nortadas: Duas visões sobre a crise do sistema político

30-05-2010
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No Público, hoje, vêm dois pertinentes artigos e curiosamente complementares na sua análise: o de Paulo Rangel e o de Rui Ramos. Com um móbil distinto, acabam por se referir a um mesmo fenómeno: à crise do sistema político. Rui Ramos reconduz, muito redutoramente ( e tendo como referência o caso Carrilho), a questão à pouca profissionalização da classe política, mormente, aqueles que ascendem a altos cargos executivos no topo da Administração, ou seja, no Governo. Dando um tom mais impressivo e concreto, arremessa-nos com o sistema político inglês, “em que entra no governo quem for deputado e em que para ser deputado é preciso disputar directamente uma eleição pessoal” enquanto por cá é bastante “o patrocínio do primeiro-ministro (…)para acesso ao governo”. Conclui defendendo que “uma classe política profissional e experimentada não significa necessariamente uma diminuição dos poderes dos cidadãos”. Ora, já Paulo Rangel, numa perspectiva mais profunda, faz o diagnóstico da crise do Parlamento, enquanto o órgão, por excelência, onde repousa o princípio representativo. Curiosamente, e ao arrepio de Rui Ramos, refere o exemplo inglês – como paradigma de governo parlamentar – como evidência da referida crise do Parlamento.Ora, de facto, em Inglaterra, cada deputado é escolhido pelo seu círculo uninominal. São políticos profissionais e que prestam contam directamente aos seus eleitores. A lógica de listas “anónimas” aos olhos do eleitorado não existe. Pelo contrário há uma responsabilização directa, diria mesmo um contrato directo entre eleitor e eleito. Todavia, a crise – embora menos pungente que em Portugal – a nível do sistema político existe. Daí que, a tal profissionalização não colhe. Há outros motivos. E, de facto, num país como o nosso, ainda clientelar e caciquista, tal profissionalização só pode ter efeitos ainda mais perniciosos. Levaria, com firme certeza, à instalação de um carreirismo político militante, que agravaria as já nefastas consequências do distanciamento dos cidadãos da vida política. Sobretudo, quando nos defrontamos com o fenómeno da perpetuação dos dinossauros autárquicos. A par com o efeito, sempre pernicioso, de uma comunicação social que, como Rangel, clarividentemente refere, substitui o papel de mediação e representatividade dos políticos na relação entre o Poder e os cidadãos.


No Público, hoje, vêm dois pertinentes artigos e curiosamente complementares na sua análise: o de Paulo Rangel e o de Rui Ramos. Com um móbil distinto, acabam por se referir a um mesmo fenómeno: à crise do sistema político. Rui Ramos reconduz, muito redutoramente ( e tendo como referência o caso Carrilho), a questão à pouca profissionalização da classe política, mormente, aqueles que ascendem a altos cargos executivos no topo da Administração, ou seja, no Governo. Dando um tom mais impressivo e concreto, arremessa-nos com o sistema político inglês, “em que entra no governo quem for deputado e em que para ser deputado é preciso disputar directamente uma eleição pessoal” enquanto por cá é bastante “o patrocínio do primeiro-ministro (…)para acesso ao governo”. Conclui defendendo que “uma classe política profissional e experimentada não significa necessariamente uma diminuição dos poderes dos cidadãos”. Ora, já Paulo Rangel, numa perspectiva mais profunda, faz o diagnóstico da crise do Parlamento, enquanto o órgão, por excelência, onde repousa o princípio representativo. Curiosamente, e ao arrepio de Rui Ramos, refere o exemplo inglês – como paradigma de governo parlamentar – como evidência da referida crise do Parlamento.Ora, de facto, em Inglaterra, cada deputado é escolhido pelo seu círculo uninominal. São políticos profissionais e que prestam contam directamente aos seus eleitores. A lógica de listas “anónimas” aos olhos do eleitorado não existe. Pelo contrário há uma responsabilização directa, diria mesmo um contrato directo entre eleitor e eleito. Todavia, a crise – embora menos pungente que em Portugal – a nível do sistema político existe. Daí que, a tal profissionalização não colhe. Há outros motivos. E, de facto, num país como o nosso, ainda clientelar e caciquista, tal profissionalização só pode ter efeitos ainda mais perniciosos. Levaria, com firme certeza, à instalação de um carreirismo político militante, que agravaria as já nefastas consequências do distanciamento dos cidadãos da vida política. Sobretudo, quando nos defrontamos com o fenómeno da perpetuação dos dinossauros autárquicos. A par com o efeito, sempre pernicioso, de uma comunicação social que, como Rangel, clarividentemente refere, substitui o papel de mediação e representatividade dos políticos na relação entre o Poder e os cidadãos.

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