nortadas: REFERENDOS E REFERENDOS

01-06-2010
marcar artigo


Há um aspecto curiosíssimo da nossa vida política que me suscita um enorme interesse e que é aquilo a que posso chamar de referendos de sentido único. O mundo do politicamente correcto só gosta de referendos se estiver garantido à partida que a resposta é aquela que eles querem. Se isso, porventura, não suceder, também não há problema: repetem-se os referendos "ad nauseam"até que se consiga extrair do povo a resposta "correcta".Os casos que me ocorrem são conhecidos: o referendo do aborto, em Portugal, e o referendo à constituição europeia. Uma coisa nós podemos ter como certo: se no próximo referendo sobre o aborto, como espero, ganhar o não, pouco tempo depois vamos ter nova consulta sobre o mesmo tema. Parece que toda a gente acha isto normal. Não é. Imaginem o alvoroço que seria se, ganhando o sim, alguém ousasse propor, decorridos dois ou três anos, que a questão fosse mais uma vez apreciada em referendo. O coro dos protestos seria ensurdecedor. A democracia só vale para um lado.O referendo europeu é outro caso muito interessante. Só era para valer se, como muita gente esperava, ganhasse o sim. Uma vez que em França o resultado está tremido, afinal já é tudo uma catástrofe e anuncia-se o fim da europa, chantagem emocional (e económica) muito frequente nestas alturas. Preocupam-se com o resultado e não com as causas, não querem ler os sinais. Sou tão "europeu" como a generalidade dos portugueses, embora talvez não tanto como o Dr. Mário Soares ou o Prof. Freitas do Amaral, mas compreendo aqueles que cada vez menos se revêm nesta Europa que alguém está a construir. Se calhar o processo de alargamento a leste andou depressa demais e os seus efeitos não foram bem antecipados. Seja lá porque razão for, tendo a União Europeia se transformado numa espécie de Naçoes Unidas da Europa, as pessoas foram deixando de se identificar com o espírito europeu original. Sem terem em conta as pessoas, agora querem que elas aprovem uma constituição com 500 páginas, numa altura de enorme turbulência institucional e económica. Claro que é muito provável que corra mal. Antes de fazer constituições, era mais urgente e importante reconquistar os verdadeiros europeus.


Há um aspecto curiosíssimo da nossa vida política que me suscita um enorme interesse e que é aquilo a que posso chamar de referendos de sentido único. O mundo do politicamente correcto só gosta de referendos se estiver garantido à partida que a resposta é aquela que eles querem. Se isso, porventura, não suceder, também não há problema: repetem-se os referendos "ad nauseam"até que se consiga extrair do povo a resposta "correcta".Os casos que me ocorrem são conhecidos: o referendo do aborto, em Portugal, e o referendo à constituição europeia. Uma coisa nós podemos ter como certo: se no próximo referendo sobre o aborto, como espero, ganhar o não, pouco tempo depois vamos ter nova consulta sobre o mesmo tema. Parece que toda a gente acha isto normal. Não é. Imaginem o alvoroço que seria se, ganhando o sim, alguém ousasse propor, decorridos dois ou três anos, que a questão fosse mais uma vez apreciada em referendo. O coro dos protestos seria ensurdecedor. A democracia só vale para um lado.O referendo europeu é outro caso muito interessante. Só era para valer se, como muita gente esperava, ganhasse o sim. Uma vez que em França o resultado está tremido, afinal já é tudo uma catástrofe e anuncia-se o fim da europa, chantagem emocional (e económica) muito frequente nestas alturas. Preocupam-se com o resultado e não com as causas, não querem ler os sinais. Sou tão "europeu" como a generalidade dos portugueses, embora talvez não tanto como o Dr. Mário Soares ou o Prof. Freitas do Amaral, mas compreendo aqueles que cada vez menos se revêm nesta Europa que alguém está a construir. Se calhar o processo de alargamento a leste andou depressa demais e os seus efeitos não foram bem antecipados. Seja lá porque razão for, tendo a União Europeia se transformado numa espécie de Naçoes Unidas da Europa, as pessoas foram deixando de se identificar com o espírito europeu original. Sem terem em conta as pessoas, agora querem que elas aprovem uma constituição com 500 páginas, numa altura de enorme turbulência institucional e económica. Claro que é muito provável que corra mal. Antes de fazer constituições, era mais urgente e importante reconquistar os verdadeiros europeus.

marcar artigo