservado à nacionalidade, quando voltou de uma viagem ao estrangeiro. Haidar foi detida, interrogada, privada de telefones e passaporte, e forçada a voar até Lanzarote, onde se encontra desde então.O actor Guillermo Toledo, porta-voz da Plataforma de Apoio a Aminatu Haidar, afirmou ao PÚBLICO por telefone que “o seu estado é muito crítico”. Apesar disso, a suspensão do protesto está fora de causa. “Ela é radical. E a greve é a sua única forma de pressão.”Pressão é o que não tem existido por parte dos responsáveis de Madrid face aos seus homólogos de Rabat, acusa Toledo, que está há semanas no aeroporto de Lanzarote, a acompanhar Haidar. “Espanha podia fazer como o Governo sueco, que assegura a presidência da União Europeia, e dizer que, se algo acontecer a Aminatu, a entrada de Marrocos na UE será vetada.”Mas hoje o primeiro-ministro, Rodriguez Zapatero, deu a entender que não está disposto a sacrificar as relações com Rabat. “Às vezes, como é normal, surgem dificuldades, mas deve prevalecer o que é do interesse geral [para o país]”, afirmou. A sua prioridade é “manter as boas relações com os países vizinhos”, e pôs de lado uma intervenção do rei Juan Carlos, pedida pelos apoiantes de Haidar, porque se deve “dar às coisas a sua dimensão”.Foi com um frágil fio de voz que Haidar recebeu o secretário-geral da Juventude Socialista, Duarte Cordeiro, convidado pela Frente Polisário a deslocar-se a Lanzarote. “Está muito debilitada. Fala muito baixo, está muito sensível à luz e ao barulho”, adiantou Duarte Cordeiro ao PÚBLICO. A activista está num quarto perto do parque de estacionamento de autocarros no aeroporto da ilha espanhola, “com barulho e poluição. Não é um local apropriado para descansar”, acrescenta. “Os médicos não sabem quanto tempo mais pode aguentar.”“Dignidade não está à venda”Aminatu Haidar teve energia suficiente para afirmar ao deputado português que “sente que está numa luta de vida ou de morte, que os governos marroquino e espanhol a estão a empurrar para a morte. E que o apoio internacional é muito importante. Mas acha que é preciso mais envolvimento e mais pressão” junto dos dois executivos.Fernando Peraita, da Plataforma de Apoio ao Sara Ocidental, refere, também num contacto telefónico, que as autoridades espanholas fizeram avançar duas posições contraditórias sobre o estado dos contactos com Rabat. “Uma, a de Maria Tereza Fernández de la Vega, vice-presidente do Governo, de que as negociações continuam.” A outra veio de Agustín Santos, director do gabinete do ministro dos Negócios Estrangeiros, Miguel Ángel Moratinos. “Ele garantiu que não havia possibilidades de negociar mais com Marrocos, e ofereceu um apartamento e a nacionalidade espanhola a Haidar.” A militante recusou. “A minha dignidade não está à venda”, respondeu. “Ela quer apenas regressar a casa. É tudo o que pretende do Governo espanhol”, continua Peraita.“Aquele que afirmou que tudo foi feito é o mesmo que esteve cá [na sexta-feira] e mentiu ao dizer que um avião tinha recebido autorização para entrar em Marrocos [com Haidar a bordo]”, acrescentou Toledo. A activista estava já dentro do aparelho que a levaria a casa, quando Rabat recusou a aterragem, e o avião não chegou a descolar. Mas Madrid assegurou ter recebido do Governo marroquino a luz verde para avançar.“A tensão entre os dois países atingiu o limite e o episódio, tenha que desfecho tiver, terá repercussões políticas”, escreveu ontem o "El País". “Em primeiro lugar, no próprio conflito do Sara”, que agora ganhou uma maior cobertura internacional.A ex-colónia espanhola foi anexada por Marrocos nos anos 1970. Rabat ofereceu uma ampla autonomia à região, mas a Frente Polisario, apoiada pela Argélia, recusou-a e exigiu um referendo sobre a autodeterminação da região. .


