nortadas: Acordo ortográfico

06-08-2010
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O acordo ortográfico que vai entrar em vigor em Janeiro de 2008 parece uma coisa extraordinária sob vários pontos de vista. Começa por se dizer que: “com as modificações propostas no acordo, calcula-se que 1,6% do vocabulário de Portugal seja modificado. No Brasil, a mudança será bem menor: 0,45% das palavras terão a escrita alterada. Mas apesar das mudanças ortográficas, serão conservadas as pronúncias típicas de cada país" (é caso para dizer que quando se é capaz de uma tal consideração final já está tudo perdido, mas não devemos ser fatalistas).“O português é a terceira língua ocidental mais falada, após o inglês e o espanhol. A ocorrência de ter duas ortografias atrapalha a divulgação do idioma e a sua prática em eventos internacionais. Sua unificação, no entanto, facilitará a definição de critérios para exames e certificados para estrangeiros”. Está-se a ver que a ineficiência ortográfica tem atrapalhado enormemente o inglês, o francês e o espanhol, e tem obrigado os países que falam a língua mãe a profundas e radicais alterações linguísticas. Mas uma vez mais, adiante. Devemos é ficar satisfeitos com a possibilidade que nos é dada de conservar o nosso sotaque e conformados com o grau de zelo e dinamismo que o nosso país (que não tem outros problemas com que se preocupar) coloca na manutenção da coerência universal da sua língua. Vejamos agora só um ou dois pontos do acordo, aqueles que nos dizem mais directamente respeito. Em Portugal, desaparecem da língua escrita o "c" e o "p" nas palavras onde ele não é pronunciado, como em "acção", "acto", "adopção" e "baptismo". O certo passará a ser ação, ato, adoção e batismo; Também em Portugal elimina-se o "h" inicial de algumas palavras, como em "húmido", que passará a ser escrito como no Brasil: "úmido ". Só isto já arrepia qualquer velhote com mais de trinta anos. Mas o mais surpreendente de tudo, quanto a mim, é a eliminação da acentuação da palavra “pára” que passa a ser escrita como “para”. Devo dizer que considero esta equiparação fabulosa. Imaginem só um exemplo prático retirado do conto infantil dos três porquinhos mas com aplicação a qualquer história de polícias e ladrões, relato jornalístico de perseguição, ou legendagem de filme de cowboys. A certa altura, o lobo mau diz, segundo as novas regras ortográficas, para o porquinho do meio, depois de derrubar a sua casa de madeira: “para aí, seu porquinho descarado”! Vejam só. O porquinho vai ficar confuso, e o leitor também. Será que o lobo mau queria dizer para o porquinho seguir para um sítio determinado? E se era “para” seguir para algum lado, para onde? Ou quereria antes dizer ao porquinho para parar? Nesse caso não deveria ter preferido um “estaca aí” seu porquinho rechonchudo, ou talvez “imobiliza-te”, detém-te” imediatamente, “alto”?! A indecisão gerada pelo uso uniformizado da palavra “para” pode-se tornar fatal ao porquinho que entretanto vai ter que parar para pensar. Ora isto não se pode admitir :-)


O acordo ortográfico que vai entrar em vigor em Janeiro de 2008 parece uma coisa extraordinária sob vários pontos de vista. Começa por se dizer que: “com as modificações propostas no acordo, calcula-se que 1,6% do vocabulário de Portugal seja modificado. No Brasil, a mudança será bem menor: 0,45% das palavras terão a escrita alterada. Mas apesar das mudanças ortográficas, serão conservadas as pronúncias típicas de cada país" (é caso para dizer que quando se é capaz de uma tal consideração final já está tudo perdido, mas não devemos ser fatalistas).“O português é a terceira língua ocidental mais falada, após o inglês e o espanhol. A ocorrência de ter duas ortografias atrapalha a divulgação do idioma e a sua prática em eventos internacionais. Sua unificação, no entanto, facilitará a definição de critérios para exames e certificados para estrangeiros”. Está-se a ver que a ineficiência ortográfica tem atrapalhado enormemente o inglês, o francês e o espanhol, e tem obrigado os países que falam a língua mãe a profundas e radicais alterações linguísticas. Mas uma vez mais, adiante. Devemos é ficar satisfeitos com a possibilidade que nos é dada de conservar o nosso sotaque e conformados com o grau de zelo e dinamismo que o nosso país (que não tem outros problemas com que se preocupar) coloca na manutenção da coerência universal da sua língua. Vejamos agora só um ou dois pontos do acordo, aqueles que nos dizem mais directamente respeito. Em Portugal, desaparecem da língua escrita o "c" e o "p" nas palavras onde ele não é pronunciado, como em "acção", "acto", "adopção" e "baptismo". O certo passará a ser ação, ato, adoção e batismo; Também em Portugal elimina-se o "h" inicial de algumas palavras, como em "húmido", que passará a ser escrito como no Brasil: "úmido ". Só isto já arrepia qualquer velhote com mais de trinta anos. Mas o mais surpreendente de tudo, quanto a mim, é a eliminação da acentuação da palavra “pára” que passa a ser escrita como “para”. Devo dizer que considero esta equiparação fabulosa. Imaginem só um exemplo prático retirado do conto infantil dos três porquinhos mas com aplicação a qualquer história de polícias e ladrões, relato jornalístico de perseguição, ou legendagem de filme de cowboys. A certa altura, o lobo mau diz, segundo as novas regras ortográficas, para o porquinho do meio, depois de derrubar a sua casa de madeira: “para aí, seu porquinho descarado”! Vejam só. O porquinho vai ficar confuso, e o leitor também. Será que o lobo mau queria dizer para o porquinho seguir para um sítio determinado? E se era “para” seguir para algum lado, para onde? Ou quereria antes dizer ao porquinho para parar? Nesse caso não deveria ter preferido um “estaca aí” seu porquinho rechonchudo, ou talvez “imobiliza-te”, detém-te” imediatamente, “alto”?! A indecisão gerada pelo uso uniformizado da palavra “para” pode-se tornar fatal ao porquinho que entretanto vai ter que parar para pensar. Ora isto não se pode admitir :-)

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