.Francisca Gorjão Henriques – Público – 06 Dezembro 2009Activista sarauí denuncia governos Espanhol e MarroquinoDepois de 22 dias de greve de fome, e a ingerir apenas água com açúcar, a activista para a independência do Sara Ocidental Aminatu Haidar pode estar a dias, ou até mesmo horas, de ver o seu estado de saúde deteriorar-se de forma irreversível. Os avisos dos médicos não foram seguidos de palavras animadoras do executivo espanhol. “Deve prevalecer o interesse geral”, disse o primeiro-ministro.“Volto a dizer, o Governo de Espanha é cúmplice de Marrocos e ambos os governos querem empurrar-me para a morte”, denunciou Haidar.A activista recorreu à greve de fome como protesto contra a proibição de um regresso a casa, e aos seus filhos, imposta por Marrocos – de onde foi expulsa no dia 14 de Novembro, depois de ter assinado um documento em que escrevia “Sara Ocidental” no espaço reservado à nacionalidade, quando voltou de uma viagem ao estrangeiro. Haidar foi detida, interrogada, privada de telefones e passaporte, e forçada a voar até Lanzarote, onde se encontra desde então.O actor Guillermo Toledo, porta-voz da Plataforma de Apoio a Aminatu Haidar, afirmou ao PÚBLICO por telefone que “o seu estado é muito crítico”. Apesar disso, a suspensão do protesto está fora de causa. “Ela é radical. E a greve é a sua única forma de pressão.”Pressão é o que não tem existido por parte dos responsáveis de Madrid face aos seus homólogos de Rabat, acusa Toledo, que está há semanas no aeroporto de Lanzarote, a acompanhar Haidar. “Espanha podia fazer como o Governo sueco, que assegura a presidência da União Europeia, e dizer que, se algo acontecer a Aminatu, a entrada de Marrocos na UE será vetada.”Mas hoje o primeiro-ministro, Rodriguez Zapatero, deu a entender que não está disposto a sacrificar as relações com Rabat. “Às vezes, como é normal, surgem dificuldades, mas deve prevalecer o que é do interesse geral [para o país]”, afirmou. A sua prioridade é “manter as boas relações com os países vizinhos”, e pôs de lado uma intervenção do rei Juan Carlos, pedida pelos apoiantes de Haidar, porque se deve “dar às coisas a sua dimensão”.Foi com um frágil fio de voz que Haidar recebeu o secretário-geral da Juventude Socialista, Duarte Cordeiro, convidado pela Frente Polisário a deslocar-se a Lanzarote. “Está muito debilitada. Fala muito baixo, está muito sensível à luz e ao barulho”, adiantou Duarte Cordeiro ao PÚBLICO. A activista está num quarto perto do parque de estacionamento de autocarros no aeroporto da ilha espanhola, “com barulho e poluição. Não é um local apropriado para descansar”, acrescenta. “Os médicos não sabem quanto tempo mais pode aguentar.”“Dignidade não está à venda”Aminatu Haidar teve energia suficiente para afirmar ao deputado português que “sente que está numa luta de vida ou de morte, que os governos marroquino e espanhol a estão a empurrar para a morte. E que o apoio internacional é muito importante. Mas acha que é preciso mais envolvimento e mais pressão” junto dos dois executivos.Fernando Peraita, da Plataforma de Apoio ao Sara Ocidental, refere, também num contacto telefónico, que as autoridades espanholas fizeram avançar duas posições contraditórias sobre o estado dos contactos com Rabat. “Uma, a de Maria Tereza Fernández de la Vega, vice-presidente do Governo, de que as negociações continuam.” A outra veio de Agustín Santos, director do gabinete do ministro dos Negócios Estrangeiros, Miguel Ángel Moratinos. “Ele garantiu que não havia possibilidades de negociar mais com Marrocos, e ofereceu um apartamento e a nacionalidade espanhola a Haidar.” A militante recusou. “A minha dignidade não está à venda”, respondeu. “Ela quer apenas regressar a casa. É tudo o que pretende do Governo espanhol”, continua Peraita.“Aquele que afirmou que tudo foi feito é o mesmo que esteve cá [na sexta-feira] e mentiu ao dizer que um avião tinha recebido autorização para entrar em Marrocos [com Haidar a bordo]”, acrescentou Toledo. A activista estava já dentro do aparelho que a levaria a casa, quando Rabat recusou a aterragem, e o avião não chegou a descolar. Mas Madrid assegurou ter recebido do Governo marroquino a luz verde para avançar.“A tensão entre os dois países atingiu o limite e o episódio, tenha que desfecho tiver, terá repercussões políticas”, escreveu ontem o "El País". “Em primeiro lugar, no próprio conflito do Sara”, que agora ganhou uma maior cobertura internacional.A ex-colónia espanhola foi anexada por Marrocos nos anos 1970. Rabat ofereceu uma ampla autonomia à região, mas a Frente Polisario, apoiada pela Argélia, recusou-a e exigiu um referendo sobre a autodeterminação da região. .

